Indignado com perguntas de assistentes e dos procuradores, Fernando Ulrich questionou muitas vezes o porquê de o tribunal "querer saber de um empréstimo de 100 milhões" e não de um buraco "de 20 mil milhões".
O presidente do conselho de administração do BPI, Fernando Ulrich, foi ouvido esta terça-feira no Juízo Central Criminal de Lisboa, no âmbito do processo BES/GES. Durante a sessão, Ulrich mostrou-se bastante hostil às questões do Ministério Público (MP) e dos assistentes, referindo mais do que uma vez sentir que estava a ser julgado e que o tribunal estava mais preocupado com um empréstimo de 100 milhões feito pelo BPI à Banco Espírito Santo International (BESI) do que pelo buraco financeiro de "20 mil milhões de euros" causadas pela queda do BES.
Mariline Alves/´Medialivre
Logo no arranque da sessão, Fernando Ulrich manifestou alguma apreensão em testemunhar já que não queria violar o sigilo bancário ao responder sobre empréstimos feitos pelo BPI ao BES e a outras empresas do universo GES. Questionado sobre o empréstimo feito à BESI, Ulrich teve a primeira de várias explosões, afirmando: "Não estou a ser julgado, nem o BPI está a ser julgado! Por isso, para que serve essa pergunta?". Ulrich voltou a mostrar preocupações com uma possível violação do sigilo bancário e questionou os procuradores porque razão tinha de explicar as negociações do BPI. "Ainda não percebi para que é que posso ser útil aqui", disse o administrador bancário, pergunta que repetiria mais duas vezes ao longo da sessão da tarde do quinto dia de julgamento do caso BES/GES.
A presidente do coletivo de juízes, Helena Susano, sublinhou várias vezes que Ulrich não está a ser julgado, apelando a que o chairman respondesse às perguntas que lhe eram colocadas.
Depois deste aparte da juíza, Ulrich voltou a explodir, quando a procuradora Cláudia Ribeiro o interrogou sobre o empréstimo do BPI à ESI: "Faz-me muita impressão este caminho porque o que temos perante nós é uma situação em que os acionistas do BES perderam mais de três mil milhões de euros. Sem incluir os lesados e com o que o Banco de Fomento já injetou, estamos a falar de prejuízos de 18 mil milhões de euros. E [a senhora procuradora] está-me a perguntar sobre uma relação de crédito no valor de 100 milhões de euros. Por isso, para que é que interessa isso que me está a perguntar? Eles rebentaram 18 mil milhões de euros, talvez até 20 mil milhões e está-me a perguntar sobre isto?", questionou, irritado, a testemunha.
O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.
Entre os crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete de falsificação de documentos.
Além de Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos, nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.
Segundo o MP, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.
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