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As reações à morte de Jorge Sampaio

Ferro Rodrigues e Manuel Alegre recordam o "amigo". PCP e PAN salientam o legado histórico. Ex-primeiro-ministro Durão Barroso escreveu no Twitter e sublinhou o empenho pela causa democrática. Eis as primeiras reações à morte de Jorge Sampaio, aos 81 anos.

O presidente da Assembleia da República salientou esta quinta-feira que a morte de Jorge Sampaio representa a perda de "um amigo de longa data" com quem partilhou uma constante luta pela liberdade e democracia em Portugal.

MÁRIO CRUZ/LUSA

Jorge Sampaio, antigo Presidente da República (1996/2006), morreu hoje aos 81 anos, depois de ter estado internado no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, desde 27 de agosto, com dificuldades respiratórias.

Na sua mensagem, Ferro Rodrigues disse ter recebido a notícia da morte do antigo líder do PS e antigo presidente da Câmara de Lisboa "com profunda tristeza e sentimento de enorme perda".

"Se perdi hoje um amigo de longa data, com quem tive o privilégio de partilhar sucessos e insucessos nesta constante luta pela Liberdade e pela Democracia, Portugal perdeu um dos seus mais prestigiados cidadãos, que sempre serviu o seu país com distinção e honra", referiu o presidente da Assembleia da República.

Ferro Rodrigues destacou Jorge Sampaio como uma personalidade "imbuída de valores humanistas, de uma visão progressista e de um forte dever cívico".

Para o presidente da Assembleia da República, Jorge Sampaio "foi um socialista dos valores humanitários e da justiça social, para quem a solidariedade não é facultativa, mas um dever que resulta do artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos".

Manuel Alegre: Lamenta "com mágoa" perda de um amigo de mais de 60 anos

Já o antigo dirigente socialista Manuel Alegre lamentou "com mágoa" a morte do antigo Presidente da República e enalteceu a "visão de estadista" de uma figura que considerou fulcral na construção do Portugal democrático.

"Quando o conheci, há 60 e tal anos, numa assembleia magna muito tensa e difícil, realizada no velho Palácio dos Grilos, em Coimbra. Eu ia subir à tribuna e senti uma pancada nas costas. Voltei-me e vi-o, com o cabelo muito ruivo ainda, a dizer-me: 'Eu venho de Lisboa e trago-vos a nossa solidariedade, em nome da Reunião Inter-Associações (RIA)'", recordou o também antigo candidato presidencial.

Jorge Sampaio foi, sustentou, uma das principais figuras da "consolidação da democracia portuguesa".

Durão Barroso: Uma "personalidade realmente empenhada nas causas da democracia"

O antigo primeiro-ministro Durão Barroso recordou Jorge Sampaio como uma "personalidade realmente empenhada nas causas da democracia", enviando os pêsames à família do antigo Presidente da República, que morreu hoje.

"Os meus mais sentidos pêsames para a família de Jorge Sampaio, Presidente da República com quem tive a honra de trabalhar como primeiro-ministro, e que era personalidade realmente empenhada com as causas da democracia e do desenvolvimento social no nosso país e no plano internacional", escreveu José Manuel Durão Barroso na sua conta de Twitter.

João Gomes Cravinho: "Profunda admiração" por Jorge Sampaio

O ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, manifestou "mágoa" pela morte de Jorge Sampaio e afirmou que ter uma "profunda admiração" pelo ex-chefe de Estado, que era um "extraordinário e exemplar português".

"Obrigado Jorge Sampaio", escreveu o ministro na sua conta na rede social Twitter.

João Gomes Cravinho afirmou também que "não cabe num 'tweet', nem a mágoa da perda nem a profunda admiração por este extraordinário e exemplar português".

Inês Sousa Real: Salienta "legado histórico"

A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, lamentou a morte de Jorge Sampaio e salientou que o antigo Presidente da República "deixa um legado histórico", enaltecendo também a sua "forma de fazer política".

"É com pesar que recebemos a notícia do falecimento de Jorge Sampaio", escreveu na sua conta de 'Twitter' a líder do partido Pessoas-Animais-Natureza.

Na sua ótica, Jorge Sampaio "deixa um legado histórico em matéria de direitos humanos, pelo papel que teve na democracia portuguesa e na independência de Timor, assim como pela forma de fazer política".

"A toda a sua família e amigos expresso as nossas sentidas condolências nesta hora de dor", acrescenta Inês Sousa Real na mensagem.

PCP: "Deve ser reconhecido o seu percurso de resistência ao fascismo"

O PCP expressou as condolências à família e ao PS pela morte do antigo Presidente da República Jorge Sampaio, sustentando que tem de "ser reconhecido" pelo percurso "democrático e de resistência ao fascismo".

"A Jorge Sampaio deve ser reconhecido o seu percurso democrático e de resistência ao fascismo no qual releva o papel desempenhado na defesa nos tribunais plenários, nos anos da ditadura, de numerosos antifascistas", acrescenta o partido na nota divulgada.

