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Enrique Tarrio, o líder dos Proud Boys que foi informador do FBI

Mariana Branco
Mariana Branco 30 de janeiro de 2021 às 18:21
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Viu uma pena de prisão ser reduzida em 14 meses por colaborar com as autoridades norte-americanas. Mas garante: "Não me lembro de nada disso".

A transcrição é de um julgamento em tribunal federal, de 2014, e garante que Enrique Tarrio, líder do grupo de extrema-direita Proud Boys, colaborou como informador infiltrado para as forças de segurança norte-americanas, entre as quais o FBI. O próprio, por outro lado, nega: "Não me lembro de nada disso".

Enrique Tarrio
Enrique Tarrio Getty Images

Do que garante não se lembrar é do acordo a que, segundo três fontes distintas, chegou com o Ministério Público de Miami para reduzir a sua pena de 30 para 16 meses pelo crime de fraude. O líder dos Proud Boys aceitou trabalhar, segundo a Reuters, como informador infiltrado em casos que levaram à detenção de mais de uma dúzia de envolvidos em processos relacionados com drogas, jogo e tráfico humano.

Como conseguiu então que a sua pena fosse reduzida? Tarrio assegura que as acusações federais por fraude na venda de medicamentos para a diabetes que roubava e vendia por um valor inferior ao de mercado foram reduzidas porque ajudou os investigadores do caso a "esclarecer" dúvidas.

No entanto, a declaração do líder do grupo extremista, nacionalista e islamofóbico vai contra as atas do processo levado a cabo em 2014. A juíza do caso, Joan Lenard, assegurou que Enrique Tarrio "proporcionou assistência substancial na investigação e acusação de outras pessoas relacionadas com atividades criminosas".

transcrição tribunal enrique tarrio
Página 6 da transcrição do tribunal, de 2014. O testemunho é de Jeffrey Feiler, advogado de defesa de Tarrio

O advogado de defesa de Tarrio, Jeffrey Feiler, declarou perante o tribunal, na altura, que o seu cliente tinha estado infiltrado em várias investigações. Descreveu-o como um informador "prolífico".

Segundo os documentos do tribunal, depois de ouvir os argumentos do Ministério Público e os depoimentos dos agentes do FBI e da polícia, a juíza aceitou reduzir a pena de Enrique Tarrio de 30 a 16 meses. Desde essa altura que não existem provas que tenha voltado a cooperar com as autoridades.

Enrique Tarrio
Enrique Tarrio Getty Images

Enrique Tarrio nasceu em Miami em 1984 e define-se como afro-cubano. Foi o rosto mais visto do grupo de extrema-direita a que Donald Trump se dirigiu no primeiro debate eleitoral – pediu-lhes que recuassem e se mantivessem a postos. No frente-a-frente com Joe Biden o republicano não condenou a conduta dos elementos do grupo que se descrevem como "machistas ocidentais".

Tarrio chegou a viajar para Washington para participar em comícios a favor de Trump e fez parte dos protestos que negavam os resultados eleitorais e acusavam os democratas de fraude.

membros Proud Boys
Membros dos Proud Boys marcharam em Washington, a 12 de dezembro, contra os resultados eleitorais que deram a vitória a Joe Biden

Dias antes do ataque ao Capitólio, Tarrio foi detido ao chegar a Washington e obrigado a abandonar a cidade. Era acusado de destruição de propriedade após roubar de uma igreja tradicionalmente frequentada pela população negra de Washington uma bandeira com o lema Black Lives Matter, que queimou de seguida.

Os antecedentes criminais de Enrique Tarrio remontam a 2004, quando foi condenado por roubar uma mota no valor de 50 mil dólares (cerca de 41 mil euros). Em 2012, foi acusado de fraude por ligação a um esquema de venda de medicamentos para a diabetes. Foi nessa altura que foi condenado a 30 meses de prisão.

Enrique Tarrio encabeça os Proud Boys, referenciados pelo FBI como um grupo de ódio supremacista branco e o Southern Poverty Law Center, a instituição de referência no que toca ao estudo do extremismo nos Estados Unidos, inclui-os na lista de grupos de ódio do país.

Começaram por ser um pequeno clube informal que promovia os valores brancos ocidentais mas acabou por se tornar numa organização mais estruturada. Cada membro declara ser "um chauvinista ocidental que se recusa a desculpar-se por criar o mundo moderno". Rejeitam os rótulos de supramacistas brancos mas os seus membros são publicamente islamofóbicos e anti-semitas.

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