Depois das 12 semanas, a interrupção voluntária de gravidez só será autorizada se existir risco grave para a vida ou saúde mental da mãe, ou se for identificada no feto uma anomalia que provavelmente leve à sua morte antes ou logo após o nascimento.
A Irlanda despertou para mudar a Constituição, que dava à criança por nasceu e à mãe o igual direito à vida, em 2012. Foi esse o ano em que morreu Savita Halappanava, de 31 anos. Sofreu uma infecção grave – que originou o choque séptico que a matou – depois de lhe ter sido negada uma interrupção da gravidez no hospital universitário de Galway.
No dia 21 de Outubro de 2012, Savita encaminhou-se ao hospital devido às intensas dores de costas que sentia. Estava grávida de 17 semanas e os médicos concluíram que um aborto era inevitável. Porém, não o podiam induzir, justificando-se com a lei irlandesa, e quiseram esperar até ao aborto espontâneo.
Savita e Praveen, o seu marido, foram informados do risco de infecção dos tecidos fetais. Perguntaram aos médicos se não seria possível provocar medicamente o aborto, e este foi negado a Savita. O casal, originário da Índia e hindu, recebeu respostas como: "A Irlanda é um país católico."
Três dias depois da entrada no hospital, Savita já tinha uma infecção. Os médicos consideraram a hipótese de lhe dar um fármaco para induzir o aborto, mas não o fizeram. Ela sofreu um aborto espontâneo durante a tarde e foi levada para os cuidados intensivos nesse mesmo dia.
Savita Halappanava morreu no dia 28 de Outubro de 2012. "Foi o fim do mundo. Ela queria viver, ter bebés… Ainda não acredito que não está connosco. Não acreditamos que isto aconteceu no século XXI", lamentou o marido, Praveen. Antes de avançar com um processo por negligência médica em tribunal, Praveen conseguiu um acordo com o hospital de Galway e saiu da Irlanda.
Nos anos seguintes, dois inquéritos ao caso concluíram que os médicos não tomaram as decisões correctas para salvar Savita.
Andanappa Yalagi, o pai de Savita, já reagiu às primeiras projecções na Irlanda. "Conseguimos justiça pela Savita, e o que lhe aconteceu não acontecerá a mais nenhuma família. Não tenho palavras para expressar a minha gratidão ao povo da Irlanda neste momento histórico", agradeceu, citado peloThe Guardian.
Hoje, várias pessoas deixaram flores e velas num memorial a Savita Halappanava, no centro de Dublin.