Em ofícios enviados à Inspecção-geral das Actividades em Saúde (IGAS) e à Inspecção-geral das Finanças, a que a agência Lusa teve acesso, o bastonário dos Médicos solicita a "realização de uma acção inspectiva ao Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN)", que integra o Santa Maria e o Pulido Valente, com o objectivo de "apurar eventuais irregularidades" no registo de horas de trabalho suplementar ou extraordinário dos médicos.
A Ordem recebeu informações de que o trabalho suplementar dos médicos, nomeadamente dos internos, é registado numa bolsa de horas que é "colocada a zeros" de dois em dois meses, desaparecendo as horas acumuladas.
Nas cartas a pedir as acções inspectivas, a Ordem refere dúvidas sobre a legalidade da bolsa de horas e diz que "o empregador público é obrigado a possuir e manter durante cinco anos" os trabalhadores que efectuaram trabalho suplementar, discriminando o número de horas prestadas e indicando o dia em que gozaram o respectivo descanso compensatório.
No entendimento da Ordem, isto não está a ser respeitado no hospital Santa Maria e no hospital Pulido Valente.
Aquando de uma visita ao Santa Maria, há cerca de duas semanas, o bastonário Miguel Guimarães havia já dito ter encontrado uma situação "muito grave" quanto à bolsa de horas extra cumprida pelos médicos internos, indicando que, ao fim de dois meses, essas horas acumuladas desapareciam do sistema.
"É uma situação muito grave e que coloca em causa a justiça de remuneração e da compensação do trabalho", afirmou na altura Miguel Guimarães.
Na mesma ocasião, o presidente do conselho de administração do centro hospitalar, Carlos Martins, indicou que a situação se deveu a um problema informático que já estaria resolvido, garantindo que os profissionais não seriam penalizados.
Mesmo depois desta argumentação, a Ordem dos Médicos manteve dúvidas quanto à situação da bolsa de horas e enviou, no início deste mês, os pedidos de uma acção inspectiva à Inspecção-geral das Actividades em Saúde e à Inspecção-geral das Finanças.