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O fim de Messi e CR7, os novos melhores do mundo e um FC Porto bipolar

Carlos Torres
Carlos Torres 13 de março de 2021 às 13:30
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Depois do desaire na Champions e das críticas ao seu desempenho, irá Ronaldo descarregar a sua frustração frente ao Cagliari? Serão Mbappé e Haaland os novos candidatos ao trono do futebol mundial? E que FC Porto teremos frente ao Paços de Ferreira: o que tem feito sucesso na Europa ou o que desperdiça pontos no campeonato?

Messi e Cristiano Ronaldo out, Mbappé e Haaland in. É esta a nova ordem mundial. O craque argentino e o astro português ganharam 11 das últimas 12 Bolas de Ouro para melhor jogador e dominaram o futebol mundial, mas os seus reinados parecem estar a entrar no ocaso. Um sinal disso: desde 2005 que havia sempre um deles nos quartos de final da Liga dos Campeões, mas agora isso não se concretizou, com o afastamento da Juventus frente ao FC Porto e do Barcelona aos pés do Paris Saint-Germain.

Em Itália, as ondas de choque da eliminação da Juventus provocaram um tsunami que ainda não passou. Há poucos meses, ou mesmo semanas, Ronaldo enchia as capas dos jornais italianos por parecer eterno apesar dos seus 36 anos - e também porque carregava a equipa às costas. CR7 foi decisivo na Liga dos Campeões (é preciso não esquecer que a 8 de dezembro a Vecchia Signora foi ganhar 3-0 ao terreno do Barcelona, com Ronaldo a marcar por duas vezes). E também na Taça de Itália (o apuramento para a final, conseguido à custa do Inter de Milão, foi obra de Ronaldo e dos seus dois golos).

E mesmo no campeonato, onde a equipa segue em 3º lugar, a 10 pontos do líder Inter e a 4 do Milan (e ainda com um jogo em atraso), Ronaldo tem feito a diferença. Leva já 20 golos em 22 jogos, liderando a lista de melhores marcadores, à frente de Lukaku, do Inter, com 18 em 25 jogos (no total da época, Ronaldo soma 27 golos em 32 jogos). E também tem anotado golos importantes, que valeram, por si só, oito pontos – isto é, sem os golos decisivos de CR7, a Juventus seguiria no 7º lugar.

A Juventus somou o terceiro fracasso seguido na Liga dos Campeões, todos desde que Ronaldo se mudou para Turim. Foi eliminada sempre nos oitavos de final, primeiro pelo Ajax, depois pelo Lyon e agora pelo FC Porto – isto é, por equipas da segunda linha europeia, se comparados com tubarões como Real Madrid, Barcelona, Bayern Munique ou os clubes inglesas.

Resta a final da Taça de Itália e o campeonato, sendo que dificilmente a Juventus será campeã. Para já, este domingo, é bem possível que Ronaldo e & se desforrem do desaire europeu (e das muitas críticas ao mau desempenho) frente ao Cagliari, equipa que luta para não descer de divisão (está dois pontos acima da linha de água).

Em Itália, esta semana o debate foi sobre se valeu a pena o investimento feito em Ronaldo, que ganha 31 milhões de euros por época (mais do que os quatro colegas de equipa que se seguem a ele na lista dos mais bem pagos – De Ligt, que recebe 7,5 milhões de euros, e Dybala, Ramsey e Rabiot, com 7 milhões).

"Ronaldo foi uma compra errada. É um grande campeão, mas é demasiado caro. Pagam-lhe um milhão de euros por cada golo marcado. Para mim, deveriam libertá-lo no final da época", referiu à rádio Punto Nuovo Giovanni Cobolli, antigo presidente da Juventus.

