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Quem é o ghostwriter do príncipe Harry?

Sónia Bento
Sónia Bento 13 de janeiro de 2023 às 18:48
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O premiado jornalista começou pela sua própria biografia antes de escrever as dos outros. Contou a história de vida do ex-tenista André Agassi e agora a do filho mais novo do Rei de Inglaterra, que vendeu 1,4 milhões de exemplares só no primeiro dia.

É o autor deSpare, o polémico livro de memórias do príncipe Harry, embora o seu nome não apareça na capa. Numa primeira fase, terá recebido 1 milhão de dólares (920 mil euros) por este trabalho, o que faz dele oghostwritermais bem pago do momento. O veterano jornalista e escritor norte-americano John Joseph Moehringer, de 58 anos, mais conhecido pelo seu pseudónimo J.R. Moehringer, começou por escrever as suas próprias memórias,The Tender Bar, em 2005, antes de redigir as de outros.

Uma espécie de psiquiatra

Em 2009, foi contratado pelo campeão de ténis André Agassi para escrever a história da sua vida. Alugou uma casa em Las Vegas, onde o tenista vivia, para que pudessem estar juntos. E foram mais de 250 horas de conversas e 1.200 páginas transcritas que resultaram no livroOpen. Para entrar na mente de Agassi, o escritor disse, aoNew York Times, que leu o trabalho dos psicanalistas Sigmund Freud e Carl Jung. "Funcionou como uma terapia. Sentei-me numa cadeira e André num sofá", contou o autor. Mais tarde, colaborou com o co-fundador da Nike, Phil Knight, na sua autobiografia,Shoe Dog, publicada em 2016. "Ele é uma espécie de psiquiatra. Faz-nos dizer coisas que achamos que nunca diríamos", contou Knight sobre Moehringer.

George Clooney foi o intermediário

J.R. Moehringer terá sido apresentado ao príncipe Harry pelo ator George Clooney, um amigo em comum que dirigiu no ano passado a adaptação cinematográfica da autobiografia do próprio Moehringer, The Tender Bar, protagonizada por Ben Affleck, lançada no serviço de streaming Amazon Prime, em janeiro de 2022. Alguns temas explorados nas memórias de Moehringer poderiam comparar-se à história de Harry, apesar de terem nascido em mundos totalmente diferentes: o jornalista foi criado nos Estados Unidos, por uma mãe solteira, e Harry na família real britânica – mas há traços comuns, como a perda de uma mãe, abandono de um pai, relações familiares tumultuosas. Spare chegou às livrarias na passada terça-feira, 10, e vendeu mais de 1,4 milhões de exemplares só no primeiro dia.

O pai agressivo e o bar do tio

Moehringer foi criado em Manhasset, uma cidade suburbana em Long Island, Nova Iorque. Depois de os pais se terem separado, ele e a mãe, Dorothy, foram morar com os avós, numa "casa de merda", com uma casa de banho partilhada por 12 pessoas, segundo descreve. O jornalista dedicou o livro à mãe, que morreu quatro anos após a publicação, em 2009. Mas o tema principal da obra gira em torno da difícil relação de Moehringer com o pai, um famoso locutor de rádio chamado Johnny Michaels, que ele descreve como "uma mistura instável de charme e raiva".

O autor relata que o pai tentou sufocar a mãe com um travesseiro quando ele tinha sete meses e depois encurralou-a na casa de banho com uma navalha. Em criança, Moehringer passou a frequentar o bar Publicans, em Manhasset, que pertencia ao seu tio materno, Charlie. Diz que foi aí que aprendeu a observar as pessoas: "O bar criou em mim o hábito de transformar cada pessoa numa personagem".

Charmoso, tímido e distante

A mãe queria que ele estudasse na universidade de Harvard ou de Yale e se tornasse advogado, para que pudesse processar o pai por nunca lhe ter pago pensão de alimentos. Moehringer licenciou-se em Yale, não em Direito, mas em jornalismo. Iniciou a sua carreira como assistente de redação no The New York Times e trabalhou em diversas publicações norte-americanas, como o Rocky Mountain News e o Los Angeles Times. O seu grande destaque deu-se em 1997, com um artigo publicado no The Times sobre o pugilista dos anos 50, Bob "Bombardier" Satterfield, que ele havia descoberto a dormir nas ruas de Los Angeles.

Em 1998, Moehringer foi finalista do Prémio Pulitzer por este artigo, intitulado Resurrecting the Champ, que mais tarde foi adaptado ao cinema, protagonizado por Samuel L. Jackson. O Pulitzer chegou em 2000, com a reportagem Crossing Over, publicada no LA Times. Era um retrato de uma pequena cidade no extremo sul racialmente dividida. Descrito como "charmoso, descontraído, tímido e distante", J.R.Moehringer vive em São Francisco, com a mulher, a editora de livros Shannon Welch, e os dois filhos.

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