Casamento de novo diretor do Público com deputada do PS levanta reservas

Casamento de novo diretor do Público com deputada do PS levanta reservas
Margarida Davim 10 de abril
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Conselho de Redação do Público deu parecer positivo ao nome de David Pontes para substituir Manuel Carvalho. Mas, em declaração de voto, duas jornalistas defendem que preocupação quanto às fronteiras entre conteúdos editoriais e comerciais e casamento com socialista deviam ser "motivo para dar um parecer negativo à indicação" do novo diretor.

O jornal Público já tem novo diretor indigitado. David Pontes sucederá a Manuel Carvalho quando, a 1 de junho, este sair da direção do diário da Sonae. O nome escolhido pela administração teve o parecer positivo do Conselho de Redação. Mas os jornalistas que compõem este órgão deixaram, nesse texto, claras as reservas que Pontes lhes suscita.

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Uma das preocupações dos jornalistas do Público é a de que esta nomeação não dê garantias de uma separação entre os conteúdos editoriais e os comerciais.

"Atendendo à natureza das funções recentemente desempenhadas por David Pontes nesta e noutras empresas de comunicação social, o CR entende, porém, ser imperioso sublinhar que o novo diretor deve garantir e zelar por uma clara distinção entre as esferas editorial e comercial e reforçar os mecanismos de transparência do jornal quanto aos conteúdos apoiados e aos conteúdos promovidos", lê-se no parecer a que a SÁBADO teve acesso e que foi redigido já depois de Pontes ter respondido a um pedido de esclarecimentos a este órgão.

"A independência e o rigor informativo são os principais ativos desta redação e devem constituir prioridade para a nova direção editorial, à qual compete a missão de preservar a marca Público, salvaguardando-a da dispersão e da descaracterização que podem advir da multiplicação de chancelas e projetos", frisam o Conselho de Redação.

Diretor deve abster-se de escrever sobre temas em que é "parte interessada"
Os membros do Conselho de Redação alertam ainda para a necessidade de o novo diretor evitar conflitos de interesse nas matérias sobre as quais escreve, defendendo que "os jornalistas do Público, e por maioria de razão o seu diretor, devem inibir-se de escrever sobre questões em que possam ser considerados parte interessada e recomendam a esse respeito uma política de transparência perante os leitores".

Em causa está o casamento de David Pontes com a deputada do PS Carla Sousa. De resto, este parecer tem uma declaração de voto assinada por duas jornalistas que entendem que esta circunstância e as dúvidas sobre a separação entre o que são conteúdos jornalísticos e conteúdos comerciais seriam por si só suficientes para o Conselho de Redação chumbar o nome de Pontes.

"Subscrevemos as reservas apontadas pelos nossos colegas do CR, que partilhamos, mas, no nosso entender, estas são motivo para dar um parecer negativo à indicação de David Pontes para novo diretor do Público", escrevem numa declaração de voto, na qual expressam preocupação pela "frágil delimitação das fronteiras entre os conteúdos editoriais e os conteúdos apoiados, a qual ameaça os princípios fundadores do Público e retira o foco do jornalismo a que nos devemos dedicar".

A declaração de voto defende ainda que, sendo David Pontes casado com uma deputada do PS, é "inadequado que não considere que se deva abster de fazer comentário político, evitando assim a suspeição sobre óbvios conflitos de interesses".

Recorde-se que David Pontes já faz habitualmente comentário político, nomeadamente em podcasts do jornal.

Os membros do Conselho de Redação consideram ainda, no parecer emitido, que a forma como a administração agiu na designação de uma nova direção atropelou os preceitos legais.

No texto, a que a SÁBADO teve acesso, diz-se que "a cronologia desta designação não respeitou o espírito da Lei de Imprensa, constituindo um flagrante desrespeito pela redação e uma menorização do coletivo que é este jornal".

David Pontes já fazia parte da direção liderada por Manuel Carvalho, na qualidade de diretor adjunto do jornal. Foi diretor adjunto da agência Lusa, cargo que também desempenhou no Jornal de Notícias e, em 2001, já tinha sido subdiretor do Público, jornal que ajudou a fundar.

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