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É agora que vai acabar a Taça da Liga?

Carlos Torres
Carlos Torres 19 de janeiro de 2021 às 14:04
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Depois das muitas polémicas com arbitragem ou regulamentos, será que o fim da prova vai ser decretado por um vírus? Com o Benfica a registar 17 infetados no plantel e staff, o que vai acontecer? Será que não é melhor cancelar a Taça da Liga desta época? Ou então passá-la para o próximo verão.

"O que nasce torto tarde ou nunca se endireita". O ditado tem sido aplicado à Taça da Liga, prova criada em 2007 e destinada aos clubes profissionais (I e II Ligas), que desde o início foi desprezada pelo FC Porto (Pinto da Costa chegou a dizer, depois de os dragões terem sido eliminados pelo Benfica: "Desta já nos livramos", porque tirava o foco da equipa no campeonato). A prova foi também mais tarde apoucada pelo Sporting (Bruno de Carvalho ameaçou participar com a equipa B), e ultimamente já não é tão acarinhada pelo Benfica, o seu principal vencedor (sete títulos, mas o último em 2015/16).

FC Porto Sporting
FC Porto Sporting ANTONIO COTRIM/Lusa

O FC Porto, talvez por ter estado nos últimos anos sempre envolvido nas provas europeias ainda em fevereiro, tem sido dos mais críticos da Taça da Liga, argumentando que apenas serve para desgastar a sua equipa. Mas claro que todo esse desinteresse apenas se explica pelo facto de nunca ter vencido a prova, que logo no ano de estreia valeu uma humilhante eliminação, no desempate por penáltis, frente ao Fátima, da Liga de Honra, que na altura era treinado por Rui Vitória.

Curiosamente, nessa eliminatória, tanto o Sporting (em Guimarães), como o Benfica (no campo do Estrela da Amadora), também tiveram de sofrer e só passaram ambos nos penáltis. Mas a malapata do FC Porto na prova continuou, ao ponto de ter estado 1053 dias (oito jogos) sem vencer nessa competição (e em 2015/16 os dragões perderam os três jogos disputados na fase de grupos).

Desse suposto desinteresse se aproveitou o Benfica, que assim ganhou sete troféus em apenas oito anos (entre 2008/09 e 2015/16). No entanto, os encarnados nas últimas épocas já não tiveram tanto sucesso (desde 2016 nem sequer foram à final), e a prova já não parece ser tão amada na Luz, até porque o Benfica foi colecionando campeonatos (como o histórico tetra), e a Taça da Liga ficou para segundo plano.

Já o Sporting, depois do desânimo que foi ter perdido a final de 2007/08 para o Benfica no desempate por grandes penalidades, depois de um polémico penálti mesmo no final do jogo (ficou famosa a imagem do leão Pedro Silva a atirar para o relvado a medalha de finalista, dizendo que a podiam "dar ao ladrão" do árbitro), ganhou outro interesse pelo troféu após as conquistas de 2017/18 e 2018/19, às custas do FC Porto, sempre derrotado na lotaria dos penáltis.

Ao longo dos anos, a Liga de Clubes tem mudado o formato da prova, adaptando-a ao interesse dos grandes. Foi por isso que logo em 2011 se criou uma fase de grupos, que desde 2016 é ainda mais favorável aos primeiros classificados (os quatro primeiros são cabeças de série, fazendo dois jogos em casa e apenas um fora), para que não tenham grande desgaste antes das meias-finais, que ultimamente têm sido jogadas entre FC Porto, Benfica, Sporting e Sp. Braga. Aliás, esta época é bem ilustrativa deste favorecimento. Devido à pandemia e ao calendário apertado, apenas as seis primeiras equipas da I Liga e as duas primeiras da II Liga (na altura Estoril e Mafra) participaram na prova, pelo que mais uma vez FC Porto, Benfica, Sporting e Sp. Braga chegaram às meias-finais.

Uma fórmula competitiva que originou críticas de vários clubes, não só os que acabaram por não participar por efeitos classificativos, mas também os que estiveram nos quartos de final, caso do Paços de Ferreira, na altura 5º classificado, que seria eliminado pelo 4º, o FC Porto. "Acho que este ano suprimir competições teria sido o mais inteligente", apontou, na véspera do jogo no Dragão, o presidente dos castores, Paulo Meneses. "O Paços de Ferreira vai defrontar os três grandes [jogara com o Benfica para o campeonato e a seguir iria a Alvalade para a Taça de Portugal] no espaço de pouco mais de uma semana e isso é preocupante porque não tem plantel que lhe permita ter elasticidade e pode ter repercussões a nível de campeonato".

