Como o Papa Francisco planeou o seu funeral
Será enterrado fora do Vaticano, ao contrário dos papas anteriores, e o seu corpo não será depositado em três caixões, de cipreste, chumbo e carvalho. “Não tenho medo da morte e imagino-a em Roma”, disse em 2017.
Há uma semana internado com uma infeção respiratória polimicrobiana que depois se agravou para pneumonia, o Papa Francisco está preparado para partir. "Posso não sobreviver", terá dito no Hospital Gemelli, em Roma. Afetado com uma pneumonia bilateral, o estado de saúde do chefe da Igreja Católica, que também é asmático, alarmou o mundo católico.
Apesar de uma "ligeira melhoria" do estado de saúde, anunciada ontem pelo Vaticano, "as análises laboratoriais e o raio-x torácico do papa continuam a apresentar um cenário complexo", indica a informação.
A Guarda Suíça, dedicada à proteção do papa, estaria mesmo a realizar ensaios da cerimónia fúnebre, avançou o jornal suíço Blick. Mas o capitão da Guarda Suíça, Christian Kuhne, apressou-se a desmentir: "Estamos a trabalhar normalmente", garantiu à agência de notícias católica KNA.
Resolver pontas soltas
Certo é que o Papa Francisco tem apressado decisões que irão influenciar a sua sucessão. Dias antes de ser internado, decidiu estender o mandato do decano do Colégio de Cardeais, Giovanni Battista Re, de 91 anos, adiando a eleição que deveria ser realizada entre os cardeais para nomear um novo responsável. O decano será o responsável pela realização do conclave, a reunião de cardeais em que se elege um novo Papa.
Também nomeou, pela primeira vez na história do Vaticano, uma mulher para liderar a Comissão Pontifícia para o Estado da Cidade do Vaticano e o Governatorato do Estado. A irmã franciscana Rafaella Petrini, que era a secretária-geral, ascende a uma posição até aqui reservada a cardeais.
Cerimónias fúnebres
Aos 88 anos de idade, e muito antes de adoecer, o Papa Francisco tratou ainda do seu próprio funeral. Em 2017, pediu ao Departamento para as Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice para simplificar as regras das cerimónias fúnebres papais. A nova versão do Ordo exsequiarum Romani Pontificis, foi apresentada em novembro de 2024.
"O rito renovado devia sublinhar ainda mais que o funeral do pontífice romano é o de um pastor e discípulo de Cristo e não o de um homem poderoso deste mundo", explicou o responsável pelo Departamento para as Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, o arcebispo Diego Ravelli, ao Vatican News.
As celebrações fúnebres mantêm as três etapas dos funerais papais: a residência do papa, a Basílica de São Pedro e o local da sepultura. Mas foram feitas algumas alterações. Até aqui, quando um Papa morria a morte era declarada no quarto do defunto. As novas regras impõem que esta seja feita na capela privada, com o corpo já deposto num caixão.
O chefe da Igreja Católica deixará de ser colocado nos tradicionais três caixões: cipreste, chumbo, e por fim, de carvalho. Agora está determinado um único caixão de madeira com interior de zinco. E será neste caixão que o defunto será transferido para a Basílica de São Pedro. Aqui, o corpo já não será exposto num altar, para veneração dos fiéis, mas no caixão com a tampa removida. Um pormenor importante: o báculo papal, símbolo do poder do sumo pontífice, não será colocado junto ao caixão, como era até aqui.
O Papa Francisco também já decidiu onde quer ser enterrado. E não é onde a maioria dos papas está sepultado, na Basílica de São Pedro. O papa argentino escolheu a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, devido à sua especial devoção pelo ícone Nossa Senhora das Neves: quando foi eleito a 14 março de 2013, foi para lá que se dirigiu para rezar e lá regressou antes e depois de cada viagem apostólica.
"Simplificámos muito as cerimónias. Tínhamos de o fazer!", disse o Papa Francisco à televisão mexicana em 2017. "E eu serei o primeiro a protagonizá-lo", disse na altura.
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