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Entrevista de vida

Garcia dos Santos: “Sempre fui de resolver os problemas à facada”

18.11.2019 20:40 por Maria Henrique Espada 16
Esteve na Guiné, em Angola, no 25 de Abril e no 25 de Novembro, e foi dos primeiros - talvez o primeiro - a fazer com estrondo uma denúncia de corrupção numa empresa pública.
  • 1680
Deixou Mário Soares de mão estendida, disse a António Ramalho Eanes as queixas que tinha, deu ordem de prisão a um general e a um amigo, usava a bofetada como disciplina. Uma vez exoneraram-no, noutra bateu ele com a porta. Nunca deixou nada por dizer.

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Na sua família não havia nenhum militar. De onde é que lhe veio essa ideia?
A ideia de ir para a Escola do Exército surgiu-me já no 7º ano. No liceu, e às quartas e sábados de manhã tínhamos atividades da Mocidade Portuguesa: e uma das áreas era a Milícia, que eram já os rapazinhos com 16, 17, 18 anos, com uma instrução já quase militar. E comecei a gostar. Acabei por escolher a vida militar, concorri à escola do exército.

Percebia o que era? Falava-se de política em sua casa?
Em casa não, mas o meu pai tinha um grupo de amigos do reviralho, que conviviam muito numa loja no princípio da Rua do Ouro, que era de um amigo do meu pai. Todos os dias se juntavam ali ao fim da tarde, a discussão era sempre sobre política. E contra o Estado Novo. Mas só isso.

Cresceu em Lisboa, no Bairro Alto. Já lá voltou?
Nasci em casa, na Rua da Barroca, nº 4, 4º andar, e vivi lá até aos 18 anos, depois só lá ia almoçar, enquanto os meus pais lá viveram. Aqui há dois anos decidi, "tenho de ir lá ver como é aquilo". Não queira saber o choque que eu tive! Numa das ruas o chão estava tapado de copos de plástico, garrafas de plástico… tudo coberto, não havia um buraquinho [risos]. Chocou-me profundamente.

Brincava nessas ruas?
Ah, não. A miudagem jogava à bola na rua, aquilo era muito pacato. Agora, nós éramos classe média, e a minha mãe não lhe passava pela cabeça deixar-me ir para a rua.

Era miúdo muito protegido?
Era. Fiz a escola primária no colégio Caliponense, que é perto da Academia das Ciências. Depois fui para o Passos Manuel. Mas aí tive um ano complicado, dos 14 para ao 15 anos.

Um casal apaixonado contra Salazar

Tinham passado 50 anos desde a noite em que, pela primeira vez, viu Sophia de Mello Breyner Andresen dizer um poema, junto à fonte do jardim da tia-avó dela no Campo Grande.




Porquê?
Tive sarampo, na altura do Natal, e depois um problema de pulmões. Eu num ano cresci 15 centímetros, uma brutalidade, e todo o meu físico se ressentiu. Tive o que se chamava uma fraqueza pulmonar. O médico disse à minha mãe: "Têm que optar. Se continuar a estudar, corre o risco de se ir embora!" Fiquei em casa e perdi esse ano. E depois fui viver para fora de Lisboa. Tenho uma irmã mais nova e em miúda também teve um problema pulmonar. O médico aconselhou o meu pai a irmos para os arredores, na zona de Montachique, Malveira, que era propícia para tratamentos desse tipo. O meu pai comprou uma moradia na Venda do Pinheiro, que acabou por ser a nossa casa de férias.

O seu pai era comerciante. Viviam confortavelmente?
Sim. Éramos classe média. O meu pai nasceu numa aldeia na serra da Estrela, Lagarinhos, e com 12 anos veio para Lisboa para marçano. Levou uma vida desgraçada. Com 12 anos, dormia sozinho em cima das sacas de batatas. À medida que cresceu passou a ser comerciante e teve várias lojas em Lisboa, vivia razoavelmente. Nunca tive uma vida má.

