O antigo presidente do BESI denunicou a atitude autoritária de Ricardo Salgado e diz que Carlos Costa "assobiou para o lado" quando foi informado do estado do BES.
José Maria Ricciardi, antigo presidente do Banco Espírito Santo Investimento (BESI), está a ser ouvido no Campus da Justiça, em Lisboa, sendo a primeira testemunha a prestar depoimento no julgamento do BES/GES. Apresentando várias críticas a Ricardo Salgado, afirmou mesmo que este tinha uma atitude autoritária e que era o responsável por todas as decisões estratégicas do grupo.
Paulo Calado
Na fase de identificação, Ricciardi, instado pela presidente do coletivo de juízes, Helena Susano, afirmou não ser amigo nem inimigo de Ricardo Salgado ou Manuel Fernando Espírito Santo.
Ricciardi passou então a recordar o momento em que, pela primeira vez, se desentendeu com Ricardo Salgado durante as reuniões do Conselho Superior do GES: "O Conselho Superior era, teoricamente, um lugar onde se tomavam as decisões mais importantes em relação ao grupo, tanto na área financeira como não-financeira". Na altura, o Conselho Superior era composto por António Ricciardi, Ricardo Salgado, José Manuel Espírito Santo, Manuel Fernando, Ricardo Espírito Santo Abecassis, Pedro do Amaral, Mário do Amaral e Fernando Espírito Santo, além do próprio José Maria Ricciardi.
Na primeira reunião, quando chegou ao Conselho Superior, estavam todos os membros do grupo, exceto Ricardo Salgado. "Na altura disseram que a reunião não podia começar porque o doutor Salgado não estava", decisão que Ricciardi assumiu ter sido surpreendente. "Foi um grande espanto porque, em termos teóricos, era um vogal como qualquer outro, mas mesmo assim tivemos de ficar todos à espera que o doutor Salgado chegasse", continou. "Quando o doutor Salgado chegou, em vez de começarmos a discutir os assuntos, o doutor Salgado começou a debitar o que tinha decidido fazer, o que se tinha feito e o que se ia fazer, tanto no setor financeiro como no não-financeiro. E eu então perguntei se o Conselho Superior era um sítio para discutirmos a estratégia do grupo ou se era para ouvirmos o que o doutor Salgado tinha decidido fazer. Eles ficaram a olhar estupefactos para mim e a partir daí o doutor Salgado começou a tomar-me de ponta porque viu que eu não estava disposto a ter a mesma postura que os restantes membros do Conselho", narrou.
Ricciardi afirmou não saber porque começaram a ser gravadas as reuniões do Conselho Superior. "Eu apresentei um papel para a ata do Conselho Superior a dizer que não tinha qualquer conhecimento daquilo [buraco financeiro] e que queria que se fizesse uma auditoria", acrescentando que depois desse momento, José Castella começou a aparecer nas reuniões com um gravador e a gravar as mesmas.
"Havia um grupo de trabalho que descobriu isto [o buraco financeiro] e disse que as contas de 2012 tinham uma diferença de 1.200 milhões de euros no passivo e, mesmo assim, Machado da Cruz disse que em 2013 ainda havia por cima mais não sei quantos mil milhões, o que fazia que o passivo não fosse uns três mil milhões mas uns sete mil milhões. Para quem percebe a área, via que estávamos completamente insolventes", reconheceu.
Mais tarde, ao falar sobre as contas do banco, Ricciardi afirmou mesmo que "o doutor Salgado fazia tudo o que lhe apetecia e sobrava-lhe tempo", sendo que as decisões não eram do conhecimento dos restantes acionistas e seus representantes. Em outubro de 2013, antes de saber da falsificação das contas, Ricciardi apresentou um documento onde propunha "que o doutor Ricardo Salgado saísse". O documento estava assinado por seis dos nove membros do Conselho Superior.
Ricciardi afirmou que Pedro Queirós Pereira o avisou "imensas vezes" de que o grupos Espírito Santo "estava em péssima situação", mas o ex-banqueiro desconsiderou estas declarações já que o empresário "nunca apresentou provas" e porque "andava sempre em guerras com o doutor Salgado".
Na segunda parte da deposição, Ricciardi explicou que recebeu, de fonte que preferiu manter anónima, um documento com a transcrição de uma conversa de Machado da Cruz com o seu advogado. "É um documento que é uma espécie de [transcrição] de uma conversa gravada entre o doutor Machado da Cruz e o senhor Schumer [advogado] em que explicava a verdade".
"No dia em que esse documento me chegou às mãos, eu entreguei-o ao Banco de Portugal", informou Ricciardi que acusou o então governador do Banco de Portugal Carlos Costa de ter ignorado aquilo que lhe estava a ser mostrado: "O doutor Carlos Costa assobiou para o lado". Ricciardi disse que em outubro de 2013, depois de enviar a carta ao governador do Banco de Portugal, reuniu-se com Carlos Costa que lhe disse para "estar quieto" e que "já tinha feito pessimamente em falar nos jornais porque estava a prejudicar o sistema financeiro".
José Maria Ricciardi ainda não acabou o seu testemunho, terá de regressar amanhã ao tribunal.
Ricciardi referiu ainda que o BES Angola estava em "roda livre" e que os membros da adminsitração do BES não tinham "conhecimento de nada". "Isso já está na minha carta que fiz em outubro de 2013", referiu o antigo presidente do BESI.
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