Quando foi anunciado que um porta-contentores estava encalhado no Canal do Suez, no Egito, a 23 de março, Abdullah Abdul-Gawad foi o primeiro a chegar ao local para ajudar. Com a sua "pequena" retroescavadora, durante cinco dias e cinco noites, trabalhou 21 horas por dia - mas ainda não foi pago.
Nesse dia, o operador de restroescavadora pensava que não teria trabalho. Mas o seu patrão ligou-lhe, dando conta do que se estava a passar com o Ever Given, a embarcação de 400 metros de comprimento e com capacidade para 224 mil toneladas de carga.
"Precisamos que pegues no carro e venhas já porque és o único operador de restroescavadora que está perto o suficiente", contou aoBusiness Insider. O jovem de 28 anos, que opera este tipo de máquinas desde a universidade, diz que ele e os seus colegas trabalharam 21 horas por dia, pouco dormiram, mas ainda não receberam pelo seu trabalho extra.
Os esforços para desencalhar o EverGiven foram internacionais, com a ajuda a chegar de todo o mundo, mas Abdul-Gawad foi o primeiro a chegar, aquele que ficou conhecido pela imagem viral da "pequena" retroescavadora a escavar perante um gigantesco portacontentores, maior que a Torre Eiffel.
Segundo Abdullah, o Ever Given estava encalhado a cerca de seis metros de profundidade e a sua proa estava na margem oposta, o que fazia com que a posição lateral bloqueasse todo o tráfego. Para se aproximar da base do navio, construiu uma "ponte" improvisada com os escombros que cavou, o que permitiu que se aproximasse do local e começasse a escavar.
Mas a tarefa não foi fácil: "Estava com medo de que o navio pudesse inclinar muito para um lado ou para o outro. Porque se ele caísse de lado em mim, era o adeus para mim e para a escavadora. Olhar para o tamanho do navio e para o tamanho da escavadora foi absolutamente assustador."
Dois dias depois chegaram dois dias depois, mas os seus operadores ficaram de pé atrás em fazer o que Abdullah estava a fazer. Em vez disso, abriram caminho entre os escombros e começaram a escavar noutro local.
Ao segundo dia, os "memes" sobre a situação chegaram e o operador reconhece: "Até chegar a 5, 6 metros abaixo, não havia qualquer movimento."
Mas não ficou contente com as piadas na Internet, sentido que "toda a gente estava a gozar com o assunto": "Foi isso que me deixou tão determinado. Estão a gozar comigo, então eu vou provar que consigo fazer isto."
Os períodos de descanso eram passados nas barracas onde dormiam os guardas que trabalhavam próximo do local. "Eles sabiam que se fôssemos para casa, não nos iam ver durante oito ou nove horas", indicou. No máximo, tinham três horas de sono por noite e, num dos dias, Abdullah dormiu apenas uma hora.
A 25 de março, chegou a ajuda, através de um navio-draga especializado, o Mashhour, que conseguiu colocar o cargueiro de novo a flutuar quatro dias depois. No fim, o operador da restroescavadora e os seus colegas estavam "meio-mortos de exaustão".
Mais de duas semanas depois de ter chegado ao Canal de Suez para desencalhar o Ever Given, Abdul-Gawad diz não ter recebido qualquer reconhecimento - apenas uma pequena cerimónia levada a cabo por um jornal local.
"Fui convidado para a cerimónia, onde homenagearam as pessoas que ajudaram a desencalhar o navio", explicando que, no entanto, a homenagem era dirigida à Autoridade do Canal do Suez, não a ele.
Mas não guarda remorsos: "Foi um grande feito. Primeiro para o Egito, mas para nós também. Isto é algo que acontece, talvez, uma vez na vida, ou duas. É motivo de orgulho."