O kufiya começou por ser usado por camponeses e há duas décadas não parecia ser mais do que um acessório de estilo. Em 2007, a revista W qualificou o lenço – que apareceu na coleção de outono do estilista francês Nicolas Ghesquière para a Balenciaga – como um dos “dez melhores acessórios do ano”. Nessa época, foi usado em várias cores por celebridades como Madonna, Kristen Dunst, Cameron Diaz, Colin Farrell, David Beckham ou Mary-Kate Olsen.
Mas a partir de 7 de outubro de 2023, com o início do conflito entre Israel e a Palestina, voltou a ter uma carga política e a ganhar protagonismo nas redes sociais e nas ruas como símbolo de resistência. O lenço tradicional – usado na Jordânia, Palestina, Iraque, Síria, Líbano ou Turquia – uma “bandeira” não oficial para quem apoia a Palestina livre. Feito em algodão ou linho, com padrão geométrico e franjas, o kufiya era usado para proteger a cabeça do frio ou do sol e da poeira do deserto. A sua ascensão a símbolo político deu-se em 1936 quando os palestinianos protagonizaram a grande revolta árabe contra a Grã Bretanha.
A única fábrica de lenços
Mais tarde, em 1974, Yasser Arafat, o icónico líder do movimento nacional palestiniano, surgiu nas Nações Unidas com um kufiya na cabeça e passou usá-la em eventos oficiais. Hoje, a maior parte dos lenços vendidos no mundo e, até na Palestina, são produzidos na China. Apenas uma única fábrica, em Hebron, na Cisjordânia, continua a fazer os lenços artesanais desde 1961. Pertence à família Hirbawi, tem 15 teares, 20 trabalhadores e produz seis mil peças por mês, que exporta para todo o mundo.
A fatia de melancia também se tornou um poderoso símbolo da causa palestiniana, utilizada em cartazes, roupa e outras formas de arte, e exibida em protestos pró-palestinos. Vermelho, verde, preto e branco são as cores da melancia, mas também da bandeira da Palestina. Após a guerra de 1967, quando Israel assumiu o controlo de Gaza e da Cisjordânia, o transporte de símbolos nacionais, como a bandeira palestiniana, foram proibidos nos territórios ocupados. Assim, os palestinianos começaram a usar as fatias de melancia como forma de protesto.
Desde então, muitos artistas usam a melancia nas suas obras, em solidariedade ao povo da Palestina. Em janeiro, quando o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, ordenou que a polícia retirasse as bandeiras palestinianas dos espaços públicos e afirmou que hasteá-las era um ato “de apoio ao terrorismo”, imagens de melancias surgiram nas marchas de oposição a Israel.