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McDonald's: funcionários britânicos denunciam assédio e agressão sexuais

Luana Augusto com Leonor Riso 18 de julho de 2023 às 15:24
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A maioria das queixas foram ignoradas. Perante um trabalho feito pela BBC, cadeia diz que investigará todas as alegações apresentadas.

O canal de televisão BBC investigou durante cinco meses as condições de trabalho nos restaurantes britânicos da cadeia de fast food McDonald´s, e revelou casos de assédio sexual, agressão sexual, racismo e bullying.

Vários funcionários falaram com o canal britânico, que concluiu que 78 pessoas foram assediadas sexualmente e 31 foram agredidas sexualmente. 18 foram vítimas de racismo e seis afirmaram ter sido alvos de homofobia.

A empresa começou a ser investigada em fevereiro, depois de ter assinado um acordo com a Comissão para a Igualdade e os Direitos Humanos, no qual se comprometia a proteger o seu pessoal contra o assédio sexual.

A maioria dos trabalhadores alvo destes abusos tinham idades compreendidas entre os 16 e os 17 anos.

É o caso de Shelby, que tinha apenas 16 anos quando começou a trabalhar num restaurante McDonald's, em Berkshire. Sofreu toques por parte dos colegas mais velhos que utilizavam o espaço pequeno da cozinha como desculpa. "Apalpavam a barriga, a cintura, o rabo. Em todos os turnos em que trabalhei, havia pelo menos um comentário a ser feito, ou era apalpada ou era uma coisa mais grave, como ter o rabo agarrado, às suas ancas", contou.

Havia um homem na casa dos 50 anos, em particular, que era conhecido por ter este tipo de comportamentos. Um dia, durante o verão passado, Shelby estava no balcão quando o homem se aproximou e a agarrou, puxando-a para a sua virilha. "Fiquei paralisada. Senti-me enojada", confessou.

Chinyere, que vive numa cidade no noroeste da Inglaterra chamada Cheshire, ouviu comentários racistas e pedidos de pessoas que lhe queriam mostrar o pénis.

Agora com 17, anos conta que denunciou a situação a uma colega responsável pelo bem-estar do pessoal. No entanto, foi-lhe recomendado que ignorasse o comportamento do homem e que voltasse ao trabalho. Após vários meses de assédio, a trabalhadora confidenciou o sucedido ao seu padrasto que escreveu à sede da empresa e à polícia.

Só assim é que o homem em questão foi despedido. Chinyere acredita que se não tivesse havido uma intervenção por parte do padrasto, não haveria qualquer tipo de consequência.

A McDonald's descreveu a sua experiência como "abominável e inaceitável" e acrescentou que "é preciso muita coragem para falar".

Ainda na cidade de Cheshire, um gerente tentou-se aproveitar de uma trabalhadora de 16 anos, ao tentar pressioná-la a ter relações sexuais. O mesmo aconteceu na cidade de Hampshire.

Outra antiga funcionária tinha 17 anos quando um diretor de um restaurante de Plymouth a sufocou e lhe agarrou nas nádegas, mas não foi a primeira vez que a funcionária passou por este tipo de situações. Também um gerente de turno já lhe tinha enviado fotografias sexualmente explícitas.  

"Há a expectativa de que, se trabalharmos na McDonald's, seremos assediados", disse Emily de 20 anos. Deixou um restaurante em Brighton em 2023, depois de um colega de 60 anos lhe ter acariciado o cabelo de uma forma sexualmente sugestiva e a ter feito sentir desconfortável.

Ao que consta, as jovens sentem-se constantemente julgadas pela sua aparência. Uma atual trabalhadora disse até que era vista pelos seus colegas como "carne fresca" quando começou a trabalhar em Nottingham. Outras mulheres revelaram que eram obrigadas, pelos diretores, a utilizar uniformes demasiado apertados para elas.

De acordo com a BBC, não se sabe quantos funcionários fizeram queixas formais. Vários afirmaram que quando eram apresentadas queixas contra gerentes, eram transferidos de um restaurante para outro, em vez de serem despedidos.

A rede multinacional de fast food entretanto já respondeu ao artigo e disse que os trabalhadores merecem trabalhar num local seguro e respeitador. "Não há lugar para assédio, abuso ou discriminação em qualquer tipo de McDonald's e vamos investigar todas as alegações que nos forem apresentadas e todas as violações comprovadas do nosso código de conduta serão objeto das medidas mais severas que podemos impor legalmente, incluindo o despedimento", indica a resposta.

Segundo a BBC, o gigante da comida rápida tem neste momento mais de 170.000 pessoas a trabalhar em 1.450 restaurantes só no Reino Unido. A maioria dos empregados tem idades compreendidas entre os 16 e os 25 anos, sendo que para muitos este é o seu primeiro emprego.

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