Como é que no exército vai parar a Engenharia?
Tínhamos um primeiro ano que era o de curso geral preparatório, equivalente ao primeiro ano da Faculdade de Ciências. A seguir, tínhamos de escolher a arma para onde pretendíamos ir: infantaria, cavalaria, artilharia, ou engenharia. Foi por gosto. No curso da Amadora éramos 173, cinco escolheram engenharia. Fomos fazer os preparatórios [na Faculdade de Ciências] e só fiquei eu. Do meu curso, sou o único de engenharia.

Teve boas notas?
Tive, mas não vale a pena falar disso.

E, terminado, é mobilizado para a Guiné. Foi difícil?
Estava no tirocínio, na escola prática de Engenharia, em Tancos e fui mobilizado para chefiar a delegação do serviço de Telecomunicações Militares na Guiné. Eu não fazia a mínima ideia do que era esse serviço, telefonei para o meu professor de Transmissões da Escola do Exército. Ele disse-me, isso é o serviço que faz as ligações entre as unidades fixas. Tinha 26 anos e fui chefiar uma unidade com 80 homens para montar as ligações entre Bissau, Bafatá, Bula, Tite… onde estavam os batalhões. Andei de picareta a cavar para meter fio telefónico. Foram dois anos diabólicos.

A sua mulher depois foi lá ter, tinha casado antes, por cá. Como é que aconteceu?
Casei com 24 anos. Na Venda do Pinheiro, no último domingo de Agosto, era a festa de Nossa Senhora do Monte do Carmo. No largo da feira, no meio, havia uma pastelaria com um terraço por cima, onde o pessoal que tinha casa de férias na Venda se juntava para dançar, porque cá fora era o pessoal saloio [risos]. Eu estava lá em cima e vejo lá uma rapariguinha que me caíram os olhos nela. Fui-lhe perguntar se queria dançar. "Não danço com desconhecidos." Ah estupor, pá! Mas estava lá uma colega minha da Faculdade de Ciências que eu tinha visto a falar com ela. Disse-lhe que a queria conhecer e ela apresentou-nos. E eu: "Agora já não somos desconhecidos." E fomos dançar. Soube onde ela morava em Lisboa e começámos a namorar.

E ela vai para a Guiné já com um filho.
Casámos em 1961, a igreja dos Anjos e o meu primeiro filho nasceu 9 meses e cinco dias depois de termos casado [risos]. Foi depois. Ele nasce em setembro, eu sou mobilizado em novembro e saio de Portugal em dezembro. Primeiro fui sozinho.

Era um choque cultural para quem saía daqui?
A Guiné na altura era muito primitiva. Mas não havia guerra ainda. Vivi na messe uns tempos, depois entretanto quando foi a família aluguei casa em Bissau.

Apanhou o início da guerra, em 1963. Como é que percebeu que tinha começado?
O primeiro quartel atacado pelos turras - como eram conhecidos na altura - foi o de Tite, a uns 20 km de Bissau. Foi ao princípio da noite e em Bissau ouviam-se os morteiros e viam-se os clarões. Foi um período mau. Uma vez por mês, pelo menos, tinha de dar a volta aos quartéis para orientar as coisas - mas ia muito mais. Uma vez cheguei a um quartel - eu era meio chanfrado… - de jipe, a conduzir só com um soldado ao lado, e o comandante do quartel ia-me batendo. Quando regressei mandou um pelotão, 30 homens a fazer escolta, desde Bula. O problema eram os ataques nas picadas e sobretudo as minas. Passei por um sítio que estou convencido de que era uma mina, que não rebentou. Por isso ainda cá estou.

Nunca esteve em combate?
Não, nunca. A minha arma não era de combate.

