Nos próximos dias, na COP27 em Sharm El Sheikh, governos de todo o mundo vão definir as políticas ambientais para a próxima década e, "por incrível que pareça, a Amazónia não está na lista de prioridades nessas negociações", lamentou o coordenador da COICA.
COP27: Povos Indígenas pedem proteção de 80% da Amazónia até 2025
Os povos indígenas da bacia amazónica alertaram que a destruição da maior floresta tropical do mundo irá transformá-la numa savana emissora de CO2, pelo que pedem a extensão da proteção ambiental a 80% da sua superfície até 2025.
REUTERS/Amanda Perobelli
O coordenador geral das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), José Gregorio Díaz Mirabal, alertou que "a Amazónia está a chegar a um ponto sem retorno",visto que a destruição desse valioso ecossistema "emitirá uma quantidade de CO2 suficiente para desequilibrar o clima planetário" e "prejudicará esforços internacionais para conter o aquecimento global".
Isso mesmo está plasmado no relatório "A Amazónia contra o relógio: um diagnóstico regional sobre onde e como proteger 80% até 2025", que será apresentado na segunda-feira na COP27 em Sharm El Sheikh (Egito) por José Gregorio Díaz Mirabal.
Nos próximos dias, na COP27 em Sharm El Sheikh, governos de todo o mundo vão definir as políticas ambientais para a próxima década e, "por incrível que pareça, a Amazónia não está na lista de prioridades nessas negociações", lamentou o coordenador da COICA.
Segundo Mirabal, a Amazónia está imersa "num ponto sem retorno, devido aos altos índices de desmatamento e degradação que, somados, já atingem 26% da região amazónica", que abrange 847 milhões de hectares.
As informações apresentadas no estudo estabelecem que o ponto sem retorno "não é um cenário futuro", mas sim uma realidade "já presente em algumas áreas da região", como Brasil e Bolívia, que concentram "90% do desmatamento e degradação combinada".
Tudo isto, traduz-se num processo de savanização já em curso nos dois países.
Embora ainda seja possível preservar 80% da Amazónia até 2025, essa meta apresenta um grande desafio dado o estado atual da região, que exige "medidas urgentes" para salvaguardar áreas prioritárias intactas (33%) e aquelas que apresentam baixa degradação (41%) e, paralelamente, restaurar terras altamente degradadas (6%).
Para os indígenas, um dos principais impulsionadores do desmatamento é a proliferação de atividades agrícolas, que triplicaram desde 1985 e são responsáveis por 84% da destruição em massa da floresta.
Especificamente, a pesquisa aponta para a pecuária, como "o maior impulsionador do desmatamento", cujas atividades na bacia amazónica representam "2% das emissões globais de CO2 anuais".
Além disso, o setor de mineração, presente em todos os países da Amazónia, atinge 17% da região e desenvolve "9,3% de todas as suas atividades em áreas protegidas e outros 9% em territórios indígenas", embora "a mineração ilegal, que carece de registos oficiais, está a expandir-se por toda a bacia".
Contudo, a Amazónia Ocidental (Colômbia, Equador, Peru e Bolívia), uma das áreas com maior biodiversidade do mundo, conserva intactas grandes extensões de selva e "tem uma alta probabilidade de manter condições climáticas estáveis perante o aquecimento global ", pelo que a sua proteção deve ser "uma prioridade global".
Apesar da sua riqueza biológica, as cabeceiras dos rios da bacia amazónica localizadas nesta região e, sobretudo, no Equador, Peru e Bolívia, estão "ameaçadas" por projetos hidroelétricos.
"O Equador, país que representa menos de 2% da Amazónia, concentra 18% das infraestruturas hidrelétricas da região", salientam.
Por último, os povos indígenas amazónicos consideram que a dívida acumulada pelos países da região "é a causa estrutural da destruição da Amazónia", para a qual propõem "o perdão da dívida em troca de compromissos para acabar com a extração industrial e promover proteções nas principais áreas prioritárias.
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