A verdade é que ainda antes da partida com o FC Porto, o diretor desportivo da Juventus, Fabio Paratici, admitia a possível saída de CR7 no final da época. "Cristiano tem a carreira na mão. Quando tens estes grandes jogadores na equipa, sabes que eles decidem sair e ter outra experiência. Tens de respeitar essa decisão. Estamos aqui para cumprir o contrato [até 2022] e ver como estará no próximo ano e como se sentirá para continuar ou não".

Se sair, qual será o destino de Ronaldo? O jornal Tuttosport aponta o Manchester United (onde ele iniciou a carreira internacional, em 2004) como um dos grandes pretendentes, surgindo Pogba como um dos principais facilitadores da negociação (o francês é um desejo antigo da Juventus). Outra possibilidade seria o PSG, clube com enorme capacidade financeira e onde CR7 poderia fazer um tridente ofensivo incrível, com Mbappé e Neymar. Ou então para colmatar a saída de Mabappé para o Real Madrid, como se especula em Espanha.

O jornal Corriere dela Sera avança que o PSG "pode dar-se ao luxo de realizar um acordo para além do campo, tornando Ronaldo embaixador do Mundial 2022, no Qatar". Voltar ao Real Madrid também seria uma possibilidade, mas Ronaldo não parece muito inclinado para isso, depois de se ter sentido pouco acarinhado pelo presidente Florentino Pérez – e o próprio clube também parece mais interessado em apostar em alguém mais jovem, como Mbappé ou Haaland.

Mbappé e Haaland: como se diz futuro em norueguês?

Kylian Mbappé, de 21 anos, e Erling Haaland, de 20, são mesmo os craques do futuro. O norueguês surgiu como um cometa nórdico e não para de bater recordes, tendo ultrapassado todas as marcas de precocidade de Messi e Ronaldo. Na passada terça-feira, ao fazer os dois golos com que o Borussia Dortmund eliminou o Sevilha, na Liga dos Campeões, Haaland chegou aos 20 na prova. A questão é que o avançado conseguiu-o em apenas 14 jogos, quando Messi havia precisado de 40 e Ronaldo de 56.

Também nesse jogo, Haaland tornou-se o melhor marcador norueguês de sempre na Liga dos Campeões, ultrapassando os 19 golos de Solskjaer, atual treinador do Manchester United, que atingiu esse número em 77 jogos. Na Liga dos Campeões, e seguindo a média atual, o avançado do Borussia Dortmund chegaria aos 135 golos em 2033/34 (34 anos), ultrapassando o recorde de CR7 (134). Mas, claro, é bem possível que Haaland aumente esta média, até pela hipótese de ir para um clube com mais poder ofensivo, como Barcelona ou Real Madrid. E basta ver que com 20 anos Messi tinha feito apenas dois golos na Champions e Cristiano Ronaldo ainda estava em jejum.

Haaland foi também bem mais rápido que Messi e Ronaldo a chegar aos 100 golos na carreira: conseguiu-o na semana passada, ao fim de 146 jogos. Já Mbappé precisou de 180 partidas, Messi de 210 e Cristiano Ronaldo de 310.

O craque norueguês leva já 31 golos esta época (em 29 jogos, em todas as provas), contra os 26 de Mbappé (33 jogos). Aliás, Haaland é responsável por 38% dos golos do Borussia Dortmund, enquanto Mbappé fez 28% dos golos dos parisienses. Haaland, contudo, ainda não tem um grande currículo, uma vez que apenas ganhou dois campeonatos e duas taças da Áustria (nas duas épocas em que esteve no Red Bull Salzburgo). Já Mbappé, ganhou pelo PSG quatro campeonatos, duas taças, duas supertaças e duas taças da Liga de França, além de ter sido campeão mundial pela seleção francesa.

Filho de um camaronês e de uma argelina, Mbappé cresceu em Bondy, nos arredores de Paris. Começou a jogar no clube local e em 2013, com 14 anos, mudou-se para o Mónaco. Estreou-se na I Liga francesa a 2 de dezembro de 2015, frente ao Caen, com apenas 16 anos e 347 dias (bateu o recorde de Thierry Henry no Mónaco). Vendido ao PSG por 180 milhões de euros, em 2017, Mbappé faz da velocidade a sua arma, atacando sobretudo a partir de uma faixa lateral.

