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Nagorno-Karabakh: governo separatista renuncia

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 28 de setembro de 2023 às 16:29
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Até esta quinta-feira de manhã mais de 65 mil pessoas tinham cruzado a fronteira entre o Azerbaijão e a Arménia à procura de abrigo.

Os arménios residentes em Nagorno-Karabakh afirmaram esta quinta-feira que vão dissolver a autoproclamada República de Artsakh, um estado separatista que defenderam nas últimas três décadas e de onde mais de metade da população fugiu depois da ofensiva iniciada pelo Azerbaijão na semana passada.

REUTERS/David Ghahramanyan

Num comunicado explicaram que a autodeclarada República de Artsakh "deixa de existir"a partir de 1 de janeiro de 2024, o que pode ser entendido como uma rendição formal ao Azerbaijão.

Ilham Aliyev, presidente do Azerbaijão, já considerou que esta é uma restauração triunfante da soberania sobre uma área reconhecida internacionalmente como parte do seu território apesar da maioria étnica arménia ter conquistado a independência após um conflito na década de 1990.

Do lado arménio esta rendição é vista como uma derrota e uma tragédia nacional. Segundo os dados oficiais, até esta quinta-feira de manhã mais de 65 mil pessoas tinham cruzado a fronteira à procura de abrigo. O primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, referiu que "a análise da situação mostra que nos próximos dias não haverá mais arménios em Nagorno-Karabakh" e acusou ainda o Azerbaijão de "limpeza étnica".

É estimado que a população de arménios Nagorno-Karabakh tenha 120 mil indivíduos.

O Azerbaijão nega as acusações de "limpeza étnica" garantindo que não está a forçar os habitantes de Nagorno-Karabakh a partirem para a Arménia e que irá reintegrar pacificamente a região de Karabakh, garantindo os direitos cívicos da etnia arménia.

Além disso, o presidente do Azerbaijão garante "que a população civil não foi ferida durante as medidas antiterroristas e apenas as formações armadas e instalações militares ilegais foram visadas".

Mas o povo de Nagorno-Karabakh não confia nessa promessa devido à longa história de violência entre os dois lados, que incluem duas guerras desde o desmembramento da União Soviética.

Vários governos do Ocidente já manifestaram as suas preocupações com a crise humanitária e exigiram a presença de observadores internacionais capazes de monitorizar o tratamento das tropas do Azerbaijão à população local. Samantha Power, líder da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional afirmou esta semana que já lhe chegaram "relatos muito preocupantes de violência contra civis".

"Junta criminosa"

Apesar de defender que não tem nada contra os arménios Nagorno-Karabakh, o presidente azeri garantiu na semana passada que um dos líderes da comunidade não passava de uma "junta criminosa" que seria levado à justiça.

Esse mesmo líder, Ruben Vardanyan, foipreso na quarta-feiraenquanto tentava fugir para a Arménia e o serviço de segurança estatal do Azerbaijão já confirmou que está sob acusações de financiar o terrorismo e de cruzar ilegalmente a fronteira do Azerbaijão no ano passado.

Deslocações em massa

As deslocações em massa têm sido uma característica do conflito na região de Karabakh desde que eclodiu no final da década de 1980, altura em que a União Soviética se aproximava do colapso.

Entre 1988 e 1994 é estimado que 500 mil azeris tenham abandonado as suas casas em Karabakh e 350 mil arménios saíram do Azerbaijão. Do outro lado, 186 mil azeris deixaram a Arménia.

Esta semana as deslocações em massa voltaram e mais de 65 mil pessoas fugiram em carros, camiões, autocarros e até em tratores agrícolas. Este número representa mais de metade da população Nagorno-Karabakh.

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