Os milhões gastos por Salazar para branquear o regime

No Verão de 1955, o fotógrafo Henri Cartier-Bresson esteve em Portugal. Era já uma estrela e registou algumas das mais icónicas imagens do País da década de 50. E, até agora, o que se sabia era apenas isto. De resto, nem seria de estranhar que Bresson, que viajou por todo o mundo como fotógrafo, se tivesse lembrado de vir a Portugal.




Como é que via, e os seus colegas, a questão da guerra colonial, do ponto de vista político?
Nessa altura, as coisas não eram da compreensão dos militares. Eram raros os que tinham formação política para entender que a guerra colonial era uma coisa contestável e que podia ter sido evitada. No meu curso da Amadora, em 1953, havia um homem de quem passei a ser amigo do peito, o Melo Antunes, com cultura política. Vivíamos na mesma camarata. O Melo Antunes, o Loureiro dos Santos, o Espírito Santo, o Tomé Pinto, o Eanes, era tudo gente desse curso. Tínhamos alguma discussão sobre o problema da guerra colonial, no sentido de que era evitável. Poderia ter sido evitada pelo Salazar logo na década de 50. Ele sabia, até o conheci pessoalmente…

Como é que o conheceu?
Por causa das comemorações henriquinas nos anos 60, estive na comissão que tratou a parte militar. O olhar dele era terrível, quase nos perfurava. Na década de 50, com o que se passava nos países colonizadores que já se tinham predisposto à descolonização, ele sabia perfeitamente que a nossa era inevitável. E, com o relacionamento, como mais ninguém tem, com aqueles povos, a descolonização teria sido pacífica. Evitavam-se os 30 mil mortos, as famílias que se destroçaram...

Volta a Portugal e tem uma segunda missão em Angola: aí já com guerra a sério.
Sim. Estive em Luanda, nas transmissões de campanha. Quando começou a guerra colonial, as transmissões de campanha usavam os equipamentos americanos da guerra de 39-45, com 20 anos, ultrapassadíssimos. Imagine um emissor-recetor, que vai para as operações, com 50 quilos, mais baterias, antenas, etc... e ninguém nos vendia equipamentos, aos colonizadores.

E arranjou alguma coisa?
Foi a África do Sul o único país que nos forneceu equipamentos. Pesavam 9 quilos e meio. Mas mesmo assim houve um militar que se me saiu com esta: "Ao fim de 5 km cai a vírgula e ficam 95 kg."

Quando volta para Lisboa, em 1970, deixa os quartéis.
Sim. A minha unidade era o Batalhão de Telegrafistas, na Graça. Estava saturado da vida condicionada nas unidades, entrava às 8 e saia às 10, meia-noite. Concorri a professor catedrático da Academia Militar.

É daí, já senhor professor, que vai parar ao movimento de capitães. Era mais velho do que a maioria deles. Como é que isso aconteceu?
Eu já era velhote. Já era tenente-coronel, eles tinham 27 ou 28 anos, eu tinha quase 40. Foi simples, há um oficial de transmissões que estava nas reuniões dos capitães que um dia vem falar comigo e me pergunta se eu não quero pertencer àquele grupo de militares, contra o regime. "Entro já." Era do reviralho, das conversas com o meu pai...

Não hesitou, não teve dúvidas?
Nada. Nenhumas dúvidas. O problema não se resolvia de outra maneira. Até o Spínola já tinha escrito que a guerra colonial tinha que se resolver politicamente. Aderi logo. Quando se avança para uma operação, o Otelo é indicado para a planear e como nos conhecíamos muito bem, veio ter comigo para ver se eu organizava as transmissões. Ele faz a ordem de operações, entrega-ma 15 dias antes do 25 de Abril e eu faço o anexo de transmissões, para ser transmitido a todas as unidades. E no 25 de Abril fico encarregado de coordenar as transmissões. É daí que nasce o posto de comando da Pontinha, onde estive. No dia 23 levei o material.