O PCP também recordou a trajeto político de Sampaio no pós-25 de Abril, nomeadamente através do desempenho das funções de secretário-geral do PS, de Presidente da República entre 1996 e 2006, e de presidente da Câmara de Lisboa, "cargo que exerceu entre 1990 e 1995 no quadro da coligação 'Por Lisboa', em que o PCP exerceu relevante papel".

Ramos-Horta: Jorge Sampaio foi "o grande defensor da causa timorense"

O ex-Presidente de Timor-Leste José Ramos-Horta considerou que Jorge Sampaio foi "o grande defensor da causa timorense" e recordou o "extraordinário ser humano" que se emocionava com o sofrimento de outros povos.

Em declarações à agência Lusa, Ramos-Horta referiu-se ao ex-Presidente português como uma figura "arauto de causas nobres, de causas justas em todo o mundo, em particular em Timor-Leste", porque foi "o grande defensor da causa timorense".

"Devemos-lhe muito, e eu pessoalmente, que o conheço como poucos timorenses, sinto pessoalmente a perda de Jorge Sampaio", disse, recordando o ex-chefe de Estado, além de figura pública e estadista, como "um extraordinário ser humano, um coração bondoso, uma alma muito sensível, que se emociona com o sofrimento de outros seres humanos e de outros povos".

O ex-Presidente timorense lembrou que conheceu Jorge Sampaio na década de 1980 e que esteve com ele em "inúmeras ocasiões", de Lisboa a Nova Iorque, mas recordou particularmente quando o ex-chefe de Estado português esteve presente na entrega do seu prémio Nobel da Paz, que recebeu em conjunto com bispo Ximenes Belo, em 1996.

José Sócrates: "Era uma pessoal encantadora do ponto de vista pessoal"

O antigo primeiro-ministro José Sócrates salientou a sua admiração por Jorge Sampaio, dizendo que foi sempre um profundo respeitador e um cidadão atento à reputação da institucionalidade democrática e um defensor dos direitos individuais e constitucionais.

"Recebi com choque a notícia da morte de Jorge Sampaio, como todos aqueles que foram camaradas no PS e companheiros da sua longa carreira política. Tenho uma memória de Jorge Sampaio muito delicada, porque ele era uma pessoal encantadora do ponto de vista pessoal", declarou o antigo líder do PS (2004/2011) e antigo primeiro-ministro (2005/2011).

José Sócrates referiu que teve um contacto político e institucional mais próximo no último ano em que Jorge Sampaio foi chefe de Estado e ele próprio estava no seu primeiro ano como líder de um executivo de maioria absoluta do PS.

"Tive a oportunidade de transformar aquilo que era uma relação de companheiro político numa relação institucional, da qual ficou uma grande admiração da minha parte por ele, sobretudo pelas suas características pessoais e por ser um homem de espírito. Se é possível identificar um traço político que sobressaia, destaco o seu profundo respeito às instituições democráticas", defendeu o antigo primeiro-ministro.

Catarina Martins: Jorge Sampaio, o homem que "soube fazer pontes à esquerda"

A coordenadora do BE, Catarina Martins, lamentou a morte de Jorge Sampaio, "figura central da democracia", que "soube fazer pontes à esquerda" e que lutou sempre por um Portugal "aberto, cosmopolita, solidário e defensor dos direitos humanos".

Catarina Martins transmitiu as "mais sentidas condolências à família de Jorge Sampaio, aos seus amigos, a quem lhe era mais próximo e ao Partido Socialista".

"Jorge Sampaio é uma figura central da democracia portuguesa. Foi líder da revolta estudantil de 62, advogado de presos políticos, teve uma participação ativa no 25 de Abril e depois da revolução soube fazer pontes à esquerda que permitiram projetos novos para o país, que o levaram às vitórias na Câmara de Lisboa e como Presidente da República", enalteceu.

Na perspetiva de Catarina Martins, Sampaio "foi até ao último dos seus dias um lutador por esta ideia de um Portugal aberto, cosmopolita, solidário, defensor dos direitos humanos".

Marques Mendes: Sampaio era um "senhor na política" e "homem generoso"

O ex-líder do PSD Luís Marques Mendes recordou o ex-presidente como um "senhor na política", "um político de coragem" e um "homem generoso e solidário para com os outros".

"Para além de o recordar como um amigo leal e solidário, eu recordo-o como uma pessoa que era um senhor na vida política, (...) uma referência política, uma referência moral e uma referência ética. Tinha princípios, tinha regras e tinha convicções", salientou Marques Mendes em declarações à Lusa.

O líder do PSD entre 2005 e 2007 refere que Jorge Sampaio era "solidário com os seus camaradas de partido", mas também "muito leal e amigo com os adversários", dando o exemplo da campanha autárquica de Lisboa, em 1989, em que Jorge Sampaio concorreu contra Marcelo Rebelo de Sousa, mas também a campanha para as eleições presidenciais, em 1995, contra Aníbal Cavaco Silva, tendo Jorge Sampaio, em ambos os casos, desenvolvido relações de "amizade e de cordialidade" com os seus adversários.

"Sampaio era assim: defendia as suas convicções, mas era de uma enorme lealdade e correção com os adversários e acabava a fazer, em cada adversário, um amigo", refere Marques Mendes.

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