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CDS: Chicão 1, Adolfo zero

Margarida Davim
Margarida Davim 06 de fevereiro de 2021 às 14:25
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Filipe Anacoreta Correia fez o que nunca tinha sido feito: pôr a votos a ordem de trabalhos do Conselho Nacional. A estratégia deu a Francisco Rodrigues dos Santos o primeiro ponto, num jogo que ainda mal arrancou.

Durante cerca de duas horas não se discutiu mais nada no Conselho Nacional do CDS que não a ordem de trabalhos e se seria votada ou como seria votada. A conversa ficou de surdos. E o presidente da mesa, Filipe Anacoreta Correia, entendeu levar a votos a ordem de trabalhos que tinha um ponto único: a votação de uma moção de confiança à liderança. Mas não o fez de qualquer modo, fê-lo sem direito a voto secreto.

Só com isso, Anacoreta Correia deu a primeira vitória a Francisco Rodrigues dos Santos, cujos apoiantes defendem que a decisão do Conselho de Jurisdição Nacional favorável ao voto secreto é apenas "um parecer" e não vinculativa.

Mas fez mais: ao pôr a votos primeiro a ordem de trabalhos que vinha na convocatória, na prática destruiu a hipótese de Adolfo Mesquita Nunes ver aprovada a proposta para votar a realização de um congresso eletivo antecipado neste Conselho Nacional. Isto, porque para ser admitida essa proposta de Mesquita Nunes teria de ter dois terços dos votos dos conselheiros nacionais e a votação da ordem de trabalhos já condiciona as suas probabilidades. Ao ser aprovada, ficam sem efeito outras ordens de trabalho alternativas.

José Sena Goulão/Lusa

A proposta de Adolfo Mesquita Nunes, recorde-se, ainda não tinha sido submetida por estar a aguardar parecer do Conselho de Jurisdição Nacional do partido, que ainda a está a apreciar, não sendo claro se esse parecer seria emitido ainda durante este Conselho Nacional ou numa altura em que a decisão já só poderia ser válida para uma próxima reunião deste órgão.

A ordem de trabalhos acabaria por ser aprovada com mais de 80% dos votos a favor, depois de os apoiantes de Mesquita Nunes se recusarem a participar na votação como forma de protesto por não saberem se o voto na moção de confiança será ou não secreto. Isso significa que, por isso, que a proposta teve o voto a favor de 61% dos conselheiros nacionais, sendo que só votaram 75% dos que tinham direito a voto.

O problema é que nunca na história do CDS se tinha antes votado uma ordem de trabalhos, como vincou João Almeida, numa interpelação à mesa. A regra é que as ordens de trabalhos considerarem-se tacitamente aprovadas, quando os conselheiros as recebem por correio ou mail e não as contestam,

De resto, uma fonte centrista assegura à SÁBADO que esta iniciativa de Filipe Anacoreta Correia de realizar a votação da ordem de trabalhos não estava prevista pelo menos até à véspera desta reunião.

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