Onde é o foi arranjar?
Eu era professor de transmissões da Academia Militar: tinha lá esse material todo. Fui roubá-lo. Roubei tudo: postes, antenas, aparelhos emissores. Dia 23 montei tudo, é o dia de anos da minha irmã e já tinha ficado umas duas ou três noites sem dormir. Havia um jantar e cinema, no São Jorge.

E viu o filme?
Assim que se apagaram as luzes adormeci. A minha mulher deu-me uma cotovelada, "já acabou, vamos embora". Nem sei que filme foi.

A sua mulher estava a par do que andava a fazer?
Nada. Essas coisas ninguém sabe. Eu conhecia a filha do Barbieri Cardoso, subdiretor da Pide, que era mais ou menos da minha idade. E ela antes do 25 de Abril convidou-me para os anos dela, em casa. É claro que o pai estava lá. A meio do jantar, chamou-se de parte e disse, "oh Amadeu, diz que há para aí umas reuniões de militares... você sabe alguma coisa disso?" E eu: "Não. Nem nunca ouvi falar disso." Já estava até aqui [aponta para o topo da cabeça].E dia 24, às 11 da noite, lá fui. O esquema estava montado em todas as unidades que iam intervir e tinha montado um sistema de escuta às transmissões do inimigo. Tinha uma escuta sobre a rede da PIDE, da GNR, da PSP... Eu na unidade de telegrafistas conhecia toda a gente, pus aquela malta toda a funcionar comigo. E como tínhamos acesso à rede telefónica civil, montei lá uma escuta. Escutava os telefones civis que fosse preciso. A certa altura, às 3h da manhã, há uma chamada entre o ministro da Defesa e o ministro do Exército. "O senhor Presidente, almirante Américo Tomás, vai para Tomar… mas ele não quer levar ninguém, quer ir sozinho… não há problema, está tudo calmo…" E nós tínhamos as unidades todas, mas todas, na rua. Ainda ninguém tinha dado por nada.

Nunca teve medo de que corresse mal? O golpe das Caldas, pouco antes, correu mal.
Na guerra tudo pode acontecer. A a gente parte do princípio de que vai correr bem, mas tem de estar preparada para que corra mal. As Caldas é uma iniciativa de gente que sai do regimento sem nada organizado, deu asneira. Uma operação militar tem de ser preparada. E nenhuma tem êxito se as transmissões não funcionarem. Lixam-se todos.

Ano e meio de pois está noutra operação. O que é que correu mal na primeira, para que a segunda fosse necessária?
Notei logo uma coisa quando fui à Cova da Moura [onde se juntaram os revolucionários após o 25 de Abril]: havia lá fulanos em bicos de pés e que nunca tinham feito nem preparado aos molhos. Há esse feitio português: somos excelentes executantes, mas na organização… E aparecem uma data de oportunistas, torna-se tudo uma rebaldaria. Uns querem fazer uma coisa, outros outra, outros outra… e veio o PREC, que foi terrível. E havia um conjunto de pessoas, já com algum calo e idade, o grupo dos 9, que começou a pensar como pôr as coisas nos eixos. Eu não pertencia, era o décimo.

É Eanes que o chama para o 25 de Novembro?
O grupo dos 9 entrega ao Eanes as operações militares e ele junta uma série de pessoas com quem já tinha trabalhado. Aí foi diferente. No 25 de Abril as transmissões foram todas de caráter militar, no 25 de Novembro usei as da GNR. Junto ao regimento de comandos havia um jipe da GNR, com postos de rádio, onde eu estava a funcionar. Entrei numa rede lá de cima, da Região Militar do Norte, há uma unidade que quer vir por aí abaixo fazer disparates contra os paraquedistas, e disse, "não, já não é preciso nada, podem voltar para trás, voltem para o quartel." [risos]

E nas noites anteriores dormiu?
A tensão é tão grande que a gente nem sequer tem sono. Nem sabe a que horas é que está.

