As declarações de governantes socialistas foram prova suficiente para que o juiz de Instrução deixasse cair crimes da acusação referentes ao empreendimento de Vale do Lobo.
O Ministério Público acusa Sócrates de ter pressionado a Caixa Geral de Depósitos, através de Armando Vara, a aprovar créditos para o empreendimento de Vale do Lobo. Ivo Rosa, na decisão instrutória deixou cair a acusação por prescrição e acusa ainda o MP de não ter provas que sustentem a acusação e toma como principais argumentos, as declarações de governantes socráticos.
Ivo RosaANTÓNIO COTRIM/POOL/LUSA
José Sócrates foi ilibado dos três crimes de corrupção pelo juiz Ivo Rosa na fase de Instrução Criminal do processo Marquês. Entre eles estava o que diz respeito ao empreendimento de Vale do Lobo, onde o ex-primeiro-ministro era suspeito de ter recebido um milhão de euros para influenciar uma decisão positiva quanto a um empréstimo por parte da CGD. Sócrates, Armando Vara, Horta e Costa, Bárbara Vara e Gaspar Ferreira viram serem levantadas todas as acusações por por suposto envolvimento no financiamento do projeto imobiliário em Vale do Lobo por prescrição.
No entender do juiz de Instrução, o crime de que os arguidos eram suspeitos já tinha prescrito aquando da dedução da acusação, o que levou ao arquivamento dos autos. Mas mesmo assim, apreciou as acusações feitas pelos procuradores encarregues do caso e decretou que no seu entender, não há provas para confirmar as suspeitas.
No entender do MP, Sócrates influenciou o empréstimo que a Caixa fez para aquisição do empreendimento de Vale do Lobo, aproveitando a sua proximidade ao socialista Armando Vara para tomar conhecimento sobre as decisões da CGD sobre concessões de crédito. Terá sido mesmo a partir da sugestão do primeiro-ministro que Vara foi nomeado para a administração do banco público. Mas estas suspeitas do MP são destruídas por Ivo Rosa que diz que "especulação" e "intenção" não são aceitáveis para uma condenação.
No pedido de instrução escreve-se que "não é verdade é que nalgum momento tenham tido qualquer cumplicidade imprópria ou criminosa como o texto sugere". A defesa argumenta que o "principal indício apresentado pela acusação para esta afirmação refere-se ao facto do administrador Armando Vara ter sido nomeado" para a administração por Sócrates. Mas as testemunhas ouvidas pelo juiz de instrução negam que Sócrates tenha sugerido esta nomeação. E Ivo Rosa aceita a palavra dos que ouviu.
Na requisição de abertura da fase de instrução,a defesa do ex-primeiro-ministro refere que "o principal indício apresentado pela acusação para" dizer que houve uma conduta imprópria na nomeação de Vara foi que o mesmo foi nomeado pelo então primeiro-ministro, José Sócrates, que queria "controlar a CGD". Ora, no entender de Rosa, essa crença não corresponde aos factos, até porque eles mesmos são desmentidos por Sócrates e Vara, mas também de outro governante da altura.
Escreve a defesa do ex-primeiro-ministro: "No entanto, o principal indício apresentado pela acusação para esta afirmação refere-se ao facto do administrador Armando Vara ter sido nomeado por iniciativa de José Sócrates, o que foi desmentido por este ultimo, por Armando Vara e – mais importante – pelo próprio Ministro das Finanças da altura, Teixeira dos Santos, que assumiu que a iniciativa da nomeação foi exclusivamente sua". Ou seja, como Teixeira dos Santos, Vara e Sócrates dizem que o antigo primeiro-ministro não tentou influenciar a nomeação de Vara.
Durante o debate instrutório, Sócrates também afirmou que "jamais recebeu (...) quantia alguma" do Grupo Vale de Lobo, Armando Vara, Diogo Gaspar Ferreira ou Rui Horta e Costa " como peita ou pagamento pela prática de qualquer acto ou omissão".
"Assim sendo, face à total ausência de prova conclui-se que o arguido José Sócrates não teve qualquer intervenção, junto de quem quer que fosse, para que o financiamento concedido pela CGD ao empreendimento Vale de Lobo fosse concedido nos termos em que foi. Mostra-se indiciado, também, que o arguido José Sócrates não teve conhecimento dessa operação", escreve nas suas conclusões o juiz.
Rosa desvalorizou os depoimentos que indicavam que José Sócrates queria uma mudança na administração da Caixa Geral de Depósitos, como a que foi dada pelo ministro das Finanças, Luís Campos e Cunha, dando mais valor às declarações de Teixeira dos Santos (sucessor de Campos e Cunha nas Finanças) que afirmou ter escolhido Vara por seu próprio entendimento.
Depois da decisão, apenas serão julgado
Carlos Santos Silva (empresário) - 3 crimes de branqueamento de capitais; 3 crimes de falsificação de documentos
José Sócrates (ex-primeiro-ministro) - 3 crimes de branqueamento de capitais; 3 crimes de falsificação de documentos
Ricardo Salgado (ex-presidente do Banco Espírito Santo) - 3 crimes de abuso de confiança
Armando Vara (ex-ministro) - 1 crime de branqueamento de capitais
João Perna (ex-motorista de José Sócrates) - 1 crime de detenção de arma proibida
Teixeira dos Santos diz que Sócrates não nomeou Vara para a CGD e Rosa acredita
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