Realizam-se 12.000 por ano em Portugal - uma intervenção que elimina a dor lombar, devolve a mobilidade e é feita também em jovens.
A colocação de prótese da anca foi considerada a cirurgia do século pela revista científicaThe Lancet. A intervenção trata o desgaste da cartilagem que faz rodar a cabeça do fémur numa das cavidades da bacia e permite o mais básico movimento humano: andar.
Getty Images
O título deve-se ao êxito da intervenção, a rondar os 80%, que substitui a articulação por um implante de titânio. E desengane-se se pensa que é uma cirurgia para maiores de 60 anos. "A doença afeta jovens, especialmente a partir da adolescência e início da vida adulta", explicou à SÁBADO, Filipe Oliveira, Coordenador da Unidade da Anca e Bacia do Hospital CUF Tejo.
Por que razão a cirurgia à anca é considerada a cirurgia do século?
A artrose da anca causa grandes limitações e sofrimento, afetando a qualidade de vida e a capacidade de trabalho de milhões de pessoas em todo o mundo. Por ser uma das principais articulações de carga do corpo, os seus problemas têm um impacto pessoal e profissional muito significativo. A prótese total da anca, quando realizada com os critérios adequados para o seu sucesso, tem resultados altamente fiáveis e consistentes. Os doentes recuperam mobilidade, aliviam a dor e voltam a uma vida ativa, o que representa um benefício enorme não só a nível individual, mas também para a sociedade.
O que provoca a artrose na anca?
A artrose na anca acontece quando a cartilagem — um tecido que reveste os ossos e permite que a articulação se mova suavemente — começa a desgastar-se. Esta cartilagem existe entre a cabeça do fémur e uma cavidade da bacia, chamada acetábulo, que juntos formam a articulação da anca.
É uma doença relacionada com o envelhecimento?
Nem sempre. A maioria das vezes, é causada por problemas mecânicos, ou seja, alterações da morfologia óssea que condicionam o normal funcionamento da anca. Um desses problemas é a displasia da anca, que acontece quando a bacia não se desenvolve corretamente. Isso causa instabilidade na anca e faz com que a cartilagem se desgaste mais depressa. Outro problema surge quando a cabeça do fémur tem uma forma não esférica e faz com que os dois ossos entrem em conflito durante o movimento da articulação. Outras causas possíveis incluem doenças inflamatórias como o reumatismo, fraturas na anca, ou problemas de circulação que impedem o osso de receber sangue suficiente, o que pode levar à morte do tecido ósseo.
Quais são os sintomas?
Os doentes com artrose da anca desenvolvem uma dor na zona da virilha — que, muitas vezes, pode irradiar pela face anterior da coxa até ao joelho. A dor na região lateral da anca pode ser uma queixa inicial. Esta resulta do maior esforço exigido aos glúteos para movimentar uma articulação com perda progressiva de cartilagem. A dor é frequentemente acompanhada por uma perda gradual de mobilidade da anca, como, por exemplo, a dificuldade progressiva em chegar aos pés para realizar atos simples, como calçar uma meia ou um sapato.
As dores lombares também são um sintoma?
A anca e a coluna lombar são dois segmentos do corpo que funcionam em íntima colaboração. A aquisição da posição ereta, ao longo da evolução humana, implicou uma rotação de todo o tronco sobre as cabeças do fémur, originando as curvaturas normais da coluna vertebral. Andar, sentar ou apanhar algo do chão são atividades rotineiras, mas que dependem de uma complexa sinergia entre a anca e a coluna lombar. O desenvolvimento progressivo de artrose da anca provoca uma sobrecarga crescente na coluna lombar, que passa a assumir funções que a anca deixa de conseguir cumprir. Isso pode levar ao aparecimento de dor lombar, seja por simples sobrecarga, seja pelo desenvolvimento de hérnias discais ou outras patologias degenerativas da coluna.
Qual o impacto na vida dos pacientes?
A dor e a perda de mobilidade resultantes da artrose podem causar uma incapacidade significativa em adultos em fase ativa da vida. O doente pode apresentar queixas associadas a atividades desportivas - especialmente as de impacto, como a corrida, ou que envolvam grandes amplitudes de movimento, como agachamentos repetidos. Progressivamente, a dor começa a manifestar-se em atividades simples do dia a dia, e movimentos rotineiros, como entrar e sair do carro. Sendo a maior articulação de carga do membro inferior, o impacto da artrose da anca no bem-estar pessoal e profissional é frequentemente muito expressivo e incapacitante. Atividades simples como vestir, caminhar e entrar ou sair do carro podem ficar muito limitadas em doentes com artrose da anca.
