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O que disseram Max, Wendel, e Mathieu sobre o ataque a Alcochete

09 de dezembro de 2019 às 18:18
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Os três jogadores descreveram a situação como traumática. Foram ouvidos por videoconferência, não se tendo deslocado ao Tribunal de Monsanto.

Luís Maximiliano, Marcus Wendel e Jeremy Mathieu foram as testemunhas ouvidas esta segunda-feira no Tribunal de Monsanto, Lisboa, no âmbito do processo do ataque à Academia do Sporting, em Alcochete, a 15 de maio de 2018. Os três descreveram a situação como traumática. 

Miguel Coutinho, advogado do Sporting, requereu que oito dos futebolistas que ainda se mantêm no atual plantel fossem inquiridos através de videoconferência, invocando razões de ordem psicológica. O coletivo de juízes acedeu ao pedido e Wendel, Mathieu, Acuña, Battaglia, Luís Maximiano, Coates, Ristovski e Bruno Fernandes vão então prestar declarações por videoconferência.

Max ficou "bloqueado e sem ação"

O primeiro a testemunhar foi o guarda-redes, que afirmou ter ficado "bloqueado e sem ação" durante o ataque. Max, como é conhecido, contou que Vasco Fernandes, secretário técnico, tentou fechar a porta do balneário, mas que foi empurrado, e que "entraram pessoas com máscara, com capuz", e foram em direção aos jogadores William Carvalho, Rui Patrício, Misic, Bataglia, Montero e Acuña.

Luís Manuel Neves

"Fiquei tão bloqueado, atrapalhado que fiquei sem reação. Houve pânico e muita confusão. Entraram e começamos a perceber que era algo mais grave", explicou o guarda-redes, de 20 anos, acrescentando que no interior do vestiário "estava praticamente todo o plantel" e que o holandês Bas Dost se encontrava no corredor. O jovem frisou que da parte dos jogadores "não houve conversas" e que os elementos entraram e começaram as agressões a alguns dos colegas.

"O William levou um murro e o Rui [Patrício] também. O Bataglia e o Montero levaram com um garrafão de água. O Montero levou um estalo. O Misic levou com um cinto na cara e o Acuña levou uns pontapés e um murro", descreveu o guarda-redes, que à data dos factos fazia parte da equipa de juniores do Sporting, mas que, por vezes, também era chamado à equipa principal de futebol. Max viu serem arremessadas, pelo menos, duas tochas, uma das quais atingiu na barriga o então preparador físico Mário Monteiro.

Wendel: "Foi tudo muito rápido" 

O médio Wendel que os elementos que invadiram o balneário na academia de Alcochete disseram que os atletas não eram futebolistas para o Sporting e ordenaram que despissem as camisolas. O jovem brasileiro explicou que se encontrava sozinho no ginásio, quando viu um grupo de encapuzados a correr, dirigindo-se para o balneário para avisar o resto do plantel.

Afirmou depois que alguém tentou fechar a porta do balneário, acrescentando que entraram no espaço entre 25 a 30 elementos, ouvindo alguém dizer que "não eram jogadores para o Sporting" e que "mandaram [os atletas] tirar a camisa [camisola]". O médio afirmou que foi agredido com estaladas na cara por um dos elementos e viu "agressões a outros companheiros".

"Foram três pessoas agredidas: Acuña, Misic e William Carvalho. O Acuña não me recordo por quantas pessoas foi agredido, mas foi por mais do que uma, com tapas [estaladas] na cara e na cabeça. O Misic foi agredido com um cinto nas costas, por um deles. O William foi agredido na cabeça com tapas, mas não sei por quantos", descreveu Wendel.

O jovem futebolista brasileiro referiu que os invasores "ficaram cerca de cinco minutos no balneário" e que "foi tudo muito rápido", saindo todos ao mesmo tempo. Wendel disse ainda ter visto fumo, provocado pelas tochas lançadas, que fez com que o alarme contra incêndios fosse ativado, acrescentando que ficou "com muito medo que [esta situação] voltasse a acontecer" no futuro.

Mathieu ainda pensa neste dia

Jeremy Mathieu disse "nunca mais esquecer" o medo que sentiu durante o ataque à academia de Alcochete e que no fim dos jogos "ainda pensa nesse dia", acrescentando não ter sido agredido, mas que viu agressões a colegas.

"Nunca mais esquecerei o medo que senti. Ainda hoje, no final dos jogos, penso nesse dia. Tenho medo que isto volte a acontecer", revelou. O defesa central contou que estava no balneário quando entraram entre "20 a 30 pessoas", apesar de o secretário técnico, Vasco Fernandes, ter tentado fechar a porta do vestiário, mas que "já era demasiado tarde", pois os elementos encapuzados "forçaram" a entrada e aproximaram-se de alguns jogadores que foram agredidos.

"Vi o Marcus Acuña e o Misic a serem agredidos. O Acuña foi o primeiro que vi a ser agredido com golpes no rosto, por duas ou três pessoas que estavam de volta dele. Depois vi o Misic a ser agredido com um cinto, nas pernas e nas costas", descreveu Mathieu. O defesa central francês contou que havia "três pessoas em frente à porta" dos vestiários, os quais impediam a saída dos jogadores, que tiveram de ficar "dentro do balneário".

Luís Manuel Neves

A testemunha explicou que assim que entraram no vestiário, os elementos procuraram quatro jogadores: William Carvalho, Rui Patrício, Battaglia e depois Acuña. Mathieu acredita que não era um dos alvos, pois não foi agredido, mas admitiu ter sentido "medo" no meio da "muita confusão e agitação" que presenciou. 

Testemunhos continuam na próxima semana

Os três futebolistas encontravam-se na academia do clube, em Alcochete, em 15 de maio de 2018, quando a equipa do Sporting foi atacada por elementos do grupo organizado de adeptos da claque Juventude Leonina, que agrediram técnicos, jogadores e outros funcionários do clube.

O processo tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.

Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, 'Mustafá', líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.

Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e 'Mustafá' também por um crime de tráfico de estupefacientes. O julgamento prossegue na terça-feira com as inquirições, de manhã, de Vasco Fernandes, secretário técnico, e à tarde com os jogadores Stefan Ristovski e Bruno Fernandes.

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