Cinco anos depois, só agora foi lançado o concurso para a remodelação do edifício que vai receber a "Biblioteca Alberto Manguel". Livros não estão ainda todos catalogados.
Em abril de 2023,escrevia o Públicoque naquela altura ainda não se sabia quando ia ser inaugurada e quando ia custar a chamada "Biblioteca Alberto Manguel", um projeto da Câmara Municipal de Lisboa (CML) que remonta a setembro de 2020, no mandato de Fernando Medina, quando a autarquia firmou um acordo com o bibliófilo e ensaísta argentino para que este cedesse à cidade a sua biblioteca, ficando esta depois à disposição para consulta e investigação.
O projeto (oficialmente denominado Espaço Atlântida - Centro de Estudos da História da Leitura) implicava a cedência de um prédio (o palacete dos Marqueses de Pombal) e as necessárias obras de remodelação, bem como a catalogação dos livros.
Em 2025, cinco anos após a assinatura do protocolo, e já com o mandato autárquico de Carlos Moedas a terminar, ainda não se sabe quando é que o projeto vai inaugurar (o gabinete de Carlos Moedas não nos respondeu a essa questão), mas já há algumas pistas sobre isso. E sobre quanto vai custar.
São mais de sete milhões de euros (mais exatamente €7.050.000). Esse é o preço base estipulado para o "concurso público para a Empreitada de Reabilitação do Palacete dos Marqueses de Pombal", cujo prazo de entrega de propostas está a decorrer até 19 de junho. Quem está a adjudicar a obra é a SRU, empresa municipal.
As peças processuais indicam que os trabalhos vão incidir sobre a arquitetura, infraestruturação, construção civil e reforço estrutural do edifício, situado na rua das Janelas Verdes, números 35 a 41. O prazo de execução é de 1.080 dias (três anos), ou seja, se não houver atrasos de maior, a obra começará no final deste ano, ou princípio de 2026, e o projeto deverá abrir ao público por volta de 2029. Se tudo correr bem.
Fica-se assim já com uma ideia de custos e prazos do projeto, ainda que haja incertezas e dúvidas. Por exemplo, o projeto de arquitetura da remodelação do edifício, que consta das peças processuais e é assinado pelo atelier Teresa Nunes da Ponte, Arquitetura, Lda, não se encontra adjudicado no Portal Base. Eventualmente, será esta adjudicação de €74.200 para "projeto de arquitetura e de coordenação do projeto de requalificação de espaço público do Bairro Alto", ainda que o palacete em causa não fique no Bairro Alto.
Este caso serve para ilustrar que não é fácil perceber quanto é este projeto vai custar à cidade. No Portal Base, do que é possível localizar, existem €229.747 em vários ajustes diretos para prestação de vários serviços (por exemplo, catalogação dos livros de Alberto Manguel). A este valor é necessário acrescentar os salários do próprio Manguel, como veremos mais à frente.
As obras de 7 milhões, que estão em fase de concurso, fazem parte da denominada Fase 2 do projeto. Segundo a câmara de Lisboa referiu à SÁBADO, "a empreitada da 1ª fase, da responsabilidade da Lisboa Cultura (trabalhos propedêuticos de conservação e restauro), foi consignada em novembro 2024 e encontra-se a decorrer com normalidade, prevendo-se que termine em meados de julho de 2025".
Relativamente aos livros, cerca de 40 mil, têm sido catalogados ao longo dos anos. O gabinete de Carlos Moedas infornou-nos que "do total de documentos doados estão tratados 26.750, ou seja, 67% da coleção, os quais correspondem maioritariamente a livros, mas também a 94 títulos de jornais e revistas".
Salário vitalício (e uma casa de banho)
Recorde-se que este projeto tem, desde o início, estado envolto em polémica, com várias personalidades ligadas à Cultura a questionarem o valor para a cidade. Por exemplo, João Pedro George, aqui na SÁBADO.O escritor e sociólogo questionava a relevância cultural dos exemplares que Manguel ia trazer para Lisboa, além do dinheiro gasto pela CML no restauro do palacete e na catalogação e no transportes dos livros (entre outras despesas), bem como a opção deste investimento face às dificuldades orçamentais por que passam vários equipamentos culturais e arquivísticos da cidade. George sinalizava ainda que a parceria foi possível num contexto de estreitas relações pessoais e comerciais entre a editora em Portugal de Manguel (Bárbara Bulhosa e a sua Tinta da China) e a autarquia liderada na altura por Fernando Medina.
Em março de 2023, a SÁBADO explicou os contornos do acordo, que se concretizou em três documentos: um protocolo, um memorando e um contrato.
O memorando (com data de 12 de setembro de 2020) é uma declaração de compromisso da CML para com Alberto Manguel e o contrato (15 de outubro de 2020) é a sua concretização, ou pelo menos de uma parte, nomeadamente o vencimento.
No memorando, é referido que a autarquia obriga-se a pagar a Alberto Manguel "uma contrapartida anual de €60.000" consubstanciada em "doze prestações mensais [€5.000] pelo exercício das funções de diretor/coordenador artístico do CEHL [Centro de Estudos da História da Leitura]".
Isso faz com que a câmara de Lisboa já tenha pagado cinco anos de contrapartidas a Manguel, ou seja, 300 mil euros. A que se somam os valores já referidos do portal Base, mais o valor das obras que vão arrancar. No total, para já, o projeto estará nos oito milhões de euros de custos.
O contrato de Manguel diz que o pagamento começa na data da assinatura e dura "enquanto vigorar o memorando". Consultando este, verifica-se que dura "até à morte de Alberto Manguel" (cláusula 4). Em resumo, a CML pagará a Manguel, de 75 anos, enquanto este for vivo.
O memorando estabelece que a CML se compromete a garantir a Manguel "e a quem este indicar" o acesso contínuo, permanente e vitalício ao Centro de Estudos da História da Leitura. A autarquia comprometeu-se ainda a alocar no edifício – o Palacete dos Marqueses de Pombal – "um espaço de trabalho exclusivo, bem como um espaço funcional, composto por cozinha e instalações sanitárias para utilização exclusiva do Diretor/Coordenador Artístico", ou seja, Alberto Manguel.
A CML deve ainda "custear as despesas de viagem de ida e volta para Lisboa e estadia de um consultor da coleção de Alberto Manguel, com vista à implementação do CEHL".
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui ,
para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana. Boas leituras!
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.
Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.