Os mercados reagiram de forma positiva à eleição do presidente norte-americano. Mas as tarifas recíprocas - que devem começar a ser implementadas esta quarta-feira - foram um ponto de viragem na confiança dos mercados. "Ninguém esperava este tsunami de tarifas e protecionismo", diz economista.
Quando Donald Trump venceu as eleições presidenciais de 5 de novembro passado os mercados sorriram à eleição. Trump vem de um passado empresarial, tem fama de ser um empresário de sucesso e favorável à iniciativa privada e à pouca intervenção estatal. Em janeiro, depois de ser indigitado presidente, os mercados alegraram-se ainda mais. Mas nos últimos três dias o presidente norte-americano tornou-se o pior inimigo das bolsas internacionais e prepara-se para ser um carrasco do mercado global, defendem economistas.
AP Photo/Seth Wenig
Durante a campanha Trump prometeu favorecer os combustíveis fósseis ("drill, baby, drill"), era descrito como um impulsionador de Wall Street e das criptomoedas. E por isso quando se soube que tinha vencido Kamala Harris na corrida à Casa Branca os mercados reagiram positivamente. Em janeiro o sentimento era ainda positivo, mas passadas três semanas começou a incerteza sobre o futuro já que Trump ameaçou tarifas - que devem entrar em vigor esta quarta-feira - e mudou o seu discurso sobre o Médio Oriente e a guerra na Ucrânia.
"A verdade é que nos primeiros meses de Trump se desvalorizou as ameaças de tarifas e de protecionismo porque ele afirmava ser pró-empresas e iniciativa privada. Prometeu uma economia menos intervencionada pelo estado, mas uma economia com estas tarifas é, inegavelmente, intervencionada", defende Óscar Afonso, presidente do Conselho Consultivo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
O dólar continuou a ganhar terreno nos primeiros meses de Trump, mas houve também alguns recuos e até mesmo inversões de tendência noutros ativos. Um deles foi o petróleo que tem vindo a cair. E no início de abril foi a altura de Wall Street começar a colapsar. As medidas protecionistas promovidas por Trump e as tarifas alfandegárias adicionais que tem vindo a impor têm feito recear pelo crescimento económico em geral e pelo desempenho das empresas em particular, especialmente nos setores que poderão ser mais impactados pela queda das receitas e lucros – como o automóvel, tecnológico ou siderúrgico.
E 7 de abril foi um dia histórico (e não pelos melhores motivos). "Não quero que nada se estrague. Mas, às vezes, é preciso tomar um remédio para resolver alguma coisa", afirmou o presidente dos Estados Unidos, citado pela CNN, após afirmar que não sabe para onde vão as bolsas que passaram a segunda-feira no vermelho em resposta às tarifas. E a pouca abertura de Trump a negociar as taxas desmentiu a teoria de que estava pronto para negociar.
António Nogueira Leite, antigo presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores de Lisboa e professor na Nova SBE, diz que em janeiro houve uma "grande euforia nos mercados porque se achava que alguns problemas dos EUA iam ser atalhados". "Mas ninguém estava à espera deste tsunami de tarifas e protecionismo", defende Nogueira Leite, referindo-se aos resultados da bolsa de segunda-feira.
"O mundo cresceu sempre quando houve abertura global", explica Óscar Afonso, prevendo tempos de crescimento mais baixo ou até de recessão global. "E apesar de haver produtores que vão sair a ganhar com estas tarifas, a verdade é que os consumidores vão sair a perder", explica, referindo ainda que a redução do preço da gasolina é sinal disso. "Se não houver aumento da oferta, o que existe é menos procura, o que significa que os americanos tiveram de apertar o cinto", diz o economista.
Trump defendeu que estava apenas a responder de forma proporcional e é verdade que muitos países impõem tarifas sobre as exportações americanas muito superiores às que os EUA impõe sobre as importações desses países. Mas a decisão de aplicar tarifas alfandegárias tem também como objetivo eliminar todos os défices comerciais dos EUA com cada país de forma a angariar receita para combater o défice interno e trazer empregos para os EUA. E como explica António Nogueira Leite, quando alguns ganham, outros têm de perder e na opinião do economista, serão os Estados Unidos os que têm mais a perder.
"Tal como houve quem tivesse perdido com a abertura global do comércio - e foram esses que motivaram o aparecimento de Trump -, houve quem ganhasse e o mesmo vai acontecer agora. Mas de forma global, vamos ficar a perder", conclui Nogueira Leite.
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