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Como foi o "divórcio" entre Trump e Musk? 

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 06 de junho de 2025 às 15:21
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Nas últimas 24 horas o presidente dos Estados Unidos e o dono da Tesla deixaram sérias críticas um ao outro em público. Musk considerou até que Trump não teria vencido as eleições sem o seu apoio.

Dois dos homens mais poderosos do mundo pareciam muito próximos e juntaram-se até para liderar o governo dos Estados Unidos. Foi ainda durante a campanha de Donald Trump que Elon Musk se começou a aproximar publicamente do republicano e sorteou até ummilhão de dólares por dia aos eleitores de Trump.  

Brandon Bell/Pool via REUTERS/File Photo

Já depois da vitória de Trump, o dono da Telsa passou a integrar o seu governo e a liderar o Departamento de Eficiência Governamental (conhecido como  DOGE) que tinha como objetivo reformular a burocracia e o financiamento do governo, no fundo, diminuir os gastos do Estado.  

Durante os últimos meses foram vários os elogios trocados mas a paixão entre os dois durou pouco e na última semana Musk saiu da administração dos Estados Unidos, depois de criticar a "grande e bela" legislação de Trump considerando-a como uma "abominação repugnante": "Que vergonha para aqueles que votaram, vocês sabem que erraram".  

Tão pública como a sua paixão tem sido o divórcio. Trump começou por referir: "Elon e eu tínhamos um ótimo relacionamento, não sei se vamos continuar a ter", para depois defender que Musk só mudou o seu discurso porque a Tesla está a ser afetada pelas medidas republicanas de acabar com os empréstimos fiscais para a compra de veículos elétricos.

Musk teve uma reação rápida no X, rede social do qual é dono: "Tanto faz" e mais tarde considerou que o republicano é "ingrato" porque os democratas teriam vencido as eleições de novembro se não fosse o seu apoio. É estimado que Musk tenha doado cerca de 290 milhões de dólares para a campanha de Trump.   

Durante o dia de ontem a discussão intensificou-se, especialmente nas redes sociais, e Musk recordou as declarações do presidente dos Estados Unidos quando este defendeu: "Ele é um patriota. Nem sei se é republicano". Além disso, repartilhou também publicações de 2012 e 2013 onde Trump criticava os republicanos por aumentarem a dívida, entre eles um em que o atual o presidente dos Estados Unidos defendeu: "Nenhum membro do Congresso deve ser elegível para reeleição se o orçamento do nosso país não estiver equilibrado, défices não são permitidos".  

Ao final da tarde Musk chegou a criar uma sondagem onde perguntou aos seus seguidores se "está na hora de criar um novo partido político nos Estados Unidos que realmente represente os 80% do centro?" 

Mais grave acabaria por ser a acusação de que o nome do republicano está nos ficheiros do caso de Epstein (condenado por ter uma rede de abuso de menores). "É altura de largar a verdadeira bomba. Donald Trump está nos ficheiros do Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos", escreveu em mais um post na sua rede social.

Foi depois a vez de Trump responder aos ataques do dono da Tesla, utilizando a rede social por si criada, a Truth Social: "Elon estava esgotado, pediu para sair, retirei a sua exigência de veículos elétricos que obrigava toda a gente a comprar carros elétricos que ninguém queria (algo que ele já sabia há meses que ia acontecer), e ele simplesmente enlouqueceu".

O presidente ameaçou ainda que uma das "maneiras mais fácil de poupar dinheiro" é "encerrar os subsídios e contratos governamentais com Elon". Ao longo dos últimos anos, Elon Musk e as suas empresas receberam pelo menos 38 mil milhões de dólares provenientes de contratos governamentais, empréstimos e subsídios. Isto tendo em conta que além da Tesla, Musk é também o dono da SpaceX, uma fabricante de foguetões que neste momento é responsável por desenvolver as naves espaciais que levam os astronautas da NASA ao espaço.

Em mais um contra-ataque Musk desafiou: "Vá em frente, faça o meu dia", defendendo ainda que a influência de Trump é muito mais limitada do que a sua: "Restam 3,5 anos como presidente a Trump, mas eu vou continuar aqui por mais de 40 anos". Ainda ao ataque, Musk defendeu que o presidente norte-americano deveria ser alvo de um impeachment (destituição) e ser substituído por JD Vance uma vez que as suas tarifas "causarão uma recessão no segundo semestre deste ano".

Já na manhã desta sexta-feira, o vice-presidente dos Estados Unidos afirmou que está "orgulhoso de estar ao lado" de Trump, referindo: "O presidente Trump fez mais do que qualquer pessoa para ganhar a confiança do movimento que lidera".  

Ao canal de televisão ABC, Trump referiu que "não está particularmente interessado" em falar com Musk e garantiu: "O homem perdeu o juízo".  

Com esta troca pública de galhardetes, as ações da Tesla, que já estavam em queda desde que Musk se juntou à administração Trump, desceram ainda mais e apenas na quarta-feira caíram 14%. Desde janeiro a queda é já de 25%.

Nos próximos dias é possível que haja mais desenvolvimentos neste conflito, ao contrário do que Trump referiu no final da noite de ontem foi avançado que poderia estar marcada uma chamada para esta tarde. Um ponto importante de referir é que Musk pode verdadeiramente influenciar a política americana uma vez que tem recursos quase ilimitados para reagir e pode até financiar adversários de Trump dentro do partido e os republicanos têm eleições primárias no ano que vem. 

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