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Facebook e Instagram preparam-se para "libertar os mamilos"

Márcia Sobral
Márcia Sobral 18 de janeiro de 2023 às 15:40
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Algumas plataformas estão a avaliar a mudança dos padrões comunitários de nudez e atividade sexual de forma a não "impedir o direito de liberdade de expressão das mulheres, pessoas transexuais e não binárias".

A discriminação mamária nas redes sociais pode ter os dias contados. A Meta, empresa que detém redes sociais como o Facebook e o Instagram, prepara-se para fazer uma revisão das regras com vista a permitir a partilha de qualquer mamilo adulto nas suas plataformas.

Monashee Alonso/Getty Images

Se antes os homens já podiam exibir fotografias ou vídeos do peito sem qualquer pudor, agora as mulheres também o poderão fazer, segundo nota oThe Guardian. Esta decisão surge depois de mais de duas décadas de contestação e da criação do movimentoFree the nipple(em portuguêsLibertem os mamilos).

Depois de uma reunião que decorreu esta segunda-feira, o conselho de supervisão da Meta - um grupo que não reúne apenas os cargos mais altos da empresa, mas também académicos, políticos e assessores de comunicação -, acabou por considerar que esta política "impedia o direito de liberdade de expressão das mulheres, pessoas transexuais e não binárias".

No fundo, reconheceram que as práticas usadas eram "pouco claras" e baseadas numa "visão binária de género" que apenas conseguia aceitar dois tipos de corpos: o feminino e o masculino.

Assim, acabaram por votar numa alteração dos "padrões comunitários de nudez e atividade sexual" para adultos, de forma a respeitar "os padrões internacionais de direitos humanos" e a dar resposta a um pedido antigo.

Tudo começou depois de há mais de uma década um grupo de mães ter-se reunido à porta da sede do Facebook para dar de mamar aos seus filhos, num protesto claro contra as proibições impostas pela plataforma.

O movimentoFree the Nippleacabou por se tornar popular em 2013 e acabou por reunir o apoio de milhares de pessoas, entre as quais algumas celebridades como Rihanna, Miley Cyrus e Lena Dunham. A cantoraMadonna foi também uma das figuras que reagiu com indignação depois de ver um conjunto de fotografias suas, em que surgia com o mamilo exposto, serem eliminadas do Instagram por "violarem a política de nudez da rede social". Já Pedro Almodóvar foi confrontado com várias imagens do cartaz do filme Madres Paralelas serem retiradas por incluirem um mamilo feminino.

Redes Sociais / Twitter

Ainda assim, a medida pode ter demorado vários anos mas o conselho de supervisão da Meta acabou por ceder e esta segunda-feira disse estar "constantemente interessado em melhorar as políticas de forma a tornar as plataformas mais seguras para todos".

"Sabemos que podemos ainda fazer mais para apoiar a comunidade LGBTQ+ e que para isso temos de trabalhar com especialistas e ativistas de forma a melhorarmos os nossos produtos", esclareceram em comunicado.

Mas apesar desta resolução, a empresa tem agora 60 dias para responder de forma positiva ou negativa às recomendações. Porém, a Meta já "saudou esta decisão" pelo que se espera que tenha um parecer favorável.

A grande questão que se coloca é como é que os algoritmos vão conseguir distinguir os conteúdos permitidos dos ilegais. Se analisarmos casos práticos, uma fotografia de uma mãe a amamentar ou de um adulto emtoplessé bastante diferente de uma imagem de uma trabalhadora sexual ou de uma criança. No fundo, falamos de uma questão tão simples como a distinção dos conteúdos que podem ou não ser considerados pornográficos, mas que acaba por ser bastante complexa para empresas que funcionam maioritariamente através da Inteligência Artificial.

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