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O encontro de Trump com Zelensky e os líderes europeus em quatro pontos

Ana Bela Ferreira 19 de agosto de 2025 às 09:43

No final da noite de segunda-feira apesar do ar satisfeito dos envolvidos, não houve verdadeiros avanços. Quer em relação à segurança da Ucrânia quer com vista a um acordo de paz.

Donald Trump recebeu na Casa Branca o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, e vários líderes europeus, entre os quais o secretário-geral da NATO, para planear os próximos passos em relação à guerra na Ucrânia. Estes encontros sucederam-se à cimeira de sexta-feira no Alasca com Vladimir Putin.
Trump encontra-se com Zelensky e líderes europeus para discutir segurança e paz na Ucrânia AP Photo/Alex Brandon
No final do encontro ficaram algumas intenções no ar: de garantir a defesa da Ucrânia numa espécie de coligação à la NATO, sem ser a NATO, e uma possível futura reunião entre Putin e Zelensky, algures nas próximas duas semanas. Eis quatro pontos-chave destas negociações:

Vêm aí um encontro entre Zelensky e Putin?

No fim de todas as reuniões, Donald Trump escreveu na sua rede social (Truth Social) que tinha telefonado a Putin para começar a preparar um encontro entre ele e o presidente ucraniano. Adiantando ainda que depois desse encontro bilateral, se seguiria um trilateral com os dois líderes em conflito e o próprio Donald Trump.
Soube-se depois, através de um conselheiro de Putin que a conversa entre os dois líderes demorou 40 minutos, refere a BBC. Mas, segundo o assessor de política externo de Putin, Yuri Ushakov, citado pelo New York Times, a conversa entre os dois foi "franca e muito construtiva", o que pode significar que os dois lados não estavam plenamente de acordo, já que o uso da expressão "franca" em diplomacia normalmente tem esse significado. Sabe-se que Putin não considera Zelensky o líder legítimo ou um seu igual, pelo que pode não querer encontrar-se diretamente com ele.

Líderes europeus apareceram como frente unida

O chanceler alemão, Friedrich Merz, começou por argumentar que era necessário um cessar-fogo antes de se avançar com as negociações com a Rússia. Algo que Trump diplomaticamente rejeitou: "Não acho que isso seja necessário." Já perante a desconfiança de Emmanuel Macron em relação às intenções de Putin - "Não estou convencido que o presidente Putin também queira a paz" - a resposta acabaria por surgir quando os microfones já estavam desligados. Trump disse-lhe: "Acho que ele quer fazer um acordo. Acho que ele quer um acordo por minha causa. Compreende isso? Por mais louco que possa parecer."
Apesar das opiniões divergentes, não houve desentendimentos como o que levou Zelensky a abandonar a Casa Branca abruptamente em fevereiro. Todos parecem estar de acordo com a necessidade de uma reunião bilateral entre os líderes russo e ucraniano. Para descortinar ficam ainda as bases das garantias de segurança para Kiev e a necessidade de ceder ou não território ucraniano.

As garantias de segurança

O presidente norte-americano foi vago neste ponto. O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, afirmou depois do encontro, em entrevista à Fox News, que os Estados Unidos se envolverão num esforço de cerca de 30 países para garantir a segurança da Ucrânia no quadro de um acordo de paz com a Rússia. Porém, na sua mensagem na Truth Social, Trump escreveu que foram discutidas "garantias de segurança para a Ucrânia, que serão garantidas pelos vários países europeus, com a coordenação dos EUA". Aos jornalistas disse apenas que os EUA iriam "ajudar" os ucranianos. "A Europa é a primeira linha de defesa, mas vamos estar envolvidos", afirmou. Os líderes europeus queriam um compromisso de garantias de segurança semelhantes ao artigo 5º da NATO, segundo o qual um ataque a um estado membro significa um ataque a todos os estados. Assim, um ataque  Ucrânia, seria um ataque a todos os países da NATO. Zelensky foi questionado sobre que garantias queria e responde: "Todas". Na conferência de imprensa, o presidente ucraniano indicou que parte dessas garantias iam envolver um acordo entre os EUA e a Ucrânia de 90 mil milhões de dólares em armas. Armamento como sistemas de aviação e anti-míssil que, neste momento, Kiev não tem.

A operação de charme de Zelensky

Depois do encontro desastroso de fevereiro, Volodymyr Zelensky preparou-se para agradar aos americanos. Acusado por JD VAnce de nunca ter agradecido aos EUA, os primeiros minutos em que chegou à Casa Branca ficaram marcados por seis "obrigados".  Outro dos pontos da sua primeira visita foi não ter ido de fato. Desta vez apareceu de fato preto - sem gravata - o que levou Trump a dizer-lhe que estava "todo aperaltado hoje". Zelensky aproveitou também para estreitar laços com a família presidencial norte-americana Entregou uma carta a Trump dizendo-lhe: "Não é para si - é para a sua mulher". A missiva vem da primeira dama ucraniana, Olena Zelenska, e dirige-se a Melania Trump. Também os líderes europeus elogiaram Trump. O secretário-geral da NATO (que já noutras ocasiões elogiou publicamente o republicano) aproveitou para "agradecer a sua liderança". E a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, saudou o facto de se dever a Trump a mudança da Rússia em relação a um acordo de paz.
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