A proximidade com Eanes leva-o à casa militar do primeiro Presidente. Já não era só uma função militar, foi fácil convencê-lo?
Nós éramos muito amigos, ele não perguntou, disse "vais ser chefe da minha casa militar". Eu não era só isso, mas participava nas reuniões com os partidos, com os sindicatos e outras - estive em 79.

E nunca teve tentações políticas? Vários militares do 25 de Abril e 25 de Novembro tiveram depois uma carreira sobretudo política.
Eu nunca gostei, não gosto, nem tenho feitio para a política. Não pode imaginar as pressões que sofri, sendo chefe da Casa Militar do Eanes, para me candidatar à Presidência da República (PR) - até do próprio Eanes. E de partidos políticos, entre os quais o PCP. O Álvaro Cunhal chamou-me para me tentar convencer a candidatar-me. E eu, não, não e não. Mas o que passei para dizer que não...

Quando depois se tornou chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), foi vítima da política. Soares decide exonerá-lo para mostrar força perante Eanes.
Nunca gostei do sr. dr. Mário Soares. E até lhe mostrei isso publicamente uma vez de forma diabólica.

Que é que lhe fez?
Ele quando era Presidente condecorou o Loureiro dos Santos, meu grande amigo. E ele convidou-me para ir à cerimónia. Já estava na reserva, mas fui fardado, de propósito. Estavam centenas de pessoas para os cumprimentos no final e pus-me no primeiro lugar da fila. Acaba a cerimónia, ponho-me diante do dr. Mário Soares, ele estende-me a mão, eu ponho-me em sentido militar, a olhar para ele, ele de mão estendida. Foi um silêncio sepulcral naquela casa. O Presidente de mão estendida e eu marimbando-me para o senhor. Virei-me, dei um abraço ao Loureiro dos Santos e disse alto e bom som: "Venho aqui exclusivamente por tua causa." No almoço que houve lá a seguir, que eu não fui, discutiu-se se me deviam mandar prender por desrespeito ao PR.

Freitas do Amaral e Mário Soares, inimigos íntimos

Provinham de genealogias políticas contrárias: Freitas do interior do regime e Soares da oposição. Em 1976, Soares visitou Freitas, que estava em casa, de cama, com uma hérnia discal, para lhe apresentar o seu I Governo Constitucional.




Sentiu-se injustiçado pela exoneração de CEME? Alguma vez falou disso a Soares?
Uma vez perguntei-lhe: porque é que fez isso? "Isso são razões políticas que não se explicam." Calculo que tenha sido para chatear o Eanes, dada a minha relação com ele.

E ainda lhe acontece uma segunda, depois não é colocado.
Sim, estive 11 anos sem ser colocado. E aí a culpa também é do Eanes e eu já lho disse. Ele sempre que tinha de substituir um chefe militar só o fazia quando sabia antes qual era o destino de quem saía, e a mim não, manda-me embora, dá-me um pontapé no rabo e nunca fez esforço nenhum para que eu fosse colocado.

Como é que ficaram as suas relações com Eanes depois disso?
Como antes. Mas há sempre pedras no sapato. Ele sabe isso muito bem.

Como é que foi a sua vida nesses 11 anos em que não foi colocado?
Foi a forma de eu trabalhar a 100% como engenheiro civil, trabalhei em empresas, fiz obras. Ainda fui presidente da JAE.

Foi João Cravinho, ministro das Obras Públicas de Guterres, que o convidou, em 1997. Tinham sido colegas no Técnico, mas mesmo assim não correu bem.
Sim, ele convidou-me e disse-me para quê: "Limpar e arrumar a casa, pôr na rua os que não prestam." Foi a missão que levei. Corri as casas todas da JAE, de Caminha a Faro, a sede, fui perceber como aquilo funcionava. Depois fui ao ministro e disse-lhe, "tenho aqui 11 nomes da JAE que têm que ir para a rua". Torceu-se todo. Porque era por ali que saía o dinheiro e as influências, para todas as empresas, para os partidos políticos. E o Cravinho sabia isso perfeitamente, e se corresse com aqueles indivíduos acabava a fonte. Disse-me que não podia ser. Bem, pedi a exoneração e assinei-a logo ali à frente dele.

