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Portugueses também saíram às ruas na "Tomada" de Caracas

01 de setembro de 2016 às 20:32
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Acção da oposição venezuelana para exigir a realização de um referendo revogatório do mandato do presidente contou com a participação de portugueses. Dia 7, há novo protesto

Dezenas de milhares de pessoas concentraram-se, esta quinta-feira, em vários pontos da capital venezuelana a participar na marcha "Tomada de Caracas", uma acção da oposição venezuelana para exigir a realização de um referendo revogatório do mandato do presidente, Nicolás Maduro.

Os participantes responderam ao apelo da aliança opositora venezuelana Mesa de Unidade Democrática (MUD) e começaram a juntar-se às primeiras horas da manhã em seis locais da cidade de Caracas vestidos de branco e com bandeiras da Venezuela. Muitos dos manifestantes viajaram do interior do país, apesar dos alegados constrangimentos impostos pelas autoridades venezuelanas que, segundo os líderes da MUD, restringiram os acessos à cidade e bloquearam algumas vias de circulação.

Os opositores do actual governo venezuelano exigem que as autoridades eleitorais marquem uma data para iniciar uma nova etapa de um longo processo que prevê a realização de um referendo revogatório do mandato de Nicolás Maduro. "Estamos a pressionar para que reconheçam e respeitem o direito constitucional de revogar o governo este ano", disse o presidente do parlamento venezuelano, o opositor Henry Ramos Allup, acrescentando que, mesmo que o processo esteja a ser conduzido de forma democrática e constitucional, o executivo de Maduro continua a tentar impedi-lo de qualquer maneira.

O secretário-geral do histórico partido Acção Democrática (AD) afirmou igualmente que outras acções da oposição estão a ser preparadas para pressionar o avanço do processo revogatório, medida perseguida pelas forças anti Maduro desde Abril último.

Portugueses também saíram às ruas

Dezenas de portugueses acompanharam os venezuelanos na cidade de Caracas, exigindo também eles um referendo revogatório do mandato do chefe de Estado. "Vim marchar porque quero um futuro melhor para a minha família, porque a crise se está a intensificar e não se visualizam melhoras, porque os governantes estão mais preocupados pela obsessão ideológica do que em encontrar soluções reais para a crescente degradação da qualidade de vida e do 'status' da população", disse um luso-descendente à agência Lusa.

A finalizar estudos de arquitectura, com 25 anos de idade, casado e pai de uma criança de 3 anos, Alfonso Freitas, juntou-se a outros portugueses em El Paraíso para integrar a marcha. "Sempre me abstive de participar em coisas políticas, mas não podia continuar sem levar o meu grão de areia para ver se as coisas mudam. Não é uma questão de estar ou não contra Nicolás Maduro, porque com o referendo ele pode ser afastado ou reconfirmado no poder. É uma tentativa de obrigar os políticos a abrir os olhos para a realidade, para as dificuldades do povo", frisou.

Ainda em El Paraíso, próxima de um grupo de portugueses que tinham nas mãos uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, Maria de Almeida, uma antiga professora portuguesa de 65 anos, insistia na "necessidade de uma mudança" nas políticas do país. "Vim marchar porque isto não pode continuar assim. É preciso sair deste regime que nos tem trazido crise e mais crise", salientou à Lusa.

A emigrante acrescentou que nunca viu a Venezuela tão mal nos quase 50 anos que reside no país, e disse que "acompanha" os venezuelanos para "retribuir-lhes" o aconchego recebido quando chegou a Caracas.

"Tomada" da Venezuela planeada

A oposição terminou a "tomada" de Caracas anunciando novas medidas de protesto, que incluem a ocupação de todas as cidades do país. "O que o povo venezuelano conseguiu hoje é realmente um mérito impressionante. Conseguimos derrotar o anel de ferro militar e policial que tentou travar o povo venezuelano", disse o secretário da aliança opositora Mesa de Unidade Democrática.

Jesus Torrealba falava em Caracas, na avenida Francisco de Miranda, ponto final da concentração que durou seis anos. "Esta marcha que hoje se mobilizou irá, na quarta-feira 7 de Setembro até ao Conselho Nacional Eleitoral exigindo que nos digam quais são as condições para recolher 20% das assinaturas [dos eleitores]", disse.

Jesus Torrealba anunciou ainda que depois da marcha até ao CNE, a oposição realizará, a 14 de Setembro uma "tomada" de todas as cidades da Venezuela, durante 12 horas e duas semanas mais tarde uma "tomada" do país por 24 horas.

Os "chavistas" (apoiantes do regime) foram os primeiros a concentrarem-se na capital venezuelana, na quarta-feira, em resposta a um apelo do chefe de Estado venezuelano que denunciou que sectores opositores estavam a preparar, com o apoio dos EUA, um golpe de Estado para esta quinta-feira.