Quanto a Haaland, é filho do ex-futebolista Alf-Inge Haaland, e estreou-se no futebol nos noruegueses do Bryne, apesar de em miúdo também ter praticado andebol, golfe e as modalidades técnicas do atletismo. Depois de ter marcado 18 golos em 14 jogos na equipa B do Bryne, com 15 anos foi promovido à equipa principal, tendo-se estreado pelos séniores, na II Liga da Noruega, com 15 anos e 10 meses. O ponta de lança é um finalizador nato, mas também tem grande mobilidade e agilidade, apesar da sua altura (1,94 m), o que o torna parecido com Ibrahimovic.

Dimitar Berbatov, antigo avançado do Manchester United e Mónaco, defende que Mbappé "é o nº 1 para ganhar a Bola de Ouro este ano, pelos golos que marca e pela visão de jogo que tem".

Jorge Valdano também admite que Mbappé e Haaland vão marcar uma década, mas "não terão o mesmo impacto de Cristiano Ronaldo e de Messi".

Já Pelé, não poupou nos elogios a Mbappé: "Tem tudo para ser o meu herdeiro. Revejo-me na forma veloz como joga. É um avançado que pensa depressa. Ele sabe o que fazer assim que a bola lhe chega. Além disso, é muito rápido a correr e a driblar, tal como eu".

Este sábado, na Liga alemã, o Borussia Dortmund (6º) recebe o Hertha Berlim (15º), e em caso de vitória poderá tentar ficar mais perto dos lugares de acesso à Liga dos Campeões, até porque Eintracht Frankfurt (4º) e Leipzig (2º) jogam entre si. Quanto a Haaland, poderá aproveitar para se aproximar mais do líder dos goleadores, o polaco Lewandowski, do Bayern Munique, que segue na liderança com 31 golos em 23 jogos (Haaland e o português André Silva estão em 2º, com 19).

Já em França, Mbappé e o PSG até podem acabar o fim de semana na liderança, caso vençam no domingo o Nantes (penúltimo classificado), e tendo em conta que o líder, o Lille, pode perder pontos na complicada deslocação ao Mónaco.

Portugal: o passeio do leão e o FC Porto bipolar

O que têm em comum estas parelhas: Chiellini e Marco Baixinho; Cuadrado e Léo Andrade; Kevin de Bruyne e Ricardo Esgaio; Sterling e Galeno; Ferrán Torres e Rodrigo Pinho; Cristiano Ronaldo e Stephen Eustáquio; Morata e Yohan Tavares; Dybala e Douglas Tanque; Bernardo Silva e David Carmo; Aguero e Luther Singh; Chiesa e Abel Ruiz; João Cancelo e Salvador Agra; Ramsey e Lucas Áfrico, Rabiot e Lucas Piázon?

Bom, são jogadores das seis equipas que em 2020/21 já marcaram três golos ao FC Porto, que continua a fazer uma temporada atípica no que respeita a golos sofridos, com 39 em 39 jogos. Frente à Juventus, e apesar do estrondoso êxito de eliminar a campeã italiana (que ganhara nove campeonatos nos últimos nove anos), a equipa voltou a encaixar três golos.

Se até se pode considerar "normal" sofrer três golos contra a Juventus (até porque houve prolongamento e os dragões aguentaram 75 minutos com 10 jogadores, após a infantil expulsão de Taremi por pontapear uma bola depois de o árbitro ter apitado), a verdade é que nas provas domésticas isso já aconteceu por quatro vezes.