Houve uma sindicância à JAE e uma comissão de inquérito. Na altura deu uma entrevista ao Expresso a denunciar financiamento partidário. Não era segredo.
Pois. Mas era conhecido de toda a gente lá dentro o que é que se passava. O senhor ministro não quis resolver o problema.

Na comissão parlamentar contou que percebeu que isso existia porque alguns empreiteiros lhe contavam para onde ia o dinheiro.
Pois. Mas hoje em dia Portugal está muito pior do que nessa altura em termos de corrupção. Não há corrupto a sério que apanhe uma castanha. Não se cortam cabeças. Se aquele roubou e não lhe aconteceu nada, também vou roubar. O problema não é de agora, nem era daquela altura, já vinha de longe e não para. Se não houver uma faca a cortar a sério não se resolve.

João Cravinho, mais tarde, já com Sócrates como primeiro-ministro, apresentou um pacote de medidas anticorrupção…
…sim, eu até pensei, "agora é que te estás a mexer"?

…que não chegou a lado nenhum.
Claro! É bem feito, ele sabia o que se passava e sabia o que me tinha feito quando eu lhe pus a mesma questão.

Aconteceu-lhe o mesmo a ele…
…que me tinha feito a mim, claro. Pode perguntar-me, já que coloco as coisas assim, se na vida alguma vez tomei atitudes em que resolvesse os problemas à facada? E eu posso dizer-lhe: eu sempre fui de resolver os problemas à facada. Enquanto fui oficial pequenino, no quartel, os problemas que resolvia era à chapada. Bofetada. Eram miúdos que não sabiam o que era a vida e nesse tempo qualquer castigo oficial ia para a caderneta e era um prejuízo para toda a vida para aqueles rapazes. Sabendo isso, não resolvia assim. E dizia-lhes.

Quando fui CEME, dei prisão a duas pessoas. Uma, meu amigo do peito, tinha feito o 25 de Novembro comigo, o Jaime Neves. Dei-lhe 10 dias de prisão. Fui ameaçado de morte em telefonemas anónimos, vários. Outro foi o senhor general Carlos Azeredo, levou 10 dias de prisão. Escreveu-me uma carta - ele tinha a mania de escrever cartas a toda a gente - quando fui nomeado CEME a chamar-me… enfim, que eu não era capaz nem tinha competência para CEME. 10 dias de prisão para o senhor general.

E o Jaime Neves?
Ele era coronel e tinha de ir fazer o curso de promoção a general e não quis fazer. Veio-me aqui a casa explicar porque não queria. E eu disse-lhe, "olha, tenho pena, acho que devias fazer, mas tu é que sabes". Passado algum tempo, num jantar na Casa do Alentejo, com centenas de gajos e jornalistas de todo o lado, ele tem a lata de dizer que tinha vindo falar comigo e que eu lhe tinha mentido! Mentido! Saiu no jornal em parangonas. Claro que era mentira que eu lhe tivesse mentido. Dez dias de prisão. Isso não é coisa que se faça.

Tem 4 filhos. Tem netos?
Tenho 3.

Acha que eles têm a noção do que foi o papel do avô?
Não sei. Nunca lhes pergunto nem quero saber.

Não costuma falar disso com eles?
Não. Não quero que eles pensem que estou a forçá-los a querer saber a história do seu avô. Hão de saber que eu fiz algumas coisas, se tiverem curiosidade têm sítio onde ir ver.

Artigo publicado originalmente na edição 797 da SÁBADO, de 8 de agosto de 2019.

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Junto ao presépio de croché de Clemência cabem Agostinho da Silva e Einstein

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10.12.2019 13:39 por Lusa
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