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Fuga de documentos confidenciais nos EUA virá de jovem que trabalhou em base militar

Lusa 13 de abril de 2023 às 14:03

A fuga dos documentos, que é objeto de uma investigação criminal do Departamento de Justiça norte-americano, vem de um homem com o pseudónimo "OG" que há meses que publica regularmente centenas de páginas copiadas de documentos da base militar onde trabalha.

A fuga de documentos confidenciais dos Estados Unidos é obra de um jovem que trabalhou numa base militar norte-americana e que partilhou as informações num grupo privado 'online', noticia esta quinta-feira o jornalThe Washington Post(TWP).

Getty Images

Num artigopublicado quarta-feira, o diário norte-americano afirma que entrevistou anonimamente dois membros da rede social Discord onde foram publicadas centenas de páginas de documentos confidenciais, alguns dos quais ultrassecretos ou relativos à guerra na Ucrânia ou mesmo aliados dos Estados Unidos.

A fuga dos documentos, que é objeto de uma investigação criminal do Departamento de Justiça norte-americano, vem de um homem com o pseudónimo "OG" que há meses que publica regularmente centenas de páginas copiadas de documentos da base militar onde trabalha, refere o jornal, que acrescenta que o interrogado se recusou a especificar de que base se tratava.

Nas entrevistas, segundo o TWP, é indicado que "OG" passava "parte dos seus dias dentro de uma instalação segura, onde eram proibidos telemóveis e outros dispositivos eletrónicos", e que trabalhava "incessantemente ao longo de várias horas" a "escrever documentos confidenciais para os partilhar com os seus camaradas no servidor Discord".

Mais tarde, "OG" tirou fotografias de documentos e publicou-as no grupo.

"Quando se tornou muito fastidioso reproduzir à mão centenas de documentos classificados, 'OG' começou a publicar centenas de fotografias dos próprios documentos", continua o diário.

"OG" pediu aos restantes membros do grupo que não distribuíssem os documentos, sublinhando que não pretendia tornar-se um "denunciante", garante o TWP, citando uma das suas fontes.

Algumas informações eram tão sensíveis que foram marcadas como "NOFORN", ou seja, para não serem divulgadas a estranhos, avança oThe Washington Post.

Segundo um membro do grupo citado pelo diário, "OG" "parecia pensar que o seu conhecimento privilegiado ofereceria aos outros proteção contra o mundo conturbado que os rodeia".

"OG" tinha "uma visão sombria do Governo", de acordo com o diário norte-americano.

"O jovem membro do grupo disse que [os documentos] eram sobre os Estados Unidos e, em particular, sobre a aplicação da lei pelas forças da ordem e pelos serviços secretos, considerando-os uma força sinistra que procurava reprimir os cidadãos e mantê-los no escuro. ['OG'] queria protestar contra o poder excessivo da Administração", escreveu o TWP.

O grupo, de cerca de 24 pessoas, na sua maioria homens, formou-se em torno do "amor mútuo pelas armas, equipamento militar e Deus", formando um "clube por cooptação no Discord em 2020", segundo a comunicação social.

Os documentos publicados 'online' revelam preocupações dos serviços secretos norte-americanos sobre a viabilidade de uma contraofensiva ucraniana contra as forças russas, que invadiram a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, devido a problemas de falta de instrução militar e de logística, bem como as preocupações dos Estados Unidos sobre a capacidade de Kiev continuar a defender-se dos ataques de Moscovo.

Dezenas de fotografias desses documentos foram divulgadas no Twitter, Telegram ou Discord nos últimos dias. Algumas delas estiveram a circular na Internet durante semanas, senão meses, antes de atrair a atenção da imprensa.

No entanto, as autoridades dos Estados Unidos não confirmaram publicamente a autenticidade dos documentos publicados 'online', que também não foram confirmados de forma independente. 

O Pentágono, no entanto, afirmou que este caso representa um risco "muito sério" para a segurança nacional dos Estados Unidos.

Além do tema relacionado com a invasão russa da Ucrânia, alguns documentos também parecem indiciar a obtenção de informações secretas pelos Estados Unidos junto de alguns dos seus aliados, como Israel e Coreia do Sul, países que Washington tem estado a tentar tranquilizar, relata, por sua vez, a agência noticiosa France-Presse (AFP).

Muitos documentos já não estão disponíveis onde foram publicados uma vez que, segundo a imprensa norte-americana, as autoridades ordenaram que fossem retirados dos diferentes portais.

As consequências desta aparente fuga de informações podem ser significativas, potencialmente, pois estão a pôr em risco as fontes dos serviços secretos dos Estados Unidos. Mais a mais, ao mesmo tempo, acabam por fornecer informações "valiosas aos inimigos" dos norte-americanos.

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