Os maus resultados defensivos começaram logo à 3ª jornada do campeonato, com a derrota (3-2) em casa frente ao Marítimo (e Alex Telles a falhar um penálti mesmo no fim). Seguiu-se novo desaire pelo mesmo score à 6ª jornada, em Paços de Ferreira. Já depois do 3-1 em Inglaterra, frente ao Machester City, na Liga dos Campeões (que também não é escandaloso), o FC Porto voltou a sofrer três golos, mas agora numa vitória (4-3) frente ao Tondela, na I Liga (e os beirões atiraram uma bola à barra nos descontos). Já a 3 de março, nova derrota (3-2) no estádio do Dragão, contra o Sp. Braga, agora para a Taça de Portugal (e com os bracarenses a chegarem aos 3-0 aos 28 minutos, tendo aguentado sem perder apesar de terem ficado com 10 aos 35 minutos).

Este descalabro defensivo tem mais números, pois o FC Porto também já soma seis jogos a sofrer dois golos. Desses, quatro terminaram em desaires: empate com o Sporting, para o campeonato, e derrota, com os leões, na Taça da Liga; empates em Braga e em casa frente ao Boavista, para o campeonato. Nas outras duas ocasiões, o FC Porto ganhou 3-2 em Guimarães (campeonato) e 4-2 no campo do Nacional da Madeira (Taça de Portugal, após 2-2 nos 90 minutos).

Este é, pois, um FC Porto de duas caras, que é capaz de perder e empatar, no Dragão, com Marítimo e Boavista (sofrendo cinco golos nos dois jogos), e depois faz uma fase de grupos da Liga dos Campeões excelente, tendo apenas sofrido golos na derrota (3-1) contra o Manchester City, e vencendo duplamente Marselha e Olympiacos com a baliza inviolada – além, claro, de ter ultrapassado a Juventus nos oitavos de final, com excelentes exibições a nível defensivo tanto no jogo do Dragão (vitória por 2-1) como na 1º parte em Turim (chegaram ao intervalo a vencer por 1-0).

O jogo com o Paços de Ferreira (domingo, às 20h), vai mostrar que FC Porto? O da Champions ou o do campeonato, que tem desperdiçado pontos atrás de pontos e segue no 3º lugar, a 10 pontos do líder Sporting?

A luta pelo 2º lugar – que dá acesso direto à Liga dos Campeões e um prémio de 40 milhões de euros - parece ser, por agora, a mais interessante de acompanhar, com o Sp. Braga (vai ao campo do Famalicão, na segunda-feira), a tentar manter essa posição, que lhe poderá dar, além dos milhões da Champions, a hipótese de igualar a melhor classificação dos arsenalistas (ficaram em 2º lugar em 2009/10, com Domingos Paciência como treinador).

Quem também está de olho no 2º lugar é o Benfica, o 4º classificado, a quatro pontos do Sp. Braga e a três do FC Porto. O jogo com o Boavista (sábado, 18h), irá mostrar se a retoma encarnada (três vitórias consecutivas nos últimos jogos), é mesmo uma realidade, depois das limitações físicas causadas pelo surto de Covid-19, que deixou sequelas nos jogadores, como cansaço e dores musculares, conforme asseguraram Jorge Jesus e Luís Filipe Vieira.

Quanto ao líder Sporting, que tem feito do campeonato um passeio (tem 18 vitórias e quatro empates, dois deles frente ao FC Porto), tem este sábado uma deslocação algo complicada, ao terreno do Tondela, que segue no 10º lugar, cinco pontos acima da linha de água.

Os leões vão para a Beira Alta de orgulho ferido, depois da polémica com a queixa feita pela Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), que alega fraude na inscrição de Rúben Amorim como treinador principal (uma vez que ainda não tem o exigido nível IV), que a provar-se poderá levar a uma sanção de um a seis anos de suspensão.

Na sexta-feira, na antevisão do jogo, o treinador dos leões abordou o assunto: "Posso garantir que não houve incumprimento. Estou de consciência tranquila, eu e o Sporting não tememos nada. A resposta a tudo isso é ganhar ao Tondela, é a melhor maneira de responder a tudo. Ganhando, está tudo bem".

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