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Defesa da paz foi constante nos primeiros 100 dias de pontificado do Papa Leão XIV

Lusa 07:20
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Na primeira saudação dominical aos peregrinos, Leão XIV gritou "nunca mais a guerra", falando "aos grandes do mundo" e referindo o "cenário dramático atual de uma III Guerra Mundial em pedaços".

As declarações pela paz e contra a guerra, sobretudo os conflitos na Ucrânia e em Gaza, têm sido uma constante para o Papa Leão XIV, cujos primeiros 100 dias de pontificado se assinalam na sexta-feira.

Papa Leão XIV recebe boneco numa audiência no Vaticano
Papa Leão XIV recebe boneco numa audiência no Vaticano AP Photo/Gregorio Borgia

As questões do ambiente, cara ao seu antecessor, o Papa Francisco, da justiça social e dos abusos sexuais também mereceram a atenção do 267.º bispo de Roma.

"Que a paz esteja convosco" foram as suas primeiras palavras no dia em que foi eleito como novo chefe da Igreja católica (08 de maio), dirigindo-se aos fiéis na Praça de São Pedro.

Três dias depois, na primeira saudação dominical aos peregrinos reunidos no mesmo local, Leão XIV gritou "nunca mais a guerra", falando "aos grandes do mundo" e referindo o "cenário dramático atual de uma III Guerra Mundial em pedaços".

Evocando os "sofrimentos do amado povo" da Ucrânia, o Papa pediu que se faça "tudo o que for possível para alcançar o mais rapidamente possível uma paz autêntica, justa e duradoura" no país em guerra, invadido pela Rússia em fevereiro de 2022.

"Entristece-me profundamente o que está a acontecer na Faixa de Gaza", disse no mesmo discurso, pedindo um "cessar-fogo imediato" e "ajuda humanitária" para "a população civil exausta", bem como "que todos os reféns sejam libertados".

A ofensiva israelita contra o enclave - que começou depois dos ataques do movimento radical palestiniano Hamas em outubro de 2023 no sul de Israel, que mataram cerca de 1.200 pessoas e fizeram perto de 250 reféns -- já causou mais de 61 mil mortos, destruiu quase todas as infraestruturas de Gaza e obrigou à deslocação de centenas de milhares de pessoas, levando vários países e organizações a acusarem o Estado hebreu de genocídio.

Numa audiência aos representantes das 23 Igrejas Católicas do Oriente alguns dias mais tarde, o Papa exortou os líderes mundiais a sentarem-se e a negociarem para "silenciar as armas", tendo oferecido a mediação do Vaticano a todas as partes beligerantes.

E durante a missa de início do seu pontificado, Leão XIV alertou para a fome sofrida em Gaza por "crianças, famílias e idosos" e pediu ajuda humanitária, referindo igualmente que a "Ucrânia martirizada" espera "negociações para uma paz justa e duradoura".

Sobre este conflito, o Papa já falou com os presidentes ucraniano e russo, Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin, respetivamente, assim como com o presidente do Conselho Europeu, António Costa, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Já este mês, a propósito dos 80 anos dos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki, disse esperar que a sua memória "sirva de advertência universal contra a devastação causada pela guerra, e em particular pelas armas nucleares".

Outros dos apelos feitos diversas vezes pelo Papa aos líderes mundiais foi para não ignorarem as necessidades dos mais vulneráveis, tendo proposto logo na missa de início do Pontificado uma Igreja católica unida contra "um paradigma económico que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres".

Criticou "desequilíbrios e injustiças que conduzem (...) a condições de trabalho indignas e a sociedades cada vez mais fragmentadas e conflituosas".

Pediu "esforços para remediar as desigualdades globais, que deixam profundos fossos entre a opulência e a pobreza, entre continentes, países e até mesmo dentro das sociedades", considerando que "uma boa ação política, que favoreça uma distribuição equitativa dos recursos, pode oferecer um serviço eficaz à harmonia e à paz, tanto a nível social como internacional".

Defendeu ainda a preservação da dignidade dos migrantes e encorajou mais de um milhão de peregrinos reunidos em Roma para o Jubileu dos Jovens a "aspirar a grandes coisas" e a não cair no conformismo e no materialismo.

Sobre os abusos, o Papa afirmou que não deve haver tolerância na Igreja Católica para qualquer tipo de abuso, seja sexual, espiritual ou de autoridade, e defendeu uma cultura de prevenção baseada numa "vigilância ativa, (...) processos transparentes e (...) uma escuta sincera dos que foram feridos".

Também pediu "um diálogo renovado" sobre como está a ser construído o futuro do planeta, numa mensagem para assinalar o 10.º aniversário da encíclica "Laudato Si" de Francisco para proteção da "casa comum que Deus nos confiou".

Segundo o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, Leão XIV recebeu "com muita simpatia" o convite do seu governo para participar na Cimeira do Clima (COP30), em novembro, na cidade amazónica de Belém.

Também agradeceu o convite para visitar o Santuário de Fátima, segundo o cardeal português António Marto, depois de ter estado duas vezes em Portugal quando respondia apenas pelo nome de Robert Prevost.

Até agora, o Papa só anunciou a intenção de visitar a Turquia para participar no 1.700.º aniversário do Consílio de Niceia, a primeira assembleia ecuménica da história do cristianismo, que estabeleceu as bases doutrinais ainda hoje reconhecidas por muitas denominações cristãs.

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