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Se Ventura chegar à segunda volta "o segundo nome a passar será o de Seguro"

Entrada de Ventura na corrida a Belém deverá alterar "dramaticamente o cenário das Presidenciais", segundo o politólogo João Pereira Coutinho.

Depois de várias hesitações, o líder do Chega, André Ventura,, na terça-feira (16), a sua candidatura a Presidente da República. Se as últimas sondagens apontavam que Henrique Gouveia e Melo , deixando Luís Marques Mendes na segunda posição, agora a entrada de Ventura em cena "altera dramaticamente o cenário das presidenciais", defende o politólogo e cronista da SÁBADO João Pereira Coutinho.

André Ventura e António José Seguro
André Ventura e António José Seguro DR

"Ventura segura praticamente todo o voto dos que votaram Chega nas últimas legislativas e ainda vai mobilizar muitos abstencionistas", diz à SÁBADO a politóloga Marina Costa Lobo que classifica Ventura como um "candidato forte". 

Apesar de a politóloga e presidente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) considerar que estas eleições serão "de grande imprevisibilidade", visto que "há muita competitividade entre candidatos e muitos indecisos", para João Pereira Coutinho uma coisa é certa: "O candidato mais atingido será claramente Gouveia e Melo".

Com a entrada de Ventura na corrida às Presidenciais é esperada uma "fragmentação do espaço da direita", acredita Pereira Coutinho, "visto que o eleitorado de Gouveia e Melo e Ventura se sobrepõem de certa medida". Além disso, o anúncio do líder do Chega poderá "facilitar a candidatura de Seguro".

Para isso, a "esquerda moderada" teria de apoiar a , que até ao momento ainda não recebeu apoio público por parte do PS. Segundo Marina Costa Lobo, este apoio tardio por parte do partido fez com que "muitos eleitores do PS já tivessem decidido votar no almirante Gouveia e Melo".

"O Partido Socialista prefere perder uma eleição Presidencial do que apoiar um candidato que adotou um comportamento leal no tempo da troika e no tempo de Passos Coelho", critica João Pereira Coutinho.

Presidenciais a duas voltas

Para estas eleições é esperada uma segunda volta, e nisso ambos os especialistas estão de acordo. Marina Costa Lobo lembra até que caso este cenário se verifique será a "primeira vez desde 1986" que há uma segunda volta nas Presidenciais. Já João Pereira Coutinho mostra-se confiante com a possibilidade de o socialista António José Seguro passar à segunda volta.

"Não há candidatos com condições para vencer na primeira volta, e acho improvável que tenhamos dois candidatos anti-sistema, ou seja André Ventura e Gouveia e Melo, numa segunda volta", começou por dizer João Pereira Coutinho. "Se houver um cenário em que Ventura vai à segunda volta o segundo nome a passar será o de Seguro, e aí a possibilidade do centro-esquerda ter um Presidente da República aumenta dramaticamente."

Já Marina Costa Lobo concorda que parte do eleitorado irá recorrer ao voto útil. André Ventura "é mais do que forte. É divisivo, polarizador. Muitos adoram Ventura, mas outros tantos eleitores não gostam mesmo nada do que ele representa. Isso poderá levar ao voto útil, seja na primeira, seja na segunda volta", sublinha Marina Costa Lobo. E acrescenta: "Acho que podemos dizer que a esquerda está menos bem posicionada para vencer as Presidenciais. Já se vai tornando um hábito - depois de Cavaco e Marcelo, somam-se quatro eleições já sem um candidato de esquerda a vencer. Portanto uma derrota em 2026 vai calar mais fundo a esquerda".

João Pereira Coutinho considera que "seria bom para Ventura passar a uma segunda volta, mas não vencer" até porque "o que lhe interessa é chefiar o Governo". No entanto, não descarta a hipótese do líder do Chega poder vir a assumir o papel de Presidente da República eventualmente.

"Há a possibilidade de termos pela primeira vez na história da democracia, ou seja desde o 25 de Abril, um terceiro partido que vem de fora do sistema com possíveis hipóteses de governar [o País]. E isso é uma situação inédita."

André Ventura é o mais recente candidato a anunciar a sua entrada na corrida a Belém. Na lista constam ainda os nomes de Henrique Gouveia e Melo, enquanto candidato independente, que domina as intenções de voto, Luís Marques Mendes apoiado pelo Partido Social-Democrata (PSD), que ocupa a segunda posição, António José Seguro, o antigo secretário-geral do PS que completa o pódio nas sondagens mais recentes, Catarina Martins, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda (BE), António Filipe apoiado pelo Partido Comunista Português (PCP), João Cotrim Figueiredo, da área política da Iniciativa Liberal, e Joana Amaral Dias cuja candidatura é secundada pelo ADN.

Existem, no entanto, outros candidatos independentes nesta corrida. São eles: André Pestana, Manuela Magno, Raul Perestrello, Angela Maryah, Bruno Morgado, Pedro Tinoco de Faria, Vitorino Silva, Orlando Cruz, Aristides Teixeira e José Cardoso.

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