Nenhum. Tossir é bom e não deve ser suprimido. Mas se quiser aliviar a sensação de arranhado na garganta opte pela solução mais caseira, aconselham os especialistas.
É aquela altura do ano em que numa sala de aula, numa empresa, ou mesmo num passeio pelo centro comercial, é raro não ouvir alguém tossir. Não é estranho que assim seja; afinal, a causa mais frequente destas tosses são justamente as infeções respiratórias características do inverno. Contudo, há uma dúvida que persiste: qual é mesmo a melhor maneira de tratar, com um xarope ou com os (velhinhos) e tradicionais remédios naturais?
A tosse aguda não tem gravidade, asseguram os profissionais de saúde
“Sem dúvida, o remédio caseiro”, diz à SÁBADO Manuel Ferreira de Magalhães. É o melhor para a tosse aguda, “aquela das constipações e das gripes”, assegura o pneumologista pediátrico. É isso mesmo que está a pensar: o chá com mel e limão ou até só mesmo uma colher de mel. Contudo, é preciso perceber que nenhuma destas soluções resolve – apenas ajuda a que a pessoa se sinta melhor. “Funciona como uma atenuação dos sintomas temporária, aquela sensação de cócegas ou de corpo estranho que se tem”, descreve o pneumologista Luís Rocha.
E é mesmo isso que é suposto acontecer. Porquê? Porque, na verdade, tossir é bom, a tosse é um mecanismo de proteção do organismo. “É o que nos protege de alguma coisa, algum objeto ou alguma substância, ir para a nossa traqueia, para os nossos brônquios e para os nossos pulmões”, explica Manuel Ferreira de Magalhães. Daí que quando uma pessoa tem expetoração surja este sintoma. “O organismo lê: está aqui alguma coisa na via aérea, eu tenho que tossir para deitar isto fora. Porque se não tossir e deixar, vai-me obstruir e depois o ar não passa para os pulmões”, explica o especialista.
Mais do que um problema em si, a tosse é um sintoma de doença. Por isso, aquilo que se deve tratar é a sua causa. Nesta altura, a mais frequente são as infeções víricas, atestam os profissionais de saúde. Mas podem haver outras. Para despistar outras situações deve ter-se em atenção as características da tosse. Ou seja, saber quando começou e como, se surgiu associada a uma febre (aí tem a ver com uma infeção, provavelmente), e também quando é que melhora e quando agrava.
Outro aspeto importante é a sua duração. Há dois tipos de tosse: a aguda, que se mantém até quatro semanas, e a crónica, que se estende por mais de oito semanas. “A tosse aguda não tem gravidade nenhuma”, tranquiliza Manuel Ferreira de Magalhães, que trabalha na ULS de Santo António e também no Hospital Lusíadas, ambos no Porto. É aquela que decorre de uma constipação, por exemplo. Quando dura mais do que quatro semanas, aí já deve ficar alerta. “A causa mais frequente de tosse crónica nas crianças e até os adultos é asma ou rinite”, diz o médico.
Mais um pormenor a fixar: aquela “tosse de cão” que as crianças às vezes têm, e que assusta muito os pais, não é motivo de preocupação. Trata-se de uma laringite e resolve-se com uma coisa muito simples – sair à rua para o ar frio. “Porque o gelo é o anti-inflamatório mais potente do mundo. Os miúdos estão muito aquecidos durante a noite e acordam a tossir. Se os pais saírem com eles à rua um bocadinho, desaparece, porque o frio desinflama”, diz.
Custa a passar? É normal
Explicado o mecanismo da tosse e aquilo para o qual deve estar alerta, passemos então aos medicamentos. Há três categorias principais, mas o tratamento mais básico não passa pela medicação. “Tal como pomos creme para hidratar a pele, o nosso sistema respiratório também precisa de água. Os ambientes interiores, mais secos e quentes, desidratam as vias aéreas”, explica Luís Rocha, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. Por isso, uma das melhores terapêuticas para a tosse é mesmo beber água ao longo do dia.
Já quanto aos medicamentos para a tosse importa, à partida, pôr logo de parte uma categoria: os antitússicos. Razão: lembra-se do que leu alguns parágrafos acima? “Suprimir a tosse é das piores coisas que pode existir, é mau”, sublinha Manuel Ferreira de Magalhães. Outra categoria são os chamados mucolíticos, que são uteis quando existe expetoração. “Estamos a falar, por exemplo, da carbocisteína, que ajuda a fluidificar o muco para o libertar”, explica o especialista.
E, por fim, existem aqueles medicamentos para a tosse que são à base de produtos naturais, nomeadamente com mel – que ajudam a amaciar a garganta, para aquela sensação de arranhar que a tosse provoca. Não é mezinha, há mesmo evidência científica de que o mel pode ajudar. Já em 2021, a Organização Mundial de Saúde considerou este alimento uma alternativa barata, popular e segura para as infeções respiratórias nas crianças.
Para aquela 'tosse de cão', o gelo é o anti-inflamatório mais potente do mundo. Se os pais saírem com a criança à rua um bocadinho, desaparece, porque o frio desinflama.Manuel Ferreira de Magalhães, pneumologista pediátrico
Mais: em 2018, os resultados de uma revisão feita pela Cochrane sugeriram que o mel pode ajudar a melhorar os sintomas de constipação e a qualidade do sono, quando comparado com outras estratégias. Mas há uma ressalva importante. É completamente contraindicado em crianças abaixo dos 12 meses – por causa do risco de botulismo (uma doença rara mas potencialmente fatal causada por uma bactéria).
A partir dos 12 meses, regra geral, uma colher de chá de manhã e à noite durante três a cinco dias pode ajudar a reduzir a tosse. Mas se demorar não estranhe, é normal custar a passar. Porque o que acontece com a tosse é o mesmo que quando comemos uma coisa que custa a passar na garganta – e que deixa aquela sensação de que algo está ali atravessado, quando já não está lá nada. “A mucosa ficou irritada”, traduz o pneumologista Manuel Ferreira de Magalhães. “E até desinflamar eu fico sempre a tossir”, diz.
Xarope ou mel: qual é o melhor remédio para a tosse?
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