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O vírus das bronquiolites também é perigoso para os adultos

Lucília Galha
Lucília Galha 13 de fevereiro de 2025 às 14:24
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O vírus sincicial respiratório é responsável por mais de três mil internamentos em maiores de 65 anos em Portugal. O impacto na mortalidade pode mesmo ser superior ao da gripe em pessoas com doenças associadas. Seis sociedades médicas juntaram-se para recomendar a vacinação desta população.

É o responsável pela maioria dos casos de infeções respiratórias em bebés e crianças pequenas, as chamadas bronquiolites e pneumonias virais. Mas, o que talvez não saiba é que o vírus sincicial respiratório (VSR) é tão grave nos mais novos quanto nos mais velhos. "O impacto na saúde, em termos de pessoas internadas e em termos de pessoas que morrem é, provavelmente, superior ao da gripe", diz àSÁBADOo vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Tiago Alfaro.

Os números comprovam isso mesmo. Dados do Global Burden of Disease indicam que o VSR é responsável por 4,59 milhões de casos de infeções respiratórias em todo o mundo e em Portugal corresponde a 3.095 internamentos anuais de pessoas com mais de 65 anos – o que representa 92,5% de todas as hospitalizações por este vírus entre os adultos, segundo o Consórcio VSR na Europa.

Além dos mais velhos, também as pessoas com doenças associadas (como diabetes, doenças cardíacas, asma, etc.) têm um risco acrescido. Razão: não só porque as pessoas que têm doença estão mais suscetíveis a ter uma infeção complicada, como também há um maior risco de hospitalização. "Sabemos que este vírus, até mais do que outros, parece ter uma capacidade de descompensar a doença de base, de descompensar e agravar", explica o profissional de saúde.

Já nas pessoas saudáveis e mais jovens, em geral, não existem grandes consequências. O facto de haver mais infeções, maior duração dos internamentos e situações clínicas mais graves e com maior mortalidade associadas a este vírus nas pessoas com 75 ou mais anos levou seis sociedades médicas nacionais a subscrever um documento onde defendem a vacinação contra o VSR em idosos e adultos com doenças crónicas.

Na verdade, já se sabia que a infeção era perigosa para estes grupos mas não se conhecia o seu impacto. "À medida que se foram fazendo mais testes para o VSR é que se começou a perceber a carga da doença", diz Tiago Alfaro. Não se testava porque, e ao contrário do que acontece com outras infeções, não existe um tratamento para o VSR. O ponto de viragem foi o aparecimento de uma ferramenta para a prevenção: uma vacina. "O facto de termos há relativamente pouco tempo uma ferramenta para a prevenção aumentou o próprio estudo que existe sobre esta infeção", diz o especialista.

Em outubro de 2024 arrancou a primeira campanha de imunização contra o VSR em bebés. Em Portugal, há duas vacinas disponíveis contra este vírus (embora existam três aprovadas na Europa) e ambas estão indicadas para adultos, uma a partir dos 50 e outra dos 60 anos. Estas vacinas têm uma grande vantagem em relação à da gripe. "Enquanto a da gripe tem de ser anual, em virtude das alterações características do vírus, esta tem uma duração maior. Uma única toma protege a pessoa contra pelo menos três épocas", explica o pneumologista. A desvantagem é que para esta população as vacinas disponíveis não são comparticipadas e custam à volta de 200 euros – sendo sujeitas a receita médica.

Difícil de detetar

Apesar do preço elevado, as sociedades médicas envolvidas neste apelo pela vacinação dos mais velhos – entre as quais estão a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, a de Cardiologia, de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica, de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, de Medicina Interna e a Associação de Medicina Geral e Familiar –, acreditam que é essencial proteger este grupo. "É uma infeção que ocorre ao longo da vida frequentemente, nós não desenvolvemos uma imunidade contra este vírus e a pessoa pode ser reinfetada", diz Tiago Alfaro.

Tem uma dificuldade: é uma doença difícil de detetar porque os sintomas são semelhantes aos de outras infeções respiratórias. "Nós não conseguimos dizer claramente se uma pessoa tem gripe, VSR, Covid ou outro vírus, apenas pelos aspetos clínicos. Além disso, tende a acontecer no mesmo período que a gripe e outras infeções respiratórias", explica.

A única forma de perceber se uma pessoa está infetada com o vírus é através de um teste e aqueles rápidos que estão à venda nas farmácias são pouco fidedignos. "Têm baixa sensibilidade para o VSR, é muito frequente darem negativo quando a pessoa tem a doença", alerta. Só o PCR, que se faz só em contexto hospitalar, permite dizer com certeza.

Os especialistas recomendam que a vacina seja administrada entre setembro e novembro e que a prioridade deve ser dada às pessoas com mais de 75 anos ou a maiores de 50 mas com fatores de risco. A mensagem que querem transmitir é a seguinte: "A doença é frequente, tem um impacto grande na saúde, mas há ferramentas para a prevenir", resume Tiago Alfaro.

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