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Foi publicada poucos dias antes de a escritora morrer.
Clara Pinto Correia publicou uma crónica a 25 de novembro, poucos dias antes de morrer, revelando ter sido violada há cinco anos. Texto escrito meses antes, aquando da aprovação por parte do parlamento português dos crimes de violação como crimes públicos, a bióloga e escritora que morreu esta semana, partilhava um episódio pessoal de uma violação que manteve escondida durante anos. O texto chamava-se "Me Too" e foi publicado no jornal online Página Um.
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A forma como relata o episódio de abuso sexual deixou os leitores confusos sobre se a história seria real ou pura ficção. Mas Pedro Almeida Vieira, o diretor do Página Um, escreveu um texto que faz dissipar a dúvida sobre o carácter autobiográfico desta crónica. Num obituário que é ao mesmo tempo uma carta de despedida, o jornalista escreve, sobre o texto "Me Too": "A única crónica que me aterrorizou, pela possível verdade nela contida, foi a do ‘Me Too‘. A primeira versão chegou-me em Agosto, excruciante, quase insuportável. Durante meses pedi-lhe que ponderasse: não porque duvidasse da sua coragem, mas porque temia pela ferida que pudesse reabrir — nela e nos leitores". "Um dia, porém, enviou um e-mail, dirigido a mim e a um amigo em comum, que nunca esquecerei: 'Peço-vos o que nunca pedi: leiam com atenção e falem comigo. Encaro isto como um dever cívico, mas não me sinto segura. Coragem.' Naquele apelo estava toda a Clara: a vulnerabilidade íntima e a valentia pública."
Deixamos abaixo alguns excertos da crónica (que pode ler na íntegra aqui):
"Mas, agora que temos uma lei que nos protege, é imprescindível conseguirmos falar. Só depois de ouvir a nossa voz é que a sociedade pode acordar e revoltar-se, e iniciar a prática, agora possível, de pôr os que nos desfiguram a beleza natural da vida e a alegria de estarmos vivas em tribunal… de onde, de hoje em diante, teremos a certeza que hão de seguir para a prisão."
(...)
"Agora, isto só acontece a partir do momento em que as vítimas se organizarem e começarem a fazer ouvir a sua voz. Conto-vos a minha história para que as outras mulheres se sintam mais acompanhadas ao fazerem o mesmo. E também porque o meu caso é um verdadeiro clássico."
(...)
"Há cinco anos atrás, o Guarda da Estação e o Tiago foram os dois tarados que juntaram esforços para tornar possível a minha violação. E depois, como fazem todas as mulheres violadas, falei com a minha médica mas não falei com mais ninguém."
(...)
"Agarrei no saco pesado e lá fui atrás do Tiago, a pensar na conjuntura estranha de acontecimentos daquela noite. Estava tão perdida nos meus pensamentos que já era tarde para voltar para trás, sempre pendurada do meu saco pesado, quando percebi que tínhamos entrado numa viela estreita e escura, onde era absolutamente impossível alguém guardar um carro. O Tiago deu-me um empurrão para dentro do abarracamento onde morava, deduzo eu, porque, graças a Deus, lá dentro não havia qualquer luz. Houve só uma conversa interminável de 'olha que não te armes em boa que eu trouxe-te para aqui para te mandar um fodão, e se não vai a bem vai a mal que estou com uma puta tesão, e fica sabendo que já comi velhas muito mais velhas do que tu e é do que eu mais gosto. Anda lá, meu, deixa entrar, abre-me essas pernas ou eu parto-te toda', e mais débitos infindos de ordinaricesque acabaram por vencer-me pelo cansaço. Então o miúdo satisfez-se comigo uma data de vezes, a dizer uma data de porcarias. Acho que queria tanto que aquela tortura acabasse que acabei por adormecer entretanto".
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