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França retira sem-abrigo de Paris enquanto prepara Jogos Olímpicos de 2024

Por semana são levadas entre 50 a 150 pessoas. Uns esperam que lhes seja oferecida uma casa, e outros receiam o que o futuro lhes reserva.

Paris está a retirar as pessoas sem-abrigo das ruas, enquanto a cidade se prepara para receber os Jogos Olímpicos, no verão de 2024. Há já alguns meses que a cada semana são levados entre 50 a 150 pessoas, para um dos dez locais em toda a França, diz o governo.

REUTERS/Charles Platiau

Nas ruas correm rumores de que um autocarro está prestes a ir buscá-los. Como era de esperar, alguns anseiam que lhes seja oferecida uma casa, e outros vivem com medo, preocupados com o facto de serem forçados a deixar a capital francesa. "Ouvimos dizer que eles nos vinham buscar hoje, mas não tenho certeza para onde", disse à CNN o refugiado de 31 anos Obsca, vindo da Etiópia.

Também Abdullatif, um afegão de 29 anos, parece não estar contente com o facto de se ter de mudar. "Ouvi dizer que temos que sair de Paris, mas não quero. Estou finalmente a começar o meu trabalho como eletricista e preciso de ficar aqui", disse ao canal de notícias.

O destino tanto daqueles que decidem permanecer na capital, como daqueles que decidem apanhar o autocarro acaba por ser incerto. "Ou aceitam o que eles lhes oferecem ou voltam às ruas", explicou Paul Alayzi, da Médicos do Mundo em França, uma ONG que trabalha com "populações vulneráveis".

Enquanto os autocarros que se destinam a Bordéus e Marselha estacionam nas ruas da cidade, nos megafones, as autoridades locais informam que os migrantes que desejam permanecer no local têm de provar que possuem um contrato de trabalho de longo prazo.

O governo entretanto já justificou esta decisão de retirada de sem-abrigo das ruas e garante que em nada tem a ver com os Jogos Olímpicos. No entanto, algumas organizações não-governamentais não partilham da mesma opinião. "As Olimpíadas são um pretexto para encaminhar as pessoas para as regiões sem pensar e sem sequer verificar as capacidades de acolhimento que as regiões têm", disse à CNN a adjunta da Câmara de Lyon, Sandrine Runel.

Obsa, o refugiado de 31 anos, fez uma viagem perigosa até França. Em 2017 terá viajado da Etiópia para o Sudão, passando ainda pela Líbia e depois pelo Mediterrâneo até chegar a Itália. Hoje em dia tem um emprego a tempo inteiro em Paris, mas até agora não conseguiu encontrar alojamento permanente devido aos custos associados. Dependia de um alojamento de emergência num hotel, mas quando a sua mulher se juntou a ele disseram-lhe: "Não temos lugar para a sua esposa", lembrou.

A juntar-se à retirada desta população da capital francesa, há outro efeito dos Jogos Olímpicos. Segundo denunciam as ONGs, os hotéis já começaram a cancelar os seus contratos de habitação de emergência com o Governo, de modo a que terem disponibilidade para colher turistas.

No ano passado, os hotéis de Île-de-France alojaram todas as noites cerca de 50 mil sem-abrigo. Este ano, pelo menos 5 mil dos lugares nos hotéis já foram cancelados, segundo o canal BFMTV. À estação, a câmara de Paris garantiu que foram perdidas apenas 2 mil vagas e que a cidade já encontrou alternativas para compensar os quartos cancelados.

Segundo os dados do Ministério da Habitação, das mais de 200 mil pessoas que não têm onde viver, 100 mil estão na região de Île-de-France.

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