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Da "elite poderosa" aos "danos graves". Já foram ouvidas as alegações finais no caso Anjos vs Joana Marques

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 11 de julho de 2025 às 18:27
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Faltam apenas dois dias úteis para o início das férias judiciais, pelo que é expectável que não haja sentença até setembro.

Esta sexta-feira foram ouvidas as alegações finais no julgamento que opõe a dupla Anjos à humorista Joana Marques. Não é conhecida a data em que a sentença será conhecidam no entanto faltam apenas dois dias úteis para o início das férias judiciais, pelo que é expectável que não haja decisão até setembro.

Foi a advogada dos irmãos Rosado a primeira a falar, numa longa declaração que durou mais de uma hora, e começou por referir que "foi um prazer trabalhar com a senhora doutora juíza e a forma como conduziu os trabalhos" para depois afirmar: "Quero parabenizar o Nelson e o Sérgio pelas excelentes pessoas que são". Já Joana Marques foi cumprimentada apenas como "ré" e sem qualquer adjetivação.

"Provámos aqui danos sérios e graves. A humurista-influencer fez sempre, desde o início, uma manobra de distração ao dizer que esta ação nos punha, a nós, contra a liberdade de expressão. Que lá fora havia um movimento que professava a liberdade de expressão e que via os queixosos como réus", defendeu antes de voltar a referir que "o que a Joana Marques diz não é a verdade, é o entorpecimento da verdade — e isso já lhe é conhecido, é o que ela faz. O humor é um exercício nobre. O humor faz rir".

Para concluir a advogada de acusação reiterou: "O que não aceitamos é que nos venham dizer que para certas pessoas vale tudo. Isso não seria uma democracia. Não seria liberdade de expressão. A liberdade de expressão não é ilimitada e tem consequência".

Joana Marques foi ainda descrita como alguém "imbuída deste espírito egoísta de poder que tem no social" que "acha que somos todos criaturas desprovidas de inteligência". Para Natália Luís "o humor não são todos uns fofinhos que fazem sem intenção": "O que fez foi largar um fósforo num fardo de feno e dizer que não sabia que ia arder. Aliás, ela não incendiou só um, incendiou dois fardos. Isto não é um circo".

Tentado responder à questão "Quais são os limites do humor?" a advogada defende: "O limite é o ilícito" antes de comparar Ricardo Araújo Pereira a Mário Machado: "Entrou por aqui adentro a dizer que o humor não tem limites, que podem tudo. Um dos argumentos do Mário Machado na sua defesa foi precisamente esse, que era a brincar. Não nos podemos permitir a nós próprios isso. Fazer esta reflexão é importante, é muito importante. A liberdade de expressão não é um direito absoluto".

"Não são os Anjos que não lidam bem com a crítica e não, isto não foi só uma piada. Não foi. Eu com a piada lido bem e até já levei com algumas lá fora. Mas se isso tiver consequência no meu bolso todos os meses, não é o meu ego que está a falar.são prejuízos, reais", continuou Natália Luís.

A advogada considerou que "face ao que foi provado, e face à matéria que temos, não há dúvidas de que os Anjos foram gravemente penalizados pela Joana Marques, e terá de os indemnizar" para concluir garantiu: "O que ela fez foi uma forma de agressão. As pessoas não tem de seguir com as suas vidas depois do que ela fez. Houve discriminação. Tentou destruir a carreira deles."

Já a advogada de Joana Marques, Elsa Seara, teve uma alegação final bastante mais curta e começou por relembrar: Isto é um tribunal, não é uma discussão de praça pública. Não é porque vocês sofrerem ou incorporarem menos bem uma piada que a Joana fez, alegando que isso deu origem a cancelamentos, que exista nisto tudo um ato ilícito".

"Não gostar de uma piada não faz com que uma piada deixe de ser uma piada", defendeu.

Já o segundo advogado da humorista defendeu que "a função do humorista é fazer rir. E foi isso que a Joana Marques fez": "Joana Marques não é uma seguradora dos infortúnios dos Anjos - e deve ser ilibada", atirou.

Luciana Rosa de Oliveira, segunda advogada de Sérgio e Nelson, pediu a palavra no final da sessão para fazer missão ao que caracteriza como "uma elite poderosa, incluindo a comunicação social e onde se inclui Joana Marques, que está a tentar prejudicar uma carreira".

Para a advogada o que os jornalistas que têm documentado o julgamento têm escrito "não é a verdade do que aqui se disse". "A comunicação social está a tentar condicionar o decisão judicial com uma campanha diária", defendeu.

Mariline Alves
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