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Bruno de Carvalho defende papel de Rui Pinto como "denunciante"

15 de outubro de 2020 às 11:56
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O antigo líder do Sporting afirma que vai desistir da queixa que fez contra Rui Pinto aquando dos alegados ataques ao clube durante o seu mandato.

O antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho foi ouvido esta quinta-feira como testemunha na 13ª sessão do julgamento de Rui Pinto no âmbito dos Football Leaks. À entrada do Tribunal no Campus de Justiça, em Lisboa, Bruno de Carvalho afirmou que o português que está a responder pela alegada prática de 90 crimes era "claramente um denunciante" e não um criminoso. 

"Agora tenho que entrar calmo, dizer tudo aquilo que acho relevante para o processo e responder às perguntas. Isto é uma dança a dois, só posso responder o que me perguntarem", continuou o antigo líder dos leões que acrescentou ainda não se ter sentido invadido. "Não me sinto invadido, nada, nada. Felizmente não tínhamos nada a esconder", acrescentou, sobre o acesso que o informático teve aos emails do Sporting enquanto Bruno de Carvalho liderava o clube. Mais tarde, já durante a audiência, informou que iria desistir da queixa contra Rui Pinto. 

"Teremos que ver como acabam os processos em curso e espero dizer, daqui a alguns anos, altamente normalizador", referiu antes de dizer ao advogado de Rui Pinto, Teixeira da Mota, que vai desistir da queixa que fez contra Rui Pinto aquando dos alegados ataques ao Sporting, escreve o Correio da Manhã. Disse ainda que o Football Leaks teve "um papel muitíssimo positivo na moralização, interesse público e verdade desportiva".

O ex-presidente do Sporting Bruno de Carvalho considerou também que o ‘Football Leaks’ foi "extremamente útil" para reforçar publicamente algumas posições que defendeu enquanto liderava o clube e ‘tirou o chapéu’ ao criador da plataforma, Rui Pinto.

"Tem de se tirar o chapéu ao Rui Pinto, porque é só depois de ele aparecer que começa a haver processos numa série de investigações", afirmou o antigo líder do Sporting, fazendo referência à divulgação de outros casos, como o ‘Luanda Leaks’.

Sublinhou ainda o efeito da divulgação de documentos na batalha contra os fundos de investimentos: "Até me foi benéfico para tentar introduzir junto da UEFA os contratos com a Doyen".

Bruno de Carvalho assumiu ter tomado conhecimento apenas hoje de que existiram acessos ao sistema de emails do Sporting de um endereço proveniente da Hungria anteriores a 22 de setembro de 2015, dia em que foi registado o ‘crash’ do sistema e em que, alegadamente, o principal arguido do processo enviou três ataques.

"Nunca ninguém tinha comentado comigo que tinha havido acessos da Hungria antes de 22 de setembro, isso é uma novidade para mim", confessou o ex-presidente ‘leonino’, que revelou também que o email que a Polícia Judiciária (PJ) inscreveu na investigação como seu e ao qual o criador do Football Leaks tinha alegadamente acedido não estava correto.

"Quando fui chamado, apercebi-me de que o email que a PJ investigou e que estava no processo não era o meu. Liguei para o meu colega de direção Alexandre Godinho, ele deu-me o correto, a PJ alterou nos documentos e deu-me para assinar. O Rui Pinto entrou no mail de um Bruno, só que errou no alvo", declarou, ainda antes de provocar risos na sala de audiência quando comentou nem saber se Rui Pinto estava na sala: "Se estiver, é a primeira vez que estamos no mesmo sítio".

Confrontado com o impacto da disrupção no sistema de emails do Sporting, Bruno de Carvalho descreveu a manhã de 22 de setembro como "uma azáfama" devido ao ‘crash’ no servidor e à preocupação de algumas pessoas, mas defendeu que a impossibilidade de acesso não seria uma consequência de um suposto ataque informático.

"Nunca me apercebi que o Sporting tivesse parado. Foi verificado que tínhamos um sistema débil, propuseram uma série de alterações à administração e foram aceites. O que reparei nos dois ou três dias subsequentes é que os técnicos pediram para não aceder, porque estavam a introduzir medidas internas e isso obrigou a parar várias vezes", observou, assegurando não ter ligado "grande coisa" ao ‘Football Leaks’, "nunca" ter acedido e que não sentiu qualquer "problema reputacional" pela divulgação de documentos do clube na Internet.

Ato contínuo, o ex-presidente do Sporting fez questão de relembrar que alguns documentos já tinham sido expostos publicamente por comentadores desportivos afetos ao rival Benfica em programas de televisão, antes da publicação na plataforma eletrónica criada por Rui Pinto.

"Quando o Sporting faz à queixa à Polícia Judiciária, transmiti logo a preocupação de haver comentadores do clube rival a falar de documentos do Sporting", frisou, acrescentando: "As coisas avançaram para este processo, sendo que gostava de ver como é que essas pessoas tiveram acesso aos documentos antes de Rui Pinto".

Esta quarta-feira, Bruno de Carvalho tinha já escrito nas redes sociais que iria ser testemunha no caso. "Portugal e o Mundo estão a viver 2 Pandemias: o Covid19 e a Corrupção! Amanhã, às 9h30, irei testemunhar no caso "Rui Pinto". Se usando máscara quero contribuir para o combate ao Covid19, com as minhas palavras espero colaborar para que quem é corrupto seja castigado", escreveu no Twitter Bruno de Carvalho.

Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.

(atualizado às 16h38)

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