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Quase metade das mulheres portuguesas já foram vítimas de violência. O número de homens não fica atrás

Tomás Guerreiro 24 de novembro de 2025 às 15:07
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As mulheres não são apenas as principais vítimas, são também alvo de agressões mais violentas e sentem-se muito mais inseguras.

Quase metade das mulheres portuguesas – precisamente 46,8% – já foi vítima de violência, segundo o mais recente estudo elaborado pela Universidade Nova de Lisboa. Ao olharmos para o género masculino, a percentagem não é acentuadamente inferior: 42,6% dos homens portugueses já sofreram agressões físicas, psicológicas ou emocionais no País. “Mas são as mulheres as principais vítimas de agressões graves”, contrapõe à SÁBADO Susana Peralta, coordenadora científica da investigação e investigadora na Nova SBE.

Violência afeta mulheres e homens em Portugal
Violência afeta mulheres e homens em Portugal DR

Um dos tipos de violência que mais afeta as mulheres é aquele que acontece na intimidade: cerca de 22,5% são atingidas, esclarece o documento, enquanto apenas 17,1% dos homens sofreram este tipo de abuso. Os dados foram colhidos pelo INE em 2022, que inquiriu 11.346 portugueses: 6.348 mulheres e 4.998 homens – e posteriormente compilados pelos investigadores da Universidade Nova de Lisboa.

“Ao falarmos de assédio sexual no local de trabalho ou de violência contra o parceiro íntimo, as mulheres são o alvo preferencial”, explica à SÁBADO Susana Peralta, coautora do relatório Género e Violência em Portugal: Um Retrato da Desigualdade.

A severidade da violência é também muito mais elevada para as mulheres: 62,7% reportam danos físicos e 19,3% referem limitações nas atividades diárias em consequência das agressões. Os valores são inferiores entre os homens, o que reforça a desigualdade no impacto e nas consequências da violência. “É importante notar que os homens também são vítimas. A violência não tem de ter uma dimensão de género. Nas formas graves de violência, há uma maior prevalência sobre as mulheres, o que demonstra o desequilíbrio de poder entre mulheres e homens no espaço público e também no espaço privado”, explica a investigadora.

O dia 25 de novembro é o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, “por isso avançámos com este estudo”, acrescenta, explicando: “Este inquérito feito pelo INE, em 2022, é o primeiro em Portugal. A vantagem deste documento é que os dados não dependem de as vítimas reportarem a violência às autoridades. É um inquérito aplicado à população portuguesa de forma geral.”

A violência sexual afeta essencialmente o género feminino, com 6,4% das mulheres a considerarem-se vítimas, enquanto apenas 2,2% dos homens declararam ter sofrido esse tipo de agressão. A violência psicológica é a forma de abuso mais comum: afeta 21,8% das mulheres e 16,8% dos homens.

O reporte de violência permanece limitado: são mais os portugueses que se consideram vítimas de violência do que aqueles que apresentam queixa às autoridades. Apenas 65,3% das vítimas comunicaram o sucedido; mais de 60% recorreram apenas a familiares ou amigos e cerca de 20% às autoridades.

A maioria das mulheres reconhece a existência de linhas telefónicas de ajuda de associações não governamentais (84,8%), casas de abrigo (88,9%) e apoio jurídico gratuito (63,9%). Para os homens, as percentagens são similares, embora ligeiramente mais baixas. Ainda assim, a prevalência de conhecimento destes diversos apoios contrasta com os baixos níveis de reporte observados em Portugal.

Insegurança e perceções

As diferenças de género também se manifestam nas perceções de segurança. Apenas 77,1% das mulheres afirmam sentir-se seguras quando andam sozinhas na rua à noite, em contraste com 89,5% dos homens. Além disso, 44% das mulheres consideram que a violência exercida por maridos ou companheiros contra mulheres é muito comum, enquanto apenas 25% dos homens partilham essa perceção. Por outro lado, apenas 10,5% das mulheres e 6,9% dos homens reconhecem a violência contra homens por parte de mulheres ou companheiras como um fenómeno muito comum. Os dados demonstram que, embora a consciência sobre a violência contra as mulheres seja elevada, a vitimização masculina tende a ser subestimada.

Só 65% das pessoas que reportam a violência em instâncias oficiais o fazem, percentagem muito inferior à registada noutras instâncias. Apenas 80% da população conhece as linhas de apoio à vítima. Há um desconhecimento generalizado face a estes mecanismos de reporte – e, quando a vítima reporta estes casos de violência, também se expõe. Em muitos casos, encontra-se numa situação de desigualdade de poder em relação aos homens, sendo mais frequentemente vítima de situações de gravidade e de violência.

“A violência física ou sexual é experienciada por ambos os sexos, mas com maior gravidade e repetição entre as mulheres”, conclui o estudo. Cerca de 19,7% das mulheres foram vítimas e, em mais de metade dos casos, os episódios repetiram-se ao longo do tempo.

Apesar de a violência ser um fenómeno transversal a ambos os géneros, as mulheres continuam a ser as que mais sofrem em Portugal.

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