Ana Paula Martins acusada de desviar as atenções de uma falha grave dos serviços públicos de saúde
A associação SOS Racismo acusou esta quarta-feira a ministra da Saúde de ter um "discurso racista e xenófobo" e de ter faltado à verdade no caso da grávida que morreu na Unidade Local de Saúde (ULS) Amadora-Sintra.
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Ministra da Saúde recusa demitir-se depois de morte de grávida
"As declarações da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, são inaceitáveis, falsas (desmentidas pela própria família) e revelam uma visão desumanizadora e profundamente racista", refere a SOS Racismo, em comunicado, em reação às afirmações da governante no parlamento durante a discussão do Orçamento do Estado para 2026.
Na passada sexta-feira, no dia em que a mulher de 36 anos morreu, Ana Paula Martins disse que a grávida não tinha tido acompanhamento prévio na ULS Amadora-Sintra e que "há mulheres que vêm a Portugal apenas para fazer o parto".
Em comunicado, o movimento considerou que essas declarações "reproduzem um discurso racista e xenófobo" e "culpabilizam as vítimas em vez de responsabilizar o Estado".
A SOS Racismo acusou também a ministra de desumanizar a situação e de desviar a atenção do que considera ser uma falha grave dos serviços públicos de saúde.
A associação sublinhou ainda que este caso "não é isolado", afirmando que a chamada "violência obstétrica" atinge especialmente mulheres racializadas e imigrantes há décadas.
"É o reflexo de um sistema de saúde marcado por desigualdades estruturais, onde mulheres negras e imigrantes são frequentemente invisibilizadas, desacreditadas e maltratadas", realçou.
A associação concluiu que este episódio espelha "um país que ainda tolera que a cor da pele e a origem determinem quem vive e quem morre", pedindo medidas concretas para combater o racismo institucional na área da saúde.
"Umo Cani [nome da grávida] não morreu por acaso. Morreu porque o racismo mata, até nos hospitais onde se devem salvar vidas. O Estado que não protege a vida de uma pessoa por ser negra é um Estado cúmplice da barbárie racista", acusou a associação, que pede um inquérito independente e a demissão da ministra.
Na passada sexta-feira, a governante disse que entre 2022 e 2025 nasceram fora do hospital (ambulância, via pública, Cuidados de Saúde Primários e domicílio), respetivamente, 169, 173, 189 e 154 crianças, sublinhando que na maioria dos casos trata-se de grávidas que nunca foram seguidas durante a gravidez, que não têm médico de família, grávidas recém-chegadas a Portugal com gravidezes adiantadas, que não têm dinheiro para ir ao privado e, algumas, nem falam português.
"Não foram preparadas para chamar o socorro. Por vezes nem telemóvel têm", disse.
Sobre o caso da morte da grávida, Ana Paula Martins citou informações do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e da ULS Amadora-Sintra, mencionando também a abertura dos inquéritos da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), referindo-se à utente como "originária da Guiné-Bissau".
Durante o debate, a governante lembrou que é natural da Guiné-Bissau e que não via "nenhum problema em referir o sítio onde as pessoas nasceram".
"Eu nasci lá porque o meu pai trabalhava lá. Nunca o escondi, bem pelo contrário. Tenho orgulho da minha infância. E, portanto, se disse duas vezes, disse a falar de alguém que é compatriota. Isto aqui é uma questão de defesa da honra. Eu só disse um facto. Esta senhora é uma senhora que é oriunda da Guiné-Bissau, que chegou aqui há muito pouco tempo, com 38 semanas de gravidez, foi a primeira vez que a vimos", sublinhou.
Na segunda-feira, no Porto, Ana Paula Martins, explicou que, quando estava no debate do OE2026 só partilhou informações recebidas da ULS Amadora-Sintra, assinalando que não comenta casos clínicos.
Nesse dia, a ministra da Saúde anunciou que o presidente da ULS Amadora-Sintra, Carlos Sá, pediu a demissão no domingo depois de ter dado informações incompletas sobre a grávida.
A bebé nasceu de uma cesariana de emergência e morreu no sábado de manhã.
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