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Ausência de Trump e Xi Jinping da COP30 “vai atrasar a transição energética”

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A ausência dos EUA na COP30 não surpreeende os ambientalistas, mas gera preocupação. Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas, acredita que a transição energética irá acontecer, mas relembra que o consumo global de energia tem vindo a aumentar.

A Cimeira do Clima, que antecede a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30), aconteceu em Belém, no Brasil, e reuniu delegações de 143 países, sem a presença dos líderes de três dos países mais poluidores do mundo (China, Estados Unidos e Índia). O geofísico Filipe Duarte Santos, diz à SÁBADO que a ausência do presidente dos EUA, Donald Trump, não é surpreendente sublinhando que a nova saída de Washington do Acordo de Paris - tinha acontecido no primeiro mandato de Trump - irá “atrasar ainda mais a transição energética”. A COP30 decorre entre 10 e 21 de novembro na cidade amazónica brasileira e irá-se focar-se na definição de metas para a redução dos gases de efeito de estufa.

A COP 30 decorre entre 10 e 21 de novembro de 2025
A COP 30 decorre entre 10 e 21 de novembro de 2025 Kay Nietfeld/picture-alliance/dpa/AP Images

A saída dos EUA do Acordo de Paris foi anunciada por Donald Trump em janeiro, nos primeiros dias do seu segundo mandato, e vai concretizar-se em 2026. Francisco Ferreira, presidente da ZERO (Associação Sistema Terrestre Sustentável), diz à SÁBADO que a confiança será depositada "nas muitas empresas dos EUA que desempenham uma ação climática relevante" e relembra o relatório das Nações Unidas, publicado esta semana, que indicou "que a falta de esforços dos EUA irá aumentar a temperatura global em 0,1 graus Celsius". 

Apesar da ausência dos principais líderes da China e da Índia na COP30, Francisco Ferreira considera que a participação das delegações destes países nas negociações será "clara, forte e expressiva". O presidente chinês, Xi Jinping, enviou uma delegação, representada pelo vice-primeiro-ministro, Ding Xuexiang, e a Índia, segundo disse à Lusa fonte da presidência brasileira, vai estar representada pelo embaixador no país. A China emite mais de 30% dos gases de efeito estufa globais, mas dados do relatório da organização não governamental norte-americana Global Energy Monitor (GEM), lançado este ano, revelam que o país lidera agora a expansão global de energias renováveis.

Sobre as metas para a transição energética, Filipe Duarte Santos, professor catedrático do Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, acredita que estas serão atingidas, mas sublinha que, apesar dos últimos desenvolvimentos em matéria de energias renováveis, o consumo global de energia tem vindo a aumentar e elenca três fatores para esse crescimento: a maior prosperidade económica, que se reflete em maior consumo, o desenvolvimento da inteligência artificial e o gasto de energia per capita nos países desenvolvidos. “As energias renováveis ainda não conseguem a satisfazer a procura”, faz notar. Francisco Ferreira pede, por isso, que os esforços se direcionem para a eficiência. "A maior parte do dinheiro investido na geração de eletricidade em 2024 foi direcionado para fontes renováveis", lembra. 

Portugal foi representado na cimeira de líderes pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, que voltou a comprometer-se com as já definidas metas de redução de 55% das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 e da neutralidade carbónica até 2045. No entanto, os ambientalistas mostram-se céticos. Francisco Ferreira salienta duas áreas que podem comprometer as metas nacionais: as emissões no setor dos transportes e os sumidores de carbono [sistemas naturais que absorvem dióxido de carbono]. Sobre a primeira, relembra que o setor dos transporte representa ainda cerca de 35% das emissões e sobre o segundo faz referência ao principal sumidor de carbono, as florestas, que nos últimos anos têm sido afetadas pelos incêndios.

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