Diogo Alexandre Carapinha considera positiva a inclusão da cibersegurança na despesa da NATO, uma vez que "estamos cada vez mais suscetíveis a ataques", mas alerta que
“Ou evolui para uma lógica de ciberdissuasão ou acaba por parecer um bocado irrelevante”.
Com o aumento dos gastos em Defesa, acordado em junho, os estados-membros da NATO assumem a meta de chegar aos 5% do PIB em gastos, no entanto 1,5% destes podem ser gastos em questões relacionadas com a defesa, como é o caso da proteção de infraestruturas críticas, agências de inteligência não relacionadas com Defesa e atividades relacionadas ao espaço. Assim sendo, os gastos com a segurança cibernética passam a estar incluídos no artigo 3º, mas o que acontece se algum membro for atacado? "Um ataque armado contra um será considerado um ataque a todos" como diz o artigo 5º?
Sean Kilpatrick/The Canadian Press via AP
Por um lado, definição mais ampla do que se qualifica como despesa relacionada à defesa facilita o cumprimento da meta de gastar 5% do PIB para aumentar "a capacidade individual e coletiva para resistir a um ataque armado", tal como é referido no artigo 3º, por outro Diogo Alexandre Carapinha, consultor de Strategic Intelligence e Análise de Risco na VisionWare, considera que "é mais do que uma questão orçamental, é uma questão política e significa que os aliados estão a dar mais importância ao ciberespaço, passando a ocupar um ponto central da segurança coletiva".
Esta inclusão pode ser bastante positiva, uma vez que "há mais de uma década que os conflitos cibernéticos e híbridos moldam a realidade geopolítica", partilha com a SÁBADO, e que "estamos cada vez mais suscetíveis a ataques" pelo que o investimento na proteção de sistemas críticos é essencial.
No entanto permanece uma dúvida: em caso de um membro da aliança ser atacado é esperado que os outros respondam? Diogo Alexandre Carapinha expõe precisamente esta dúvida e refere que a NATO não esclareceu o que vai acontecer, deixando "a questão em aberto", ainda assim não tem dúvidas de que o ciberataque pode ser considerado um ataque armado. A avaliação deve ser feita tendo em conta "três fatores: os impactos físicos, a escala de persistência do ataque e a atribuição clara da autoria".
Este terceiro ponto pode ser o "o mais complicado, como é que podemos ter a certeza da autoria de um ataque em tempo útil para ser organizada uma resposta?", questiona o especialista.
Assim sendo Diogo Alexandre Carapinha defende que existem ataques que podem justificar a resposta de todos, "estamos a falar de ataques cibernéticos que ponham em causa a soberania de um país", "que deitem abaixo o sistema energético ou a distribuição de águas". Mesmo nesses casos "a resposta continua a não ser automática", tal como não o é numa da guerra "tradicional" até porque o artigo 5º refere que em caso de ataque cada membro tomará "a ação que considerar necessária".
Diogo Alexandre Carapinha reforça que "a NATO é conhecida por tentar evitar decisões precipitadas, porque uma decisão errada pode pôr em causa a sua credibilidade" pelo que considera pouco provável que o ocorra uma resposta imediata a um ataque cibernético: "A questão da atribuição inequívoca é um problema real porque é muito difícil provar de forma inequívoca e em tempo útil quem é o autor do ataque. Os mísseis ou drones conseguimos ver, mas este tipo de coisas não".
O especialista considera que a aliança transatlântica tem de arranjar uma forma de responder a estas questões e esclarecer melhor como vai reagir a este tipo de ataques, até porque "se o ciberespaço é um domínio de guerra e se os ataques estão a aumentar é uma questão de tempo até vermos a NATO a ser confrontada com a decisão de ativar, ou não, o artigo 5º".
A falta de respostas até ao momento é considerada por Diogo Alexandre Carapinha como um "silêncio estratégico" por parte da aliaça, que "pode ter vantagens, mas não pode durar para sempre": "Ou evolui para uma lógica de ciberdissuasão ou acaba por parecer um bocado irrelevante".
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Montenegro e Rangel ignoram, de forma conveniente, que o dever primordial de qualquer Estado democrático é proteger a vida e a integridade física dos seus cidadãos
O Chega está no centro do discurso político e comunicacional português, e bem pode o PSD querer demarcar-se a posteriori (e não quer muito) que perde sempre. A agenda política e comunicacional é a do Chega e, com a cloaca das redes sociais a funcionar em pleno
É tempo de clarificação e de explicarmos às opiniões públicas europeias que sem Segurança não continuaremos a ter Liberdade. A violação do espaço aéreo polaco por parte da Rússia, com 19 drones, foi o episódio mais grave da história da NATO. Temos de parar de desvalorizar a ameaça russa. Temos de parar de fazer, mesmo que sem intenção, de idiotas úteis do Kremlin. Se não formos capazes de ajudar a Ucrânia a resistir, a passada imperial russa entrará pelo espaço NATO e UE dentro
Esta ignorância velha e arrastada é o estado a que chegámos, mas agora encontrou um escape. É preciso que a concorrência comece a saber mais qualquer coisa, ou acabamos todos cidadãos perdidos num qualquer festival de hambúrgueres