Sábado – Pense por si

Cravos vermelhos vs. rosas brancas. Há um significado por trás das flores na AR?

As mais lidas

Os cravos vermelhos são auto-explicativos e facilmente associados ao 25 de Abril. Mas o que têm a ver as rosas brancas com o 25 de Novembro?

A cerimónia de comemoração dos 50 anos do 25 de Novembro na Assembleia da República contou com vários convidados e discursos e o Parlamento foi decorado com rosas brancas. Os partidos de esquerda levaram cravos vermelhos e houve até um momento de confronto entre as preferências por cada uma das flores que se traduz por uma "preferência" entre a celebração única do 25 de Abril ou a equiparação entre "o dia inicial inteiro e limpo" e o 25 de Novembro. 

Cravos vermelhos e rosas brancas marcam efemérides na Assembleia da República
Cravos vermelhos e rosas brancas marcam efemérides na Assembleia da República ANDRÉ KOSTERS/LUSA

Quem entrasse no hemiciclo encontrava a sala onde decorrem as sessões parlamentares engalanada com rosas brancas e arranjos florais no púlpito à semelhança do que acontece no 25 de Abril (apesar da cor das flores ser outra) e aconteceu na sessão evocativa de Mário Soares onde havia rosas brancas e amarelas. Mas se o púlpito estava "vestido" de branco, muitos deputados de esquerda decidiram entrar com cravos vermelhos na lapela. E esta atitude causou uma mini "guerra das rosas".

Mas de onde vem esta ideia das rosas brancas e qual o simbolismo desta flor?

Historicamente, a rosa branca era a cor do brasão da Casa de York. Já a rosa vermelha era o brasão da Casa de Lancaster. Foram estes os dois lados que estiveram em combate durante a guerra das flores. Mas em Portugal, a rosa branca não tem esse significado e neste contexto não tem mesmo significado algum.

Na verdade, segundo fonte oficial da Assembleia, "não há significado por trás da escolha das rosas brancas". Foi só a ideia de enfeitar que surgiu na sessão do 25 de novembro de 2024 e que foi agora repetido para a sessão dos 50 anos.

A carregar o vídeo ...

Na reunião da conferência de líderes deste ano que discutiu o formato da sessão evocativa do 25 de Novembro, foi debatida a sugestão da Iniciativa Liberal, para que, tal como acontece no 25 de Abril, fossem colocados pendões nas janelas exteriores do Parlamento e que os arranjos florais fossem “do mesmo número da cerimónia do 50.º aniversário do 25 de Abril". Esta posição contou com o apoio dos partidos da direita, o Chega, o CDS e o PSD. Fonte oficial da Assembleia explica à SÁBADO que como as rosas são mais caras do que os cravos, foram em menor quantidade, apesar de terem orçamentado o mesmo para as fores.

O ano passado o cronista João Miguel Tavares escreveu, no Público, sobre esta escolha de ter rosas brancas: "A direita, ao optar por uma comemoração decalcada do 25 de Abril, mas com o cuidado de substituir os cravos vermelhos pelas rosas brancas na decoração do hemiciclo, está a enviar a mensagem errada. (...) É apenas um desejo de delimitar artificialmente campos ideológicos (...), e, nalguns casos, de aproveitar a data para a chicana política, como na extraordinária salada russa que foi o discurso de André Ventura, misturando 25 de Novembro, imigração descontrolada, “bandidagem” e 344 mulheres violadas".

E André Ventura voltou a protagonizar um momento controverso este ano.

A guerra das flores

Durante a sessão, a deputada do PAN, Inês Sousa Real, colocou um cravo vermelho diante do púlpito, por entre as rosas brancas que o decoravam. Foi imitada por Mariana Mortágua e por ali ficaram os dois cravos. “Por muito que se enfeite a tribuna de rosas brancas ou de cravos vermelhos, esta sessão não é uma homenagem à democracia, é uma tentativa de reescrever a sua história”, disse a deputada única do Bloco.

Depois foi a vez de Paulo Núncio, do CDS, que colocou uma rosa branca por cima dos cravos, para aplauso das bancadas de direita. Começava o jogo da sobreposição de flores.

Jorge Pinto, do Livre, declarou o cravo como "a única flor da nossa liberdade" e depositou um cravo vermelho por cima da rosa branca.

E depois André Ventura, ao chegar ao púlpito, teve o gesto mais polémico da sessão, retirando todos os cravos. "Hoje é dia de rosas brancas e não de cravos vermelhos", disse, e colocou de lado os cravos vermelhos que tinham sido ali deixados. Vários deputados do PS levantaram-se e saíram e outros empunharam cravos vermelhos.

Por fim, Pedro Alves, do PSD, pegou num cravo e colocou-o onde antes os deputados de esquerda tinham depositado as suas flores. "Este dia não é de um nem é de outros, é de todos", afirmou.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!