A família e o dever fizeram-na superar sete décadas acidentadas. Da morte de Diana ao jubileu de diamante, eis o terceiro capítulo de "A Rainha".
Muito foi escrito sobre a posição pública de Isabel II. Se, por um lado, em algumas funções, trazia sorrisos e acenos e devoção, por outro, a distância e o tratamento sensaborão valeram-lhe dedos apontados. Mas nos corredores de Buckingham, os mais chegados sempre a tiveram como um exemplo; de caráter, de missão, de dever. Falaram, muitas vezes, do humor acanhado mas certeiro, das intervenções rápidas e ponderadas. Da retidão.
Isabel esforçou-se sempre para que o dever real não a deixasse transparecer as quebras e desalentos, para que o público não olhasse para os Windsor como um retrato de permeabilidade, e conseguiu-o. Mas o mundo estava em mudança, os anos 60 trouxeram fraturas duradouras numa sociedade alimentada pelo descontentamento jovem, os 70 trouxeram desafios ao Império, bem como os 80, que chegaram com a figura de Margaret Thatcher.
Os 90 seriam a prova de fogo com a morte da Princesa Diana e, já no começo dos 2000, as mortes da mãe e da irmã, separadas apenas por sete semanas, levá-la-iam ao momento mais taciturno do novo século. Mas mesmo com todas as mortes, desafios – internos e externos ao Reino Unido – e com uma pandemia pelo meio, a Rainha segurou o país e a família. Porque esses foram sempre os mais altos valores.
Uma família “quadrada”?
Foi o que a Inglaterra jovem dos anos de 1960 acusou os Windsor de ser. Isabel, rodeada de figuras nobres e solenes, manteve alguma aversão à televisão, em especial a participar em qualquer atividade que fosse transmitida. Fê-lo, por exemplo, com a habitual mensagem de Natal, que durante a primeira década manteve via rádio. Para quebrar o estigma, a Rainha concordou em deixar-se filmar em Buckingham para o pioneiro programa Royal Family, em 1968. Esse primeiro avanço valeu-lhe uma nova admiração dos britânicos e deu um empurrão à popularidade da monarquia.Carlos, o filho problemático
A relação do Príncipe de Gales com os pais nunca foi fácil. Violet Bonham Carter, amiga da família, escrevia: “O Príncipe Carlos [...] [é] muito diferente de qualquer um dos pais”, acrescentando que os pais, Isabel e Filipe, gostavam que este fosse muito diferente. “Apaixonado pelo polo e pela vela, como a Princesa Ana [...] eles não são compreensivos e criticam-no muitas vezes (…) Ter de ser ‘aventureiro’ como um dever e não por impulso é um pesadelo”. A este, acrescia o facto de aos 30 anos o príncipe herdeiro ainda não ser casado, e de a sua vida ser descrita como “caça, tiro, polo e fornicação”. Com o assassinato de Dickie Mountbatten, tio de Filipe, pela organização terrorista IRA, Carlos perdeu um confidente e conselheiro.
Duas damas de ferro
“Afabilidade sem amizade.” A relação da Rainha com a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do país foi assim descrita por Matthew Dennison, retirado de uma frase que um antecessor de Thatcher, Callaghan, tinha proferido sobre a sua própria relação com a Rainha. Em menos de um ano de Thatcher no governo, os seus modos provocaram uma reação enérgica de um tabloide: “Há apenas uma mulher que usa a coroa neste país, seja o que for que outras mulheres possam pensar.” Apesar da sua longa associação, nenhuma conseguiu compreender verdadeiramente a outra, o que levou Isabel a comentar que a primeira-ministra era “simples, de uma franqueza provinciana”, o que não permitia espaço para qualquer tipo de galantaria.
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O adeus a Diana
Dia 31 de agosto de 1997 foi um dia que ficou na memória. Nas primeiras horas da manhã em Paris, Diana, que seguia de carro com o seu amante Dodi Al-Fayed, embateu num dos pilares do túnel por baixo da Place D’Alma ao fugir de um paparazzo. O mundo parou com a notícia. Diana, ex-mulher do então príncipe herdeiro, deixou dois filhos, William e Harry, de 15 e 13 anos, que à data do acidente estavam com os avós na Escócia. Mas o que muitos receberam como indiferença da Rainha, na altura, não o foi, pelo contrário. “A declaração do Palácio de que ‘a Rainha e o Príncipe de Gales estão profundamente chocados e perturbados com esta notícia terrível’, feita na manhã da morte de Diana, era uma expressão sincera das reações de Carlos e de Isabel”. Apesar disso, a Rainha comete aqui uma das mais graves falhas do seu reinado, a de não ter antecipado a importância do acontecimento para os britânicos, mantendo as atenções focadas nos netos. Ainda assim, aprovou os planos para o regresso do corpo de Diana à Grã-Bretanha e a sua mudança, com honras reais completas, para a Capela Real.
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