A infeção propaga-se em comunidades que não são vacinadas, por variadas razões, mas uma aposta em campanhas de vacinação pode contrariar o aumento dos surtos. Especialistas defendem mais campanhas pela vacinação.
Recentemente a Direção Geral da Saúde (DGS) publicou um boletim epidemiológico retratando os casos de sarampo em Portugal no ano de 2024, tendo-se confirmado 35 casos ao longo, a maioria em crianças não vacinadas.
Tendo em conta que nos dois anos anteriores não foi detetado algum caso, esta subida causou algum receio. No entanto, este aumento não é único, por toda a Europa e nos Estados Unidos tem-se registado um aumento de surtos desta infeção, provenientes de pessoas não vacinadas. De acordo com uma análise da OMS e da UNICEF, foram registados 127.350 casos de sarampo na Região Europeia em 2024, o dobro do número de casos registados em 2023 e o número mais elevado desde 1997.
Nos Estados Unidos, nos três primeiros meses de 2025, verificaram-se cerca de 300 casos de sarampo, resultante de surtos multi-estatais, especificamente no Texas e Novo México, mais quinze do que no ano de 2024.
Dois especialistas lembram à SÁBADO que sendo uma infeção muito contagiosa é fácil que se propague com rapidez em grupos não vacinados. Jaime Nina, infeciologista, exemplifica: se uma pessoa infetada for colocada numa comunidade não protegida, "provoca entre 15 a 20 casos secundários", sendo mais contagioso do que a covid original que causava pouco mais de dois casos.
No entanto, a campanha de vacinação em Portugal fez com que "a maior parte da população esteja vacinada". O especialista estima que a taxa de vacinação esteja entre os 95% e os 97% do "público infantil", o mais suscetível a este tipo de infeção. No caso dos adultos, ou foram vacinados em criança, ou já tiveram sarampo durante a infância.
Manuel Carmo Gomes, professor de epidemiologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, confirma que só "estamos protegidos porque fomos vacinados ou porque já tivemos sarampo". Acrescentando que estes surtos podem resultar "de uma pessoa que vem de fora", de um país onde a cobertura vacinal para o sarampo é pequena ou até inexistente, "podendo originar pequenas cadeias de transmissão numa comunidade de pessoas não vacinadas".
Mas sendo que a maior parte das pessoas em Portugal estão vacinadas, "não passa disso" e não será caso para grande preocupação, garante. "Depois de infetar esse pequeno número de pessoas, não encontram mais pessoas para infetar porque estão rodeadas de pessoas que já estão vacinadas", explica Carmo Gomes.
Sendo a taxa de vacinação contra o sarampo tão alta em Portugal, Jaime Nina realça que o único "risco para a sociedade é poder haver pequenos surtos", mas mesmo que não esteja muito presente na sociedade, o que "dá algum descanso", não deixa de ser uma doença maligna, especialmente para pessoas com "imunodeficiência". Manuel Costa Gomes acrescenta ainda o perigo que constitui para mulheres "grávidas e pessoas que estão a fazer um tratamento com imunossupressores", relembrando que "não é uma doença com a qual se brinque".
Nos Estados Unidos, os casos que têm aparecido resultam das "coberturas de vacinação muito modestas" dos estados, explica o epidemiologista. No que toca à Europa, o que está em questão não são as campanhas de vacinação, mas sim "as comunidades que, por razões religiosas, ideológicas ou filosóficas não se vacinam", o que resulta em surtos a uma escala maior.
De forma a inverter a tendência anti-vacinas, é necessário apostar em mais campanhas de vacinação. "O medo vai desaparecendo porque deixou de haver a doença", aponta Jaime Nina, e como resultado as pessoas "não sentem a necessidade de se vacinar". O especialista relembra que quando apareceu o programa nacional de vacinação, o tema "era falado nas escolas primárias" e esses projetos deviam regressar, uma vez que é entre crianças que esta infeção mais se propaga.
Manuel Carmos Gomes afirma também que "com a cobertura vacinal estamos bastante descansados, mas não podemos baixar a guarda". É uma vacina, e foi uma campanha nos anos 90 de "extrema eficácia", mas "precisamos de manter a cobertura vacinal muito alta" para manter os números de casos baixos.
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