Antigo autarca de Ponte de Lima desenhou um plano estratégico para o desenvolvimento da região que passa pelo menor investimento em meios de combate a incêndios e o troca por rebanhos.
Mais ruminantes e menos kamovs: Daniel Campelo quer um plano para o Alto Minho
O antigo secretário de Estado das Florestas e presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, Daniel Campelo, apresentou um documento que intitulou de "Alto Minho, que futuro?" e no qual apresenta propostas de desenvolvimento daquela região. No seu entender, o desenvolvimento do Alto Minho passa pelas florestas, montanhas, pastores, educação e turismo. E por apoios estatais.
Nuno Alfarrobinha
O anterior autarca partilhou o documento com os autarcas da região, como um plano a que devem tomar atenção, principalmente num ano de eleições autárquicas e no qual os fundos europeus prometem a possibilidade de aplicar fundos para reformas.
Campelo defende que uma das principais alterações deve passar pela valorização do pastoreio nas montanhas do Alto Minho. O centrista considera que apostar em rebanhos e pastores contribui ao mesmo tempo para fomentar a economia local e prevenir os incêndios. No documento que apresentou aos autarcas do Norte, o político licenciado pelo Instituto Superior de Agronomia refere que seria possível poupar dinheiro se em vez de se apostar no combate ao incêndio, se apostasse na prevenção.
"Veja-se, por exemplo, o caso dos incêndios florestais em que os Governos não têm tido a coragem, nem a motivação, para reconhecer o erro do investimento gigantesco nos meios aéreos e no material de combate, respondendo à tragédia com mais dinheiro para os lobbies do fogo e esquecendo a origem do pecado original", escreve Campelo, apresentando depois as contas que idealizou: "Um só dia de voo de uma aeronave seria suficiente para pagar a tempo inteiro 11 pastores todo o ano, com os respetivos rebanhos, que poderiam efetuar a limpeza regular das serras, com mais vantagens para a produção silvopastoril, para a fixação de carbono e, em especial, para criar condições mais favoráveis ao turismo e ao setor produtivo da carne e do queijo".
Campelo refere que ao investir em rebanhos e na contratação de pastores, seria um múltiplo investimento, já que para além de salários pagos e a produção de queijo e carne, os rebanhos ajudariam a limpar os terrenos, prevenindo os incêndios e a necessidade de recorrer a meios aéreos de combate. Campelo diz mesmo que considerando "o custo dos famosos helicópteros Kamov, adquiridos em 2006 pelo Estado Português", seria mesmo possível contratar "mais de 100 [pastores], com 100 rebanhos compostos por 100 ruminantes".
O limiano afirma mesmo: "Apoiar 100 ou 200 pastores no Alto Minho com 7.000 € anuais/pastor pode colocar mais de 3.000 ruminantes nas pastagens de terrenos baldios ou privados, que terão um tremendo impacto a curto prazo na forma de olhar o território e as atividades vitais à sobrevivência dos sistemas remotos de montanha".
"Contabilizando o custo da totalidade das horas de voo em 2019, o mesmo é equivalente ao custo de mais de 8.000 (oito mil) pastores, com os respetivos rebanhos, perfazendo um total mínimo de 800.000 animais", conclui.
O ex-autarca desenhou ainda uma marca para aqueles municípios: "Alto Minho Terra Verde". O preponente, descreve esta iniciativa como "mais que um certificado, ou um selo de papel", descrevendo esta iniciativa como um "ajustar o paradigma do desenvolvimento a um modelo sustentável e de atualização máxima aos novos critérios do mundo civilizado", ou seja, passando por uma mentalidade de poupar o meio ambiente, com uma política de baixa emissão de carbono, e de forte aposta no turismo. Campelo sugere "uma aliança com as atividades fundamentais do sector primário, as quais contribuem para a preservação da natureza e do espaço rural, nas suas vertentes da floresta e da agricultura sustentável, e ainda do mar e dos cursos de água".
Campelo escreve ainda que "investir na educação e formação profissional dos nossos jovens continuará a ser o investimento mais seguro para obter melhores níveis de desenvolvimento social, de cidadania e de bem-estar dos residentes e ao mesmo tempo de atrair novos investimentos de nível mais exigente e de melhores remunerações", devendo por isso ser uma das prioridades.
Nos últimos anos têm sido desenvolvidos projetos de "cabras sapadoras", em que os animais são usados para limpar terrenos, ajudando a prevenir incêndios. O projeto-piloto levado a cabo em Fiães, Santa Maria da Feira, em 2018, mostrou uma eficácia positiva.
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