Com um calendário apertado (basta recordar que a Supertaça, normalmente jogada em agosto, se disputou na véspera de Natal), a Final Four foi de novo marcada para meados de janeiro. Mas a situação de pandemia descontrolada que se vive em Portugal (o país com mais casos de Covid-19, no mundo, por milhão de habitante), veio lançar a dúvida se a prova não deveria ser adiada ou mesmo cancelada na época 2020/21 – até porque o Benfica anunciou esta terça-feira, dia 19, que tem 17 infetados no plantel (jogadores, equipa técnica e staff) .

A primeira questão surgiu em forma de polémica, entre FC Porto e Sporting. Curiosamente, dois clubes que já tinham trocado acusações por causa de questões do regulamento, na época 2013/14, quando o Sporting, que tinha vencido o Penafiel por 3-1 na última jornada, estava apurado para as meias-finais por um golo. A questão é que, já nos descontos, o FC Porto fez o 3-2 sobre o Marítimo, de penálti, e acabou por se apurar. O regulamento estabelecia que os jogos tinham de começar à mesma hora, mas a segunda parte da partida dos dragões começou quase 3 minutos mais tarde, pelo que Bruno de Carvalho protestou o jogo - embora não lhe tenha sido dada razão.

Esta época, a polémica começou na segunda-feira, 18 de Janeiro, quando o Sporting anunciou que os jogadores Nuno Mendes e Sporar,que tinham acusado positivo à Covid 19 na sexta-feira passada, afinal eram falsos positivos e podiam defrontar o FC Porto. Os portistas reagiram dizendo que a saúde pública estava em risco e ameaçaram não jogar – o que levou a nova resposta dos leões, que acusaram os portistas de "pressionar, de forma absolutamente inaceitável, as autoridades de saúde e a Liga Portugal". Antes, já o diretor de comunicação do Sporting, Miguel Braga, tinha dito: "Se não quiserem jogar, melhor para nós, que estamos na final".

Já está terça-feira, o Sp Braga também se insurgiu contra o facto de Nuno Mendes e Sporar irem jogar sem cumprirem os 10 dias de isolamento, criticando a "intenção do Sporting em ter tratamento de exceção relativamente ao protocolo da Covid-19", lembrando que o clube minhoto viu a sua defesa "totalmente dizimada pelo vírus", dada a indisponibilidade de Bruno Viana, Tormena e David Carmo, que deram positivo e não puderam defrontar Boavista e Sporting. "Como clube cumpridor das regras, o Sp. Braga aceitou o impacto da pandemia e colocou imediatamente os jogadores em isolamento durante os 10 dias exigidos pelo protocolo da DGS para o futebol e não contestou resultados positivos".

Também esta terça-feira, o Benfica (que ia defrontar na quarta-feira o Sp. Braga nas meias-finais da prova) anunciou ter 17 casos de Covid-19 entre o plantel, staff, equipa técnica e jogadores (na CMTV, foi avançado que oito casos seriam de jogadores e que o presidente Luís Filipe Vieira também está positivo). Posto isto, o Benfica remeteu o caso para a Direção Geral da Saúde e pediu para não disputar qualquer prova nos próximos 14 dias.

Em comunicado às redações, a DGS aponta que cabe à autoridade de saúde "territorialmente competente" - neste caso, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo - decidir "sobre os jogadores que ficam em isolamento, por motivo de doença, e sobre os jogadores que ficam em isolamento profilático, por serem considerados contactos de risco".

Quanto ao restante plantel que não está em isolamento ou infetado, a responsabilidade é "dos clubes desportivos", aponta a DGS. A decisão sobre a realização dos jogos está agora do lado da Liga de Clubes.

Independentemente disso, a Taça da Liga está em causa, uma vez que o finalista do jogo desta terça-feira, entre Sporting e FC Porto, ficará sem adversário para disputar a final. O que se fará? Joga-se agora a meia-final entre FC Porto e Sporting e a outra será disputada lá mais para a frente? Mas quando, uma vez que Benfica e Sp. Braga estão na Liga Europa? O que se fará se os dois clubes chegarem às meias-finais ou final da prova da UEFA? Haverá espaço no calendário para esse jogo? E a final, quando será disputada? No final da época? E faz sentido uma equipa esperar meses pelo seu adversário numa final? E como vai ficar o Benfica se não poder jogar frente a Nacional e Sporting para o campeonato e contra o Belenenses para a Taça, até estarem cumpridos os 14 dias previstos? Será que vai haver datas para se cumprirem tantos jogos em atraso?

Quanto à Taça da Liga, talvez a solução ideal seja suspender a prova desta época e realizá-la na pré-época do próximo verão (se houver pré-época), substituindo assim um daqueles torneios habituais, como o Torneio do Guadiana.

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