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Responsável pelas armas nucleares russas assassinado em Moscovo

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 17 de dezembro de 2024 às 11:54
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Igor Kirillov morreu após uma explosão perto de um edifício residencial. A Ucrânia já reivindicou o ataque e Paulo Batista Ramos considera que se chegou ao nível de "guerra total".  

O general responsável pelas armas nucleares e químicas russas foi morto durante um ataque à bomba perto de um edifício residencial no sudeste de Moscovo esta terça-feira. A informação foi avançada pelo Comité de Investigação russo em comunicado: "Um engenho explosivo colocado numa motorizada estacionada perto da entrada de um edifício residencial foi ativado no dia 17 de dezembro de manhã, na avenida Ryazansky. O comandante das forças russas de defesa radiológica, química e biológica, Igor Kirillov, e o adjunto morreram". 

A agência de notícias estatal RIA Novosti publicou uma fotografia do que diz ser a bomba responsável pelo ataque e avançou que o mesmo ocorreu às 06h12, com uma potência tão grande que danificou janelas até ao terceiro andar. 

Os serviços de segurança ucranianos (SBU) já reivindicaram a responsabilidade, à France Presse uma fonte do SBU afirmou: "O atentado bombista de hoje contra o tenente-general Igor Kirillov, comandante das tropas de defesa radiológica, química e biológica das Forças Armadas russas, foi uma operação especial do SBU". Um dia antes do ataque, o serviço de segurança ucraniano já tinha acusado o general de ser responsável pelo "uso massivo de armas químicas banidas" na Ucrânia.  

Paulo Batista Ramos, especialista em relações internacionais, explica à SÁBADO que a novidade trazida por este ataque é o facto de a Ucrânia o reivindicar: "Esta situação cria um novo nível de intimidação por parte dos ucranianos, que estão agora a utilizar os mesmos mecanismos do que os russos, criando uma guerra total".  

Este foi o primeiro assassinato de uma figura militar russa em território russo desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, apesar de outros generais terem sido mortos na frente de combate. Para o especialista, este ataque pode ser considerado uma "pequena escalada" porque "não terá um grande impacto no decurso geral da guerra". 

Igor Kirillov era conhecido por ter um papel fundamental na máquina de propaganda russa contra a Ucrânia e o Ocidente. Em 2023, por exemplo, defendeu que os Estados Unidos estavam a enviar drones para a Rússia "com o objetivo de espalharem mosquitos infetados". O general esteve também envolvido na criação do TOS-2, um rocket termobárico que é frequentemente reportado como tendo sido utilizado na Ucrânia.  

As autoridades ucranianas afirmam que durante a guerra, a Rússia já utilizou armas químicas sob ordem de Igor Kirillov pelo menos 4.800 vezes, além do recurso a granadas com os agentes químicos CS e CN, banidos segundo a Convenção para as Armas Químicas assinado por mais de 150 países, Rússia incluída.  

Dmitri Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, já reagiu ao assassinato e deixo claro que vai existir uma "retaliação inevitável" contra "a liderança política e militar ucraniana". Paulo Batista Ramos considera que o assassinato foi uma oportunidade para a Ucrânia "marcar uma posição", mas também adverte que "é claro que a Rússia vai reagir": "Não tem que ser já nas próximas semanas, nem sequer dentro da Ucrânia, pode ser direcionado a um dos aliados europeus. Este tipo de incidentes cria sempre medo nos dirigentes europeus".   

Este ataque ocorreu um dia depois do presidente eleito dos Estados Unidos ter defendido novamente que Zelensky deve optar pela via negocial para terminar o conflito. "Tem de haver um acordo. Demasiadas pessoas estão a ser mortas", referiu Donald Trump numa conferência de imprensa na sua residência privada em Mar-a-Lago, Florida.  

"É simpático dizer que querem as terras de volta, mas as cidades estão praticamente destruídas. Olhamos para algumas destas cidades e não há nenhum edifício de pé", afirmou numa tentativa de tentar diminuir as expectativas ucranianas.  

Ainda assim Paulo Batista Ramos não acredita que os Estados Unidos retirem o apoio à Ucrânia depois da tomada de posse de Donald Trump, marcada para dia 20 de janeiro. "Trump nomeou o general Keith Kellogg para o cargo de assistente do presidente e enviado especial para a Ucrânia e a Rússia, este homem é um tenente-general habituado à guerra e não acredito que deixe de apoiar a Ucrânia", explica o especialista em relações internacionais, antes de referir que "Trump terá também de avaliar a sua relação com Putin, que deverá manter-se próxima". "É provável que retire a autorização da utilização de armas americanas em território russo, o que pode até não ser uma má decisão". Para Paulo Batista Ramos a altura em que ocorreu o ataque a Igor Kirillov nada tem a ver com a proximidade de Trump da Casa Branca: "Tem sobretudo a ver com uma questão de oportunidade, é uma coincidência".  

Na linha da frente parece que não há fim à vista para a guerra, mas o especialista recorda: "A Síria é um exemplo recente e ótimo de como um impasse pode ser resolvido rapidamente e com uma operação aparentemente silenciosa". Além disso Paulo Batista Ramos explica que os militares estão a viver um momento de "desgaste brutal", estamos a entrar no terceiro inverno de guerra e "os militares ainda não tiveram férias, nem viram as suas famílias, estão cada vez mais cansados, está muito frio e só a presença dos militares norte-coreanos é uma indicação de que a Rússia não está muito bem", pelo que "tudo pode acontecer".  

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