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Na MEO, milhares de alarmes fizeram ativar uma equipa de gestão de crise com 100 pessoas. No Continente houve lojas a fechar momentaneamente para abastecer os geradores - e uma corrida ao carvão. Para os conseguir abastecer, a GALP fechou os postos e só vendeu combustível a clientes prioritários.
Foram precisas mais de seis tentativas de arranque para que a eletricidade começasse a regressar a Portugal. E esses foram momentos particularmente tensos em Sacavém, o local onde uma equipa da REN geriu - a partir de três salas diferentes - a crise energética que fez apagar a luz em Portugal. A primeira dessas salas é o chamado centro de despacho, onde uma espécie de tela gigante (umvídeo wall) mostra a cada segundo o que se passa com a rede e as infraestruturas de todo o País. É aqui que se assegura que a produção e o consumo de energia elétrica estão em equilíbrio - o que deixou de acontecer ontem, às 11h33.
Sérgio Lemos/Correio da Manhã
"O despacho nunca está vazio, tem sempre uma equipa em funcionamento, que ontem foi sendo reforçada. Havia pelo menos três a quatro pessoas em permanência lá dentro", diz àSÁBADOuma fonte que acompanhou o processo. Os outros membros da equipa (que também circulavam por ali) dividiram-se entre a sala de crise, que foi aberta de imediato, e uma segunda sala de reuniões, ambas com vista para este centro. "O despacho tem um pé direito duplo, uma espécie de mezanino, e estas duas salas têm ambas uma parede de vidro que permite acompanhar o que se passa lá dentro", diz a mesma fonte.
A divisão foi intencional: era preciso evitar grandes concentrações e permitir a circulação fácil entre estes três espaços, até porque vários membros da equipa entravam e saíam do despacho. Dentro da sala de crise estava, por exemplo, João Faria Conceição, o administrador responsável pelas operações e um dos gestores (houve vários) que saiu da sede para Sacavém. Foi uma das pessoas que recebeu o primeiro-ministro, Luís Montenegro, que também se deslocou a Sacavém. E um dos gestores que acompanhou as tentativas de arranque dos sistemas nas centrais da Tapada do Outeiro e de Castelo de Bode.
Aqui dentro, a luz nunca faltou: os geradores foram sendo reabastecidos ao longo das quase 12 horas que demorou a repor a eletricidade em topo o País - para isso, terá sido necessário deslocar combustível da margem Sul. Também ninguém saiu do edifício - a equipa recebeu comida dentro das salas - e as comunicações foram asseguradas de várias formas, nomeadamente através da REN Telecom, uma rede interna da empresa.
Foi assim que vários colaboradores que estavam de prevenção foram chamados ao trabalho. "Toda a infraestrutura da REN que funciona habitualmente em modo automático, como as subestações, passou a ter que funcionar de forma manual", explica a mesma fonte. Para estas equipas, as deslocações são geralmente curtas: os trabalhadores já estão nas zonas de influência das infraestruturas.
O período crítico durou até às 23h30: a partir daí a empresa manteve uma equipa reforçada, mas houve várias pessoas que começaram a sair. Na MEO, o período crítico terminou uma hora antes. Mas, até aí, foram mobilizadas várias equipas de supervisão, que trabalham por turnos para assegurar as 24 horas do dia.
"Abrimos a sala de crise uns minutos após o apagão e trabalhámos sempre com equipas presenciais e remotas. Fisicamente tínhamos 20 pessoas na sala de crise, mais 80 pessoas a trabalhar remotamente a partir de diferentes geografias", explica àSÁBADOManuela Coutinho, responsável pelooperation centerda empresa. "Tínhamos reuniões de ponto de situação da sala de crise de três em três horas, aproximadamente", acrescenta. Era nestas reuniões que alinhavam as estratégias a seguir.
Primeiro sinal de crise? "Quando os nossos equipamentos de alarmística começaram a debitar milhares de alarmes e percebemos que se tratava de uma falha grave. Não sabíamos inicialmente se afetava também a Madeira e os Açores, mas rapidamente percebemos que não", diz ainda. Estes alarmes não são sonoros, mas surgem nos computadores dos funcionários que estão autorizados a recebê-los. E nosdashboards(painéis visuais) de acompanhamento, que estão na sede, em Picoas. Foi aliás na sede que a equipa de crise se reuniu sempre presencialmente.
A esta empresa cabia assegurar que os clientes mais críticos não tinham falhas de redes. E entre os mais críticos de todos - em qualquer tipo de crise - estão o 112 e o SNS24. Essa é, aliás, uma das primeiras medidas a tomar: depois de declarar a crise, a empresa parametriza logo os clientes prioritários, porque há prioritários mais críticos que outros. Para ter uma ideia: é possível ter rede apenas num determinado local (na Medialivre, dona da SÁBADO, havia rede dentro do edifício) ou ter a chamada redundância geográfica e de equipamentos (no caso do INEM, por exemplo, é prioritário haver sempre rede). Dentro da MEO, também nunca se perdeu o contacto com a Proteção Civil e com a ANACOM.
O facto de haver rede em alguns edifícios também motivou pequenos ajuntamentos. E se no caso da MEO houve trabalhadores a rumarem a locais onde sabiam estar comunicáveis, também houve consumidores a fazer o mesmo. Por volta das oito da noite, por exemplo, cerca de 50 pessoas juntavam-se à porta do Continente da Av. Almirante Gago Coutinho, em Lisboa. A loja já estava fechada, mas a rede wifi continuava a funcionar e houve quem aproveitasse para contactar familiares e amigos em países onde a eletricidade não faltou. Outros tentavam ver notícias e perceber as previsões da retoma de luz no País.
Durante a maior parte do dia, a loja da Gago Coutinho manteve-se aberta. Não foi a única, garante o Continente. "A larga maioria das lojas manteve-se aberta e em funcionamento", lê-se num comunicado da empresa, "com interrupções pontuais para reabastecimento dos geradores." O mesmo disse Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) ao Observador sobre os associados: "Pelo levantamento que fizemos, entre 80% e 85% das lojas estiveram abertas."
No Continente, as compras registaram um pico, que se sentiu sobretudo em alguns produtos: "água engarrafada, enlatados, pão industrial, carvão, pilhas e lanternas". As entregas em casa também não foram interrompidas - a empresa assegurou 80% dos serviços, os restantes foram reagendados para as próximas 48 horas - e em Reguengos de Monsaraz, Évora, os frigoríficos do Continente tiveram uma utilização adicional: foi para lá que foram enviadas vacinas e medicamentos em risco de deterioração.
"Levámos as vacinas do centro de saúde para guardar no [supermercado] Continente, porque é o que tem o gerador de maior alcance, conseguia garantir 48 horas ou até mais [de refrigeração] com o combustível que tinham", disse Marta Prates, presidente da Câmara, à agência Lusa.
Para garantir que o combustível continuava a chegar aos geradores dos clientes prioritários, como a REN, os hospitais e muitos outros, a Galp fechou todos os postos de abastecimento. Antes das 13h já não era possível abastecer combustível em vários postos da empresa em Lisboa. Uma missão que a empresa explicou depois ser de facto impossível: para garantir que não faltava combustível para responder a situações de emergência, a Galp, em articulação com o Conselho de Ministros, decidiu fechar todos os postos a veículos não prioritários, confirmou fonte da empresa àSÁBADO.
À hora a que este artigo foi escrito, as salas de crise ainda estavam em funcionamento: apesar da situação estar praticamente normalizada as empresas continuavam a acompanhar a crise energética.
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