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O alerta ambiental de Francisco: "Não se pode negar a influência humana"

Exortação apostólica do Papa defende ambientalistas e apela à tomada de posições. Fim dos combustíveis fósseis tem de ser uma realidade, defende.

O Papa Francisco apela aos negacionistas das alterações climáticas e aos políticos que estão a adiar as soluções para mudarem a forma de ver o mundo, já que as causas humanas e os factos científicos não podem ser ignorados enquanto o planeta "está próximo do ponto de não retorno".

REUTERS/Guglielmo Mangiapane

Os apelos do Papa surgem na nova exortação apostólicapublicada esta quarta-feira, antecipando a COP28 que vai ter lugar no Dubai, no final do próximo mês. Francisco sublinha que a transição para energias renováveis e limpas e o abandono dos combustíveis fósseis não está a acontecer à velocidade necessária.

No novo documento -Laudate Deum(Louvai a Deus) -, que completa e especifica a encíclica de 2015, Laudato Si(Louvado Sejas), o Papa refere que não se deve colocar toda a expetativa na tecnologia capaz de capturar as emissões de gases, já que estas, embora promissoras, não resolvem as causas humanas na raiz do aquecimento global.

"O mundo no qual vivemos está a colapsar e pode estar próximo do ponto de não retorno", escreve Francisco. "É inegável que o impacto das alterações climáticas vai prejudicar cada vez mais as vidas e as famílias de muitas pessoas."

Por isso, o líder da Igreja Católica apela "a todas as pessoas de boa vontade na crise climática" para uma ação. "Ninguém pode ignorar o facto que nos últimos anos temos testemunhado fenómenos meteorológicos extremos, frequentes períodos de calor extremo, secas e outros pedidos de ajuda por parte do planeta que são apenas algumas expressões visíveis da doença silenciosa que afeta a todos."

"Apesar de todas as tentativas para negar, esconder, mascarar ou relativizar o problemas, os sinais das alterações climáticas estão aqui e são cada vez mais evidentes."

Às empresas e a "certos países", Francisco pediu o abandono de "interesses de curto prazo", afirmando que estava na hora das forças políticas estarem à altura da ocasião. "Num sentido em que mostrem a nobreza da política e não a sua vergonha."

Expectativa para a COP28

Com a Conferência das Nações Unidas Sobre as Alterações Climáticas (COP) a começa no final de novembro, no Dubai, Francisco aponta como expectativa que no encontro sejam encontrados caminhos para "uma decisiva aceleração da transição energética, com metas efetivas sujeitas a monitorização".

O Papa defende ainda os grupos de ativistas que têm levado os seus protestos a todo o mundo. Considera que não devem ser rotulados de "radicais" já que estão a "preencher um espaço deixado vazio pela sociedade como um todo".

Olhando para fora, Francisco reflete também sobre as divisões de opinião dentro da Igreja católica. "Sinto-me obrigado a fazer esclarecimentos, que podem parecer óbvios, por causa de certas opiniões desdenhosas e pouco razoáveis que encontro, mesmo dentro da Igreja Católica."

A exortação apostólica é publicada no primeiro dia do sínodo dos bispos que decorre na cidade do Vaticano. A reunião magna dos bispos não acontecia há quatro anos e vai durar até 29 de outubro. Esta Assembleia Geral vai ter ainda uma segunda parte a decorrer no próximo ano.

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