Quando é que as pessoas devem recorrer ao médico?
A dor associada ao movimento articular é sempre um sinal de alarme. Na ausência de um trauma e, principalmente, se as queixas forem prolongadas e progressivas, a avaliação numa consulta de ortopedia é mandatória. A presença de dor na região inguinal, com ou sem irradiação ao joelho, é um sintoma muito comum e bastante específico que deve fazer as pessoas pensar na necessidade de recurso a uma consulta, junto de um profissional diferenciado em patologia de anca.
Também afeta pacientes jovens?
Sim, especialmente a partir da adolescência e início da vida adulta. Nestes casos, a causa costuma estar relacionada com alterações no desenvolvimento ósseo, como a displasia da anca, que acontece durante o desenvolvimento intra-uterino. Isso provoca uma instabilidade crónica da anca e um consequente desgaste precoce. O conflito fémoro-acetabular surge geralmente no final da adolescência, quando a cabeça do fémur termina o seu desenvolvimento com um formato ovoide que causa um atrito anormal e acelera o desgaste da cartilagem.
Há tratamento não-cirúrgico?
Quando a artrose está no início e ainda não houve desgaste completo da articulação, existem várias opções de tratamento que podem ajudar a desacelerar o progresso da doença. É importante reduzir atividades que prejudiquem a articulação, como aquelas que envolvem grande impacto, como a corrida, ou movimentos que forcem ao máximo a articulação, como agachamentos. A fisioterapia pode ser muito útil para aliviar dores e melhorar a mobilidade, especialmente no caso de contraturas musculares e problemas nos tendões, que surgem como consequência da artrose. Em alguns casos, infiltrações de corticoides podem ajudar, especialmente em casos de artrose de causa inflamatória. Além disso, há também tratamentos com fatores de crescimento e ácido hialurónico, que têm mostrado algum benefício, embora os resultados ainda não sejam consistentes para a anca.
Quando é recomendada a cirurgia?
A cirurgia pode ter indicação na fase pré-artrose e a cartilagem do adulto jovem ainda não está danificada. Neste contexto, as cirurgias denominam-se cirurgias conservadoras da anca porque tem por objetivo modificar a morfologia óssea da cavidade acetabular na bacia ou do fémur proximal para interromper a instabilidade ou o conflito que levam à perda de cartilagem. Quando a cartilagem já está danificada, não há lugar para a cirurgia conservadora da anca e, nesse caso, a cirurgia indicada é uma prótese total da anca.
Como se processa a cirurgia com prótese total?
Nesta cirurgia pretende-se substituir a articulação danificada por um implante que procura reproduzir a anatomia original do doente. É preparada a bacia para implantar o componente acetabular e depois o fémur para implantar o componente femoral. Estes dois componentes, denominados "fixos", articulam-se através de dois componentes articulares móveis.
De que material são feitas as próteses?
Os componentes fixos podem ser cimentados ou não cimentados, significando neste último caso que ocorre uma fixação biológica do osso do doente à superfície do implante. Estes componentes são habitualmente ligas de titânio poroso, que no lado femoral são cobertas por hidroxiapatite. Relativamente aos componentes articulares tradicionais podem ser de metal-polietileno, cerâmica-polietileno ou cerâmica-cerâmica. Existem hoje opções que pretendem combinar as qualidades da cerâmica e do metal, de que o Oxinium é exemplo.
Qual é a duração das próteses?
A substituição de uma prótese pode ser necessária sempre que exista desgaste dos materiais ou complicações associadas à prótese. Algumas das complicações que podem obrigar a uma substituição precoce da prótese incluem: luxação (quando a prótese sai do lugar), fratura e infeção. A longo prazo, a razão mais comum para fazer uma cirurgia de revisão é o desgaste dos componentes da prótese. Hoje em dia, uma prótese colocada segundo os parâmetros adequados e usada de forma adequada pelo doente pode ter longevidade de 20 a 25 anos.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.
Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.