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As aventuras dos portugueses em África depois da descolonização

Ana Taborda
Ana Taborda 08 de julho de 2020 às 18:00

Foram presos, torturados e alvo de simulações de fuzilamento. Numa Luanda em guerra civil, um ministro "importado" habituava-se a reuniões com armas na sala e havia quem lavasse os dentes com restos de cerveja e em Maputo contratavam-se criados para irem para as filas de comida da cidade.

Manuel Resende de Oliveira ainda hoje guarda, orgulhoso, o seu primeiro bilhete de identidade angolano. Foi o primeiro português a recebê-lo e um dos primeiros cidadãos do novo País - o seu BI tem o número 17. Quando se aproximou o dia da independência eu era o único ministro português [no governo de transição]. Tive uma conversa com uns elementos do MPLA e pedi para porem alguém ai oé de mim para explicar como se geriam as coisas, no fundo, para passar a pasta. Foi aí que me disseram: 'não é preciso, já temos ministro' Eu? Mas eu sou português. 'Não faz mal, a gente trata disso.'" Até ao início de dezembro de 1975, e apesar de continuar a ir todos os dias para o gabinete num Fiat 127, Resende de Oliveira, que se habituara a conselhos de ministros com ministros armados, não era oficialmente do Governo: só seria nomeado depois de lhe ser concedida a nacionalidade angolana, o que o obrigou a abdicar da portuguesa. 

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