O teólogo Armindo do Santos Vaz explica o que podemos esperar do Papa. Uma semana após a eleição os fiéis estão empolgados com Leão XIV.
Na primeira semana como Papa, Leão XIV já teve encontros com jornalistas e informou que está a ponderar uma viagem à Turquia. Com 69 anos, o novo Papa celebrou pela primeira vez a oração doRegina Coelina Praça de São Pedro, no domingo, dia 11. Ainda nesse dia falou de Gaza e da Ucrânia. Aos fiéis disse: "Trago no meu coração o sofrimento do querido povo ucraniano. Que se faça tudo o que for possível para alcançar uma paz autêntica, justa e duradoura o mais rapidamente possível. Que os prisioneiros sejam libertados e que as crianças regressem às suas famílias". O teólogo Armindo Vaz dos Santos sublinha a importância das mensagens deste Papa.
Papa Leão XIVAP Photo/Andrew Medichini
Como analisa a eleição do Papa?
Tendo em conta os principais e reconhecidos problemas da sociedade de hoje, como o do desejo e da procura da paz, a urgência de integrar os migrantes na sociedade e a necessidade de construir pontes de ligação entre sensibilidades e interesses diferentes, este Papa parece a pessoa certa no lugar certo. Por isso, tem sido recebido com entusiasmo e fervor por diferentes sectores da sociedade entre crentes e não crentes. Em geral, parece ser bem recebido no interior da Igreja.
A intuição sócio-religiosa e a razão invisível e coletiva dos cardeais eleitores em conclave parecem tê-los orientado para o perfil adequado do Papa no momento atual. Se o mundo em geral desejava a continuidade da ação do papa Francisco, a eleição centrada no cardeal Prevost aponta para a continuidade e não para a rutura, embora se notem já algumas diferenças de estilo.
Qual será o maior desafio do novo Papa?
Leão XIV vai ter de enfrentar desafios globais num mundo marcado por inseguranças e conflitos bélicos mundiais, que geram problemas humanitários cada vez mais inadiáveis, como é o da pobreza extrema e o das migrações nalgumas áreas geográficas do planeta. A necessidade evangélica de atenção indeclinável às pessoas e às suas carências não deixa escolha ao novo Papa. Exige uma resposta corajosa concertada e articulada, que ou resolve os três grandes problemas (guerra, pobreza e migrações) ou não resolve nenhum.
A dimensão institucional da Igreja enfrenta uma crise de fundo. Apesar de o número de católicos ter aumentado, as vocações para a vida consagrada, sacerdotal e religiosa têm tido grandes quebras, sobretudo na Europa. No mundo ocidental, as gerações mais jovens desconhecem a mensagem essencial do cristianismo, abandonando a prática religiosa. Ao novo Papa exigem-se mudanças profundas no seio da Igreja. E o anúncio da mensagem cristã não poderá ter receio de inovar, internamente para dentro da Igreja e na relação com a sociedade. A Igreja tem consciência de poder oferecer ao mundo uma mensagem com conteúdos que dão sentido à vida humana. É preciso mais do que diplomacia: é precisa uma voz profética convincente, que no relacionamento com o mundo consiga superar os interesses de grandes poderios internacionais, sem medo de ser incómodo para os poderosos.
"A dimensão institucional da Igreja enfrenta uma crise de fundo. Apesar de o número de católicos ter aumentado, as vocações para a vida consagrada, sacerdotal e religiosa têm tido grandes quebras"
Armindo Vaz dos Santos
Por outro lado, a doutrina da Igreja sobre um "pecado original", um pecado cometido pelos supostos "Adão e Eva", que Deus bondoso não teria perdoado (por que não?!) mas até teria castigado o casal e os descendentes até ao presente com o sofrimento, com as penas da vida e com a morte é uma ideia sombria que continua a habitar o imaginário colectivo, mesmo em pessoas com elevada formação intelectual. Dá a impressão de que as duras contrariedades e desgraças que acontecem no mundo seriam o resultado de uma fatalidade acontecida nas origens da humanidade e que a morte de Jesus teria sido uma resposta ao pecado como recurso de emergência para reparar uma avaria do ser humano fatalmente acidentado. A Igreja não pode continuar a passar ao mundo essa ideia, que gerou ateus, agnósticos e indiferentes, mas que nem tem fundamento na Bíblia. Um Papa que vem da Ordem de S. Agostinho teria um gesto significativo, de consequências positivas para a Igreja, se a pusesse a refletir sobre esta questão, que diz respeito à vida das pessoas, mais do que parece.
O que significa a escolha do nome de Leão XIV?
A escolha do nome Leão para Papa remete-nos diretamente para Leão XIII, que pôs as bases para a doutrina social da Igreja nos tempos modernos, especialmente com a sua histórica encíclica Rerum novarum (Das coisas novas). Com a escolha desse nome, Leão XIV parece garantir a desejada continuidade à doutrina social da Igreja fomentada por Francisco. Mas, pode ter pensado ainda no Papa S. Leão Magno, um dos mais importantes pontífices da história cristã, doutor da Igreja, conhecido na história também por ter encontrado Átila no ano 452, tendo-o convencido – segundo a tradição – a não invadir Roma. Essa intenção na escolha poderia sugerir o propósito de trabalhar pela paz entre os povos.
Acredita que irá continuar o legado do papa Francisco?
Pelo menos em alguns pontos do seu pensamento, Leão XIV parece querer dar continuidade à herança recebida do Papa Francisco: ele procura para a sua ação humanista inspiração no evangelho de Jesus e favorece o acolhimento e a integração dos migrantes nos países por eles procurados. Aliás, o seu compromisso social está selado pela sua ação missionária em várias dioceses do Peru. O facto de ter lidado com muitas e várias lideranças da Igreja (bispos, sacerdotes, missionários, diáconos, leigos, catequistas…) em diversas geografias deu-lhe uma visão global do caminho que o compromisso sinodal da Igreja pode fazer, em linha com o trabalho começado por Francisco. E a causa da paz, fundamental na mensagem do papa Francisco, parece que vai ser uma bandeira bem levantada por Leão XIV, como se nota do seu discurso feito na saudação aos fiéis congregados na Praça de S. Pedro logo depois da eleição.
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