Um documento assinado pelo pai de da Vinci dá conta de uma escrava emancipada com o nome da suposta mãe do pintor. Carlo Vecce anunciou a sua descoberta ao mesmo tempo que lançou um romance sobre a vida desta mulher - "O Sorriso de Caterina".
Uma nota escrita pelo pai de Leonardo da Vinci em 1452 erecentemente descobertarefere que ele libertou uma escrava, de nome Caterina, e que esta pode ser a mãe do génio renascentista.
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O documento foi encontrado pelo professor de literatura italiana Carlo Vecce que sugeriu que a escrava em questão era mãe de Leonardo da Vinci. "Ela era uma escrava num mundo selvagem e fabuloso", diz o historiador italiano àSÁBADO. Essa foi também a premissa que deu origem a um romance escrito pelo italiano, que faz um relato fictício sobre a vida desta susposta mãe,O Sorrido de Caterina, lançado no passado dia 14 em Florença, e cuja primeira edição esgotou numa semana.
O romance aborda ainda os poucos factos da vida do artista nos quais historiadores concordam: da Vinci era filho ilegítimo fruto de uma relação que o seu pai teve com uma mulher de uma classe social inferior e que se chamava Caterina. A existência do documento assinado por Piero da Vinci foi agora revelada para coincidir com o lançamento da obra ficcional de Vecce.
Professor do Departamento de Estudos Linguísticos e Comparados da Universidade de Nápoles L’Orientale e estudioso de Da Vinci há três décadas, Carlo Vecce, de 63 anos, descobriu "por acaso" o ponto de partida para o livro, nos Arquivos do Estado em Florença. Tratava-se de uma carta de alforria, concedida a Caterina a 2 de novembro de 1452 (seis meses após o nascimento de Leonardo) e assinada pelo tal notário, Piero da Vinci - o pai de Leonardo. Dizia o seguinte em latim: "Filia Jacobi eius schlava sue serva de partibus Circassie." Traduzido, significa algo como a filha de Jacob era uma escrava ou serva das partes da Circássia. Portanto, uma estrangeira vinda da região do Cáucaso (hoje Rússia meridional).
O autor encontrou o manuscrito há mais de cinco anos e decidiu dar-lhe enredo, porque o conteúdo do mesmo era "árido". Aventurou-se assim na escrita do seu primeiro romance histórico, tendo Caterina como protagonista. "Este livro é sobre ela, não sobre Leonardo. Quase tudo é verdade: documentos, fontes históricas, nomes de lugares e personagens. A ficção serve para ligar as histórias e integrar os elos perdidos", explica.
Caterina conheceu, de facto, Piero "no palácio florentino [atualmente o Museu do Galileu], onde a sua patroa [Ginevra D’Antonio Redditi] a enviara como enfermeira", conta o autor. Teria 15 anos e fora comprada na qualidade de escrava por um comerciante têxtil, Donato di Filippo di Salvestro Nati. Trabalhava para a mulher deste, Ginevra d’Antonio Redditi. Mas tornar-se-ia amante de Piero.
Meses depois de engravidá-la, Piero libertou-a da escravatura, assinando a carta. Possivelmente quereria abafar o escândalo de ter um filho ilegítimo.
Quanto à parte de ela ter sido uma princesa, filha do príncipe Jacob, sequestrada das montanhas do Cáucaso e vendida nos mercados de Constantinopla (Turquia) é ficcionada - mas ainda assim baseada em fontes históricas. "Não sabemos se era uma princesa. Na ficção, Caterina torna-se uma figura emblemática para mim; a figura de uma menina, de uma mulher que lutou pela vida para encontrar liberdade e dignidade." Mas, assegura o historiador, o tráfico de escravos que a assombrou foi real: "Infelizmente sim. Fazia parte da economia no Mediterrâneo e ao longo das costas de África."
Pouco se sabe sobre a vida do pintor, escultor e inventor e os poucos factos consensuais só foram descobertos em 2016 através de uma declaração de imposto de renda de 1457 encontrada pelo seu principal historiador, Martin Kemp. A declaração de renda era de Antonio da Vinci, avô de Leonardo, e listava os membros da família que viviam naquela casa. Entre os moradores encontrava-se o filho ilegítimo de Piero da Vinci, "nascido dele e de Caterina".
Se Leonardo da Vinci fosse filho legítimo teria de ter seguido o ramo profissional do seu pai e seria um tabelião, oficial público que conserva as notas ou traslados de escrituras. Uma vez que era ilegítimo, a sua carreira e educação puderam tomar outro rumo e Leonardo da Vinci tornou-se aprendiz de Andrea del Verrochio, que detinha um atelier de ourivesaria e pintura.
Sobre o livro, Vecce refere que as reações têm sido "quase todas positivas, em todo o mundo", esperando que seja lançado em Portugal quanto antes.
Texto atualizado no dia 29 de março para incluir as declarações do autor à